Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Preso, Cabrini se diz vítima de armação

Leia abaixo a segunda parte da seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 17 de abril de 2008


FLAGRANTE
Cinthia Rodrigues


Preso, Cabrini diz ser vítima de armação


‘Preso anteontem sob a acusação de tráfico de drogas, o jornalista Roberto Cabrini, 48, afirmou ontem que foi vítima de uma ‘armação’. Segundo a polícia, no porta-luvas do carro de Cabrini foram encontrados 10 papelotes de uma substância branca que pode ser cocaína, em um saco plástico com o logotipo da ‘Band’. Atualmente, Cabrini trabalha na TV Record.


Segundo o boletim de ocorrência, Cabrini estava com a comerciante Nadir Dias. Na bolsa dela, havia um pendrive [memória portátil de computador] com imagens em que o jornalista aparece inalando um pó branco. Ele alega que a mulher armou o flagrante para ele.


Em depoimento a policiais do 100º DP (Jardim Herculano, zona norte de SP), ele negou a acusação de tráfico e de ser usuário de cocaína. Disse ainda que Nadir era um contato dele com a facção criminosa PCC.


Ontem, ele foi transferido para o 13ª DP, na Casa Verde. A defesa dele entrou com pedido de liberdade provisória.


No termo de interrogatório, Cabrini diz que Nadir o ajudou a obter, em maio de 2006, uma entrevista por telefone com o preso Marcos Camacho, o Marcola, um dos chefes do PCC. Na época, a Secretaria da Segurança Pública questionou a veracidade da entrevista; Cabrini diz que, desde então, tenta provar que ela era verdadeira.


Segundo Cabrini afirma no depoimento, Nadir seria ligada ao tráfico de drogas e começou a desconfiar que ele faria uma reportagem sobre ela. A partir daí, teria feito ameaças e chegou a lhe apontar uma arma.


‘Com a presença da arma, fui induzido a consumir o produto que fazia parte da vida dela’, disse no depoimento, ao justificar o que aparece no pendrive. Tempos depois, Nadir, narrou Cabrini, teria concordado em assinar um documento no qual afirma que o vídeo foi produzido para uma reportagem.


Por conta do documento, Cabrini diz que voltou a manter contato com ela. Nadir, diz ele, prometeu lhe entregar vídeos com entrevistas com integrantes do PCC. Mas ela o levou ao local onde ele acabou preso.


Ontem, Cabrini divulgou uma carta. ‘Estou sendo vítima de uma armação em virtude de estar investigando assuntos que incomodam a muitas pessoas.’ Mas ele não cita quem seriam essas pessoas.


A Record, em nota, diz que o departamento jurídico da emissora acompanha o caso e que tinha um ‘registro interno de que o repórter estava desenvolvendo uma reportagem de caráter investigativo’.


O Sindicato dos Jornalistas, por meio de nota, afirma ter conhecimento de que Cabrini fazia ‘uma grande reportagem investigativa sobre tráfico de drogas’. A direção da entidade diz acreditar em sua inocência.


Colaborou RACHEL AÑON, da Agência Folha’


 


Diógenes Campanha


Para a polícia, comerciante é só testemunha


‘A comerciante Nadir Dias, que estava no carro com o repórter Roberto Cabrini, foi liberada pela polícia na noite de terça, já que, segundo policiais do 100º DP, ela era apenas testemunha do caso.


Nadir conta que mantinha um relacionamento amoroso com Cabrini havia três anos e que se conheceram quando ele fazia uma reportagem com o então marido dela, um ex-policial preso. Ela diz que tentava romper a relação, mas era ameaçada.


Cabrini, ainda segundo ela, sempre usou cocaína e obrigava o filho mais velho dela a buscar drogas para ele. Segundo ela, o repórter ameaçava denunciar o rapaz.


Diz que Cabrini a obrigou a assinar uma carta dizendo que ela era do PCC e que ele estava fazendo uma reportagem com ela, o que incluía o uso de cocaína para ‘ganhar confiança’ da facção. Nadir mostrou à Folha um vídeo em que Cabrini aparece cheirando um pó branco.


Ela diz que estava no carro de Cabrini porque eles combinaram de trocar a carta, que estava com ele, pelo pendrive que estava com ela.’


 


PARECE, MAS NÃO É
Hudson Corrêa


Políticos se aglomeram em estande que vende por R$ 20 fotomontagem com Lula


‘Na marcha dos prefeitos a Brasília, o estande que oferece uma fotomontagem com o presidente Lula por R$ 20 aglomera dezenas de prefeitos e vereadores. O fotógrafo que faz o serviço de montagem foi contratado pela Confederação Nacional de Municípios para os três dias do evento, realizado desde anteontem no Brasília Alvorada Hotel. Lula abriu a marcha.


A fotomontagem funciona assim: o prefeito posa sozinho tendo ao fundo um cartaz com o logotipo da marcha. Antes o prefeito penteia o cabelo e dá os últimos retoques na vestimenta.


No computador, técnicos cuidam de montar a foto com a imagem de Lula que está ao lado de um microfone. A fotografia do presidente foi tirada na marcha do ano passado.


A montagem faz parecer que Lula está ao lado ouvindo o prefeito discursar ao microfone. ‘Olha a fotomontagem com Lula. Quem ainda não fez, vamos fazer’, anuncia o fotógrafo Antônio Carlos Carvalho Lima, que informou cuidar do estande.


Ele disse já ter feito ao menos 200 fotos. Segundo ele, o papel fotográfico, no tamanho 15 cm por 21 cm, acabou ontem. O jeito foi oferecer montagem em papel menor, de 10 cm por 15 cm, o que interessa menos. Mesmo assim, Lima diz que ‘espera vender mais 200 fotos’.


Nos últimos três anos de marcha, Lima faz a montagem. ‘Mas esse ano, está demais. O homem [Lula] está forte’, diz, sobre o interesse por uma montagem com foto tirada ainda em 2007.


O prefeito petista Milton César Dal Asta, de Santo Antônio da Palma (RS), diz que pretende ‘divulgar a foto’ como participação sua no evento. Manuel Plácido Filho (PTB), de Machados (PE), afirmou que levará a foto apenas como recordação.


Plácido aguardou ao menos trinta minutos pela foto. É que havia dificuldade para gravar um CD. A foto arquivada no CD, com outras imagens do prefeito ou vereador, sai por R$ 70.’


 


FUTEBOL
Clóvis Rossi


O Amauri e a fama


‘ROMA – Amauri vale tanto quanto Ronaldinho Gaúcho. ‘Amauri quem?’, perguntará você, mesmo que seja fanático por futebol. Respondo: Amauri Carvalho de Oliveira. ‘Quem?’, tornará a perguntar você -e até o Paulo Vinícius Coelho, da ESPN Brasil, o jornalista que parece ter na cabeça nome, CIC e RG de todos os jogadores e clubes de futebol do mundo.


Amauri joga no Palermo, clube intermediário. Tem 28 anos, veio de um time amador de São Paulo direto para o Napoli, depois de apenas um torneio de verão, o de Viareggio, em que marcou cinco gols. Tinha 20 anos.


Vagou pela Itália toda: Nápoles, Piacenza, Messina, Verona. Esteve até em Belinzona, na Suíça italiana. ‘Parecia o clássico enganador sul-americano’, escreveu sobre seu passado o jornal ‘La Repubblica’ depois que Amauri marcou dois gols na vitória do Palermo (3 a 2) sobre a Juventus de Turim, dia 6.


Nesta temporada, Amauri, de enganador, passou a craque.


O mesmo ‘La Repubblica’ diz que, ‘hoje, o brasileiro está entre os melhores centroavantes da Itália, porque sabe fazer de tudo: tem classe e potência, espírito de equipe e personalidade’.


Na terça-feira, diretores do Palermo e da Juventus se reuniram para tratar da transferência de Amauri. O Palermo, segundo a mídia italiana, queria 25 milhões, exatamente a cifra que se diz que o Milan pagará por Ronaldinho, a respeito do qual ninguém, no mundo todo, pergunta quem?


Consta que, se for fechado o negócio, Amauri custará 13 milhões.


Mesmo assim é um saco de dinheiro para quem errou de clube em clube como anônimo, ainda mais na comparação com quem era tido como ‘mágico’ até pelo Tostão, econômico em elogios como nenhum outro cronista.


E tem gente que mata (ou morre) pela tal de fama, animal caprichoso por excelência.’


 


CASO ISABELLA NARDONI
Carlos Heitor Cony


Pavana para a menina morta


‘RIO DE JANEIRO – Não é para festejar, antes para lamentar, com aquilo que os parnasianos antigamente chamavam de ‘todas as veras d’alma’.


Há muito não tínhamos um fato policial com as características da maldade humana personificada num episódio isolado como o da menina que foi atirada da janela do prédio onde morava. Os suspeitos, até agora, são seus parentes mais próximos, o pai e a madrasta. Até o momento em que escrevo esta crônica, a polícia ainda não tinha chegado a uma conclusão. Se é que chegará a uma conclusão.


De alguns anos para cá, o noticiário policial tornou-se monótono, redundante como um filme de mocinho e bandido, um faroeste coletivo. Índios contra a cavalaria americana, que nem sempre chega a tempo de salvar o forte. Não há mistério nesse tipo de luta ou de crime, mudam-se tanto os cenários, os personagens, o número de mortos e feridos, mas o episódio em si, por mais dramático que seja, é sempre o mesmo. Culpa-se então o Estado, a injustiça social, a distribuição de renda, a corrupção da polícia.


No caso da menina morta, além do mistério até agora não apurado, os ingredientes são outros e pertencem à condição humana, cuja malignidade até hoje também não foi devidamente estudada e explicada.


Em tempos outros, anteriores à violência urbana, às balas perdidas e às tropas de elite, volta e meia havia casos assim, escabrosos. Homens que serravam mulheres e as colocavam dentro da mala ou as enterravam no quintal, tarados seriais que nem iam para a cadeia, mas para hospitais psiquiátricos -o caso de Febrônio assustou a infância de várias gerações.


Eram crimes personalizados e, por isso, mais horripilantes. Tal como o da menina que foi atirada ou caiu da janela. A culpa não é social. É dolorosamente humana.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Um oceano de petróleo?


‘Enquanto Haroldo Lima se explica na manchete do site Vermelho, do PC do B, a ‘Economist’, a ‘Forbes’, a ‘BusinessWeek’ tentam dar sentido à barafunda criada pelo diretor da Agência Nacional de Petróleo.


‘Tem mesmo um oceano de petróleo no Brasil?’, pergunta-se a ‘Economist’, com a ilustração acima. As três revistas, em textos adiantados ontem nos sites, respondem em graus diferentes que tem, sim, muito petróleo. Mas deve demorar, é de difícil acesso. Não faltam referências ao país como uma ‘petropotência’.


E agências diversas, noticiando relatório do Credit Suisse, destacaram no fim do dia a avaliação de que o campo não é tão grande, mas ‘como parte de uma área maior ele pode, de fato, conter 33 bilhões de barris’.


UMA POTÊNCIA GLOBAL


O britânico ‘Guardian’ deu página para a ‘descoberta surpresa’ que, destaca, ‘pode confundir os profetas do apocalipse do petróleo’ -que vêem a produção em queda sem fim. E o espanhol ‘El País’ deu em editorial que, se confirmado, o campo ‘fará do Brasil uma potência global’


IRÃ E AS IRMÃS


A ansiedade na mídia global diante do campo Carioca se explica pelo ‘novo recorde’, mais um, ressaltado ontem no site do ‘Wall Street Journal’.


É o que também explica a feira de petróleo que, ironiza o ‘Financial Times’, ‘poderia ser em qualquer lugar do mundo’, com estandes de Shell, Total e outras 450 companhias internacionais. ‘Mas não é qualquer lugar.’ É no Irã sob ameaças de invasão.


‘SENTADO NA SUÍÇA’


Nas manchetes de Terra, ‘JN’ e outros, a resposta de Lula ao relator da ONU que chamou biocombustíveis de ‘crime contra a humanidade’. Diz ser ‘fácil ficar sentado na Suíça e dar palpite no Brasil’. O relator Jean Ziegler é conhecido freqüentador do Fórum Social de Porto Alegre.


Ecoou no exterior, por agências, mas como uma primeira resposta do Brasil à ‘crítica crescente’ ao etanol.


TATA E A EMBRAER


Ainda ecoa com força, na cobertura de EUA e Europa, a notícia de que Brasil e Rússia vão desenvolver juntos um novo jato. Como indicou o ‘Valor’, a Embraer seria parceira do projeto. Noutro, de cargueiro militar, vai sozinha.


Mas ontem já apareceu um novo parceiro emergente para ‘a terceira maior fábrica de aviões do mundo’, em notícia do indiano ‘Economic Times’. É a gigante indiana Tata, que quer uma joint-venture para aviões comerciais.


MEIO PONTO


Nas manchetes todas à noite, da TV aos portais, o salto nos juros determinado pelo Banco Central, após semanas de pressão, de 0,5% -quando até dias antes as apostas estavam em 0,25%. O percentual apareceu on-line na véspera e foi dado por ‘bode na sala’.


E SEM NOTA


Em texto escrito de Nova York e São Paulo, o ‘FT’ diz que as ‘esperanças do Brasil’ de obter o grau de investimento ‘enfrentam obstáculo da dívida’. As agências de avaliação estariam ‘preocupadas’ com o ‘nível ainda muito elevado da dívida pública’.


CASO NOVO


No alto dos portais, nas três reportagens ‘+ lidas’ da Folha Online, em longo relato de William Bonner em pleno ‘Jornal Nacional’, a prisão do jornalista ‘da Record’ Roberto Cabrini tomou ontem o lugar que era do ‘caso Isabella’’


 


IRAQUE
Folha de S. Paulo


EUA libertam jornalista após dois anos preso


‘Libertado ontem no Iraque, o fotógrafo da Associated Press Bilal Hussein afirmou ter passado ‘dois anos na prisão mesmo sendo inocente’. O iraquiano Bilal, 36, um dos ganhadores do Prêmio Pulitzer em 2005, estava detido por suspeita de possuir material para a produção de bombas e de conspirar com a insurgência desde abril de 2006, mas nunca foi formalmente acusado. Os EUA consideram agora que ele não representa ameaça.’


 


GAZA
Folha de S. Paulo


Ataque israelense a Gaza deixa 18 mortos


‘Nos mais violentos incidentes desde o mês passado, Israel matou ontem 18 pessoas na faixa de Gaza, entre elas pelo menos 14 civis. Um dos mortos na operação era cinegrafista da agência britânica Reuters. O ataque foi desencadeado em resposta à morte, horas antes, de três soldados israelenses.


Três mortos num mesmo dia significa para Israel a maior perda desde a última guerra no Líbano, em 2006. Neste ano, o país já perdeu sete soldados, mais do que em 2007.


Apesar do saldo carregado dos confrontos, Israel permitiu ontem o reinício do fornecimento de petróleo, interrompido em 9 de abril, à única usina termelétrica de Gaza, a partir do terminal de Nahal Oz. O combustível é financiado pela União Européia.


Os três soldados israelenses que morreram pertenciam à brigada Givati, uma unidade de elite do Exército. Eles haviam penetrado em Gaza em busca de um comando radical islâmico. Surpreenderam dois ativistas do Hamas instalando explosivos na fronteira. Ao perseguirem o grupo, foram emboscados por outros guerrilheiros islâmicos nas imediações do kibutz de Beeri.


O jornal israelense ‘Haaretz’ diz que foi aberto inquérito para apurar a não chegada de reforços aos soldados envolvidos.


O Hamas, que controla Gaza desde junho do ano passado, disse que militares israelenses, apoiados por helicópteros, mataram em diferentes confrontos quatro de seus militantes perto do terminal petrolífero.


Mísseis de helicópteros


Outros 12 palestinos civis foram mortos quando um helicóptero israelense disparou quatro mísseis sobre o campo de refugiados de Bureij.


Em comunicado, Israel informou que a ofensiva tentou neutralizar um atirador. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, cinco das vítimas eram crianças com idade oscilando entre 12 e 15 anos.


Em operação separada, blindados israelenses penetraram na periferia da cidade de Gaza, onde foi morto Fadel Shana, 23, cinegrafista da Reuters, e dois civis que passavam perto do carro da agência. O disquete da câmara de Shana mostra imagens da aproximação de um tanque que atirava a uma centena de metros.


O Exército israelense publicou mais tarde comunicado em que lamenta a morte do jornalista, mas não confirma a causa da morte. Porta-voz salientou que a área em que ocorreu o incidente é palco de ‘confrontos diários com organizações terroristas’ e que a presença da mídia ali ‘é extremamente perigosa’.


Na Cisjordânia, o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina, Salam Fayyad -ele integra uma estrutura de poder rival à do Hamas islâmico- criticou a ‘truculência’ israelense, mas disse que os incidentes não comprometem as negociações com Israel para uma paz definitiva: ‘Só ela fará cessar as incursões e as matanças diárias dos israelenses’.


O ex-presidente americano Jimmy Carter chegou ontem ao Cairo para se avistar com dois dirigentes do Hamas. A missão é oficiosa, já que os EUA não têm nenhum contato com o grupo islâmico, qualificado de organização terrorista. Segundo um dos porta-vozes do Hamas, Ayman Taha, Carter pediu o encontro para conhecer as posições do grupo.


Com agências internacionais’


 


FRANÇA
Folha de S. Paulo


Le Monde deve parar de novo hoje


‘Os jornalistas do periódico francês ‘Le Monde’ decidiram fazer hoje o segundo dia de greve na semana. Com uma média diária de 354 mil exemplares, o ‘Le Monde’ planeja a demissão de 130 pessoas para sanear as contas -a paralisação é contra esses cortes. A única greve anterior no jornal fundado em 1944 ocorreu em 1976.’


 


CHINA
Raul Juste Lores


Carrefour e CNN são alvos na China de onda nacionalista


‘Um complô do Ocidente contra a Olimpíada de Pequim e o crescimento da nova potência é o assunto que domina a mídia, chats e blogs na China.


A manchete dos principais jornais estatais relatava ontem o pedido de desculpas que o governo exigiu da rede americana CNN. Ao falar dos protestos no percurso da tocha olímpica, um comentarista disse que os chineses ‘continuavam a ser os mesmos capangas dos últimos cinqüenta anos’.


O comentarista Jack Cafferty disse que se referia ao governo, não ao povo, e a CNN pediu desculpas ‘ao povo chinês’, mas o estrago já estava feito.


O celular do repórter da Folha recebeu duas mensagens pedindo o boicote à rede de supermercados francesa Carrefour. Segundo o torpedo, um dos seus acionistas, o grupo LVMH, fez doações ao dalai-lama, que pede a autonomia do Tibete e é o atual inimigo número um do regime comunista.


Usuários do msn, o serviço de conversa instantânea da Microsoft, receberam ontem correntes pedindo para digitar (L) em frente ao nome do usuário. Ao fazê-lo, um coração vermelho aparece ao lado do nome. ‘Coloque o coração vermelho para demonstrar que você está do lado da pátria. Ou você é traidor?’, dizem as mensagens.


Segundo analistas ouvidos pela Folha, há paranóia nacionalista estimulada pelo governo, que encontrou um inimigo externo para unir a nação. Mas a animosidade contra a China no exterior é real -e junta o desrespeito aos direitos humanos no país ao temor do crescente poder político e econômico chinês.


‘Complô’


O detonador para ambos os lados é a Olimpíada de Pequim, em agosto, planejada pela direção comunista como um palco para o país demonstrar seu desenvolvimento. As ameaças de boicote frustram os planos.


A agência de notícias estatal Xinhua chamou a presidente do Congresso americano, a democrata Nancy Pelosi, de ‘detestável e repugnante’, ‘por se intrometer em assuntos internos da China e defender a camarilha do dalai-lama’.


Em março, protestos no Tibete provocaram uma forte repressão do regime chinês e a presença de estrangeiros na Província foi proibida. A mídia estatal começou a acusar a imprensa ocidental de manipular informações sobre o que de fato aconteceu na região isolada, num ‘complô contra os Jogos’.


Um fórum na internet reuniu 11 mil comentários contra a cobertura do jornal britânico ‘The Times’. Dezenas deles faziam ameaças de morte à correspondente do diário. O correspondente da CNN também sofreu ameaças.


Protestos em Londres, Paris e San Francisco durante o percurso da tocha olímpica foram mostrados pela mídia estatal como parte do complô. O governo francês foi acusado de permissivo com os manifestantes pró-Tibete em Paris.


Um deles tentou arrancar a tocha de uma atleta paraolímpica – a esgrimista Jin Jing virou heroína instantânea. Foi quando começaram as campanhas de boicote a produtos franceses. ‘Os líderes chineses vêem uma conspiração contra a tocha e não entendem que proibir protestos sempre provoca efeitos políticos piores’, disse à Folha o professor americano Russell Moses, que dá aulas em Pequim. ‘Muita gente achava que a Olimpíada abriria o regime, mas está acontecendo o contrário.’


O professor Dali Yang, diretor do Instituto do Leste Asiático, da Universidade Nacional de Cingapura, acha que o governo terá que intervir se o nacionalismo sair de controle. ‘Essas ações podem colocar em risco a própria Olimpíada.’’


 


ARGENTINA
Folha de S. Paulo


Uso político de publicidade é denunciado


‘O secretário de Meios de Comunicação do governo argentino, Enrique Albistur, foi denunciado à Justiça pelo Promotoria de Investigações Administrativas sob a acusação de distribuir publicidade oficial no valor de US$ 3 milhões a empresas ‘sócias ou amigas’, entre 2004 e 2007.


Albistur ocupa a pasta desde o início do governo de Néstor Kirchner, em 2003. Ele continuou no cargo após a eleição e a posse de Cristina Kirchner, no ano passado.


Em entrevista ontem à noite, o secretário disse que a denúncia, que ainda será examinada pela Justiça, é ‘baseada em falsidades’ e ‘uma manobra para instalar um tema de apelo midiático’. Se for processado por ‘negociações incompatíveis com a função pública’ -crime que lhe é atribuído pelo promotor Manuel Garrido-, ele pode ser condenado a entre 1 e 6 anos de prisão.


Além de Albistur, foram denunciados dois auxiliares diretos dele na Secretaria de Meios de Comunicação.


A investigação começou a partir de uma acusação feita em 2006 pela Associação pelos Direitos Civis de que o ex-presidente Kirchner discriminava meios de comunicação que não lhe eram favoráveis ao distribuir a publicidade oficial. A relação de Kirchner -como a da atual presidente- com a imprensa é tensa. Os dois costumam criticar os jornais e TVs em atos oficiais e raramente dão entrevistas aos meios de comunicação locais.


Com agências internacionais’


 


CUBA
Folha de S. Paulo


Não há lugar para inimigo, diz jornal oficial


‘‘Não há espaço para sonhos de adversários, quinta-colunistas [apoiadores do inimigo] e mercenários internos’ em Cuba, afirmou ontem o jornal oficial Granma, em resposta à mesa-redonda de dissidentes realizada no Hotel Biltmore, Miami, no dia 8.


A única ‘mudança estratégica e fundamental’ foi o 1959 revolucionário, insiste o Granma, negando os rumores de uma transição capitalista, alimentados pelas reformas do governo Raúl Castro.’


 


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Net lança gravador de alta definição


‘A Net lançou o primeiro decodificador com conversor para TV digital aberta embutido apto a gravar em alta definição. A atualização que permite a gravação já foi feita remotamente para quem comprou o aparelho ‘híbrido’ vendido desde dezembro.


O equipamento continua custando R$ 799, e haverá uma mensalidade de R$ 19,90 pelo serviço.’


 


OLIMPÍADAS
Marcelo Ninio


Governo ignora ativistas e descarta boicote à China


‘O governo brasileiro descarta um boicote à abertura dos Jogos de Pequim. A idéia, lançada por ativistas de direitos humanos, tem conquistado cada vez mais adeptos, entre eles o Parlamento Europeu, que na semana passada aprovou resolução pedindo aos líderes do continente que se ausentem da cerimônia em protesto contra a repressão chinesa no Tibete.


Para o Itamaraty, no entanto, a Olimpíada deve ser vista como um evento sem conotação política. Consultado pela Folha, o chanceler Celso Amorim deixou claro que o boicote não faz parte dos planos do governo. ‘A Olimpíada é um assunto esportivo’, justificou Amorim em Praga, durante a visita do presidente Lula à capital tcheca, no último fim de semana.


Ainda em Praga, o assessor internacional do presidente, Marco Aurélio Garcia, confirmou que Lula não estará na abertura dos Jogos, em 8 de agosto, mas disse que o motivo não é político. ‘A presença do presidente nunca chegou a ser cogitada’, afirmou Garcia.


Segundo o Itamaraty, ainda não foi definido quem representará o Brasil na cerimônia.


Por coincidência, o país que recebeu Lula em sua última visita internacional tornou-se ontem o mais novo adepto do boicote. O premiê Mirek Topolanek disse que não verá à abertura porque não quer participar de um ato para celebrar ‘o poderio e a grandeza da China comunista’. A Polônia é outro país que apóia o boicote.


A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o premiê britânico, Gordon Brown, também já disseram que não comparecerão. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, ameaça fazer o mesmo caso a China não tente acordo com o dalai-lama, líder espiritual do Tibete.


A maioria dos países, entretanto, prefere separar política de esporte para resguardar suas relações com a China. O chanceler francês, Bernard Kouchner, admitiu recentemente que a economia vem antes dos direitos humanos quando o tema é o gigante asiático.


Mas enxergar a Olimpíada só como evento esportivo, como faz o Brasil, é saída cômoda para uma questão política. Essa é a opinião do presidente na Suíça da Repórteres Sem Fronteira, ONG que lançou a campanha pelo boicote à abertura.


‘Separar esporte e política em uma Olimpíada é um sonho impossível e um equívoco’, afirmou Gerald Sapey à Folha.


‘Não faltam exemplos disso, como os Jogos de 1936, em Berlim, patrocinados pelos nazistas, e a Olimpíada de Moscou, em 1980, boicotada por iniciativa dos americanos.’


A posição nacional não chega a causar surpresa entre ativistas brasileiros. ‘Não esperava que o Brasil agisse diferente’, disse Oscar Vilhena Vieira, diretor jurídico da Conectas Direitos Humanos. ‘No âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil tem se esquivado de condenar as violações cometidas pela China.’’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record é só a 3ª na preferência do torcedor


‘Vice-líder nacional de audiência, a barulhenta Record é uma emissora humilde para os fãs de futebol. Pesquisa feita para o Clube dos 13 revela que a rede é a terceira na preferência dos torcedores, bem atrás da Globo e da Band.


Entre o público que não tem TV paga, só 6,6% dizem acompanhar notícias sobre futebol na Record, que até 2006 dividiu o futebol com a Globo e que disputou com ela os direitos das duas próximas Copas do Mundo. Os noticiários da Globo são os preferidos para 71,7% dos torcedores. Os da Band, que já foi o ‘canal dos esportes’ e só no ano passado voltou a transmitir campeonatos brasileiros, são os favoritos de 14%.


A pesquisa foi feita pela empresa TNS Sport com 6.036 torcedores de 14 capitais e do interior de seis Estados. A margem de erro é de 1,1 ponto percentual. O levantamento está sendo usado pelo Clube dos 13 para balizar as negociações dos direitos do Brasileirão, que a Record ameaçou disputar.


Entre os torcedores que têm TV por assinatura, a preferência pelo noticiário da Globo cai para 46,7%. Em segundo lugar nesse ranking aparece o canal SporTV, opção número um de 29,6%, seguido por Band (7,8%), ESPN (6,7%), Record (3,5%), ESPN Brasil (2,5%), Bandsports (1%) e SBT (0,8%).


Exibidora da Série B, a Rede TV! é apenas a nona opção do telespectador com TV paga, empatada com a Globo


HOMENAGEM O presidente Lula sancionou, no ‘Diário Oficial’ de ontem, lei mudando o nome da Ordem do Mérito das Comunicações para Ordem do Mérito das Comunicações Jornalista Roberto Marinho. A insígnia foi criada por decreto na ditadura militar para ser entregue a personalidades que se destacam na área.


NA FRENTE Em decretos publicados anteontem no ‘Diário Oficial’, o presidente Lula renovou as cinco concessões da Globo, que seguem agora para o Congresso. As demais outorgas vencidas em outubro, incluindo Record e Band, aguardam decreto.


AI, QUE LOUCURA A Rede TV! negocia com a socialite carioca Narcisa Tamborindeguy para que ela faça entrevistas para o ‘Superpop’.


PREOCUPAÇÃO A cúpula da Globo já estuda a programação que terá após os Jogos de Pequim. É grande a probabilidade de, durante o horário eleitoral, a segunda linha de shows sair do ar. Os programas dessa faixa (como ‘Casos e Acasos’ e ‘Dicas de um Sedutor’) ainda não decolaram.


A MODA PEGA Está virando rotina. Placar da prévia do Ibope de ontem, das 8h05 às 13h40: Record, 9,8 pontos; Globo, 8,5.


GLOBO DOC A Globo está tentando entrar no mercado internacional de documentários. Participa, de hoje até o dia 27, de festival no Canadá, onde oferece 13 episódios sobre a natureza brasileira, um ‘Por Toda a Minha Vida’ (Elis) e o ‘Linha Direta – O Massacre da Candelária’.’


 


Lucas Neves


‘House’ apresenta sintomas de cansaço


‘Depois do recesso imposto pela greve dos roteiristas de Hollywood, o Sherlock Holmes da medicina volta a destilar seu sarcasmo no hospital Princeton-Plainsboro. O Universal Channel exibe hoje o primeiro episódio da quarta temporada de ‘House’ (na TV aberta, a Record estréia o terceiro ano, também hoje, à meia-noite.)


Em ‘It’s a Wonderful Lie’ (é uma mentira maravilhosa), o médico e seu entourage estão às voltas com o caso de uma paciente que, após sofrer uma paralisia nas mãos, apresenta sintomas tão diversos quanto cegueira, dificuldades respiratórias e sangramento nos olhos.


Uma das primeiras suspeitas da equipe é a de que o cérebro dela esteja interpretando mal sinais enviados pelo corpo.


Muitas provocações, exames e teorias depois, House chega ao diagnóstico correto. Essa frase poderia sintetizar qualquer um dos 79 episódios anteriores, não?


Está aí o mal da série: apesar de tiradas certeiras, um protagonista interpretado magistralmente e casos médicos intrigantes, ‘House’ parece cada vez mais formulaico. Surge um paciente novo, aventam-se dezenas de diagnósticos até que, quase numa epifania, o doutor-estrela soluciona o mistério. Bem-vindo ao ‘CSI’ de jaleco.


A franquia, convenhamos, já tem ramificações suficientes.


HOUSE


Quando: hoje, às 23h


Onde: no Universal Channel’


 


LITERATURA
Marcos Strecker


Obra adulta de Lobato volta com sucesso


‘‘Urupês’, livro de contos que introduziu o Jeca Tatu, já está na 4ª reimpressão


Ninguém duvidava que as edições infantis de Monteiro Lobato voltariam a vender -e muito- com o relançamento de suas obras completas. Mas a grande procura pela sua obra adulta, restrita aos sebos há anos, é a maior surpresa no atual relançamento dos livros do criador do Sítio do Picapau Amarelo. Em outras palavras, Jeca Tatu está ameaçando o lugar de Emília.


A extensa produção ensaística, crítica e ficcional de Lobato -incluindo as histórias infantis que preencheram o imaginário de várias gerações- está voltando às livrarias após dez anos de brigas judiciais.


O imbróglio editorial ligado ao autor se arrastava desde 1998, quando os herdeiros do escritor -que morreu há 60 anos- entraram na Justiça para retirar sua obra da editora Brasiliense.


Por causa de um curioso contrato ‘ad infinitum’ assinado três anos antes de morrer com Caio Prado Jr. (1907-1990), dono da Brasiliense, todos os livros do escritor estavam sob a guarda da editora. O contrato garantia a ela o direito de publicação da obra sem fixar prazos, na prática impedindo o controle dos herdeiros de Lobato.


A relação entre a família e a Brasiliense foi boa até 1992, quando o diretor editorial Caio Graco Prado (filho de Caio Prado Jr.) morreu. E azedou de vez em 1998, quando a família tentou impedir o relançamento de ‘Reinações de Narizinho’, acusando a Brasiliense de quebrar cláusulas contratuais e de não dar a devida atenção editorial à obra. A contenda prejudicou as reedições dos infantis e praticamente tirou de catálogo a obra adulta do autor. A briga judicial teve capítulo final em agosto de 2007, com um acordo entre as partes, abrindo espaço para a mudança de casa.


A editora Globo assinou logo na seqüência um contrato com os herdeiros e começou já em setembro de 2007 a relançar as obras completas (um total de 56 livros, entre infantis e adultos, além de adaptações em quadrinhos). Os últimos títulos chegarão às livrarias em 2009.


‘Urupês’


Iniciada a republicação, a grande surpresa foi a venda da obra adulta de Lobato. Lucia Machado, diretora de negócios infantis da Globo e responsável pelo lançamento, diz que ‘não sabia que o mercado estava tão carente [de títulos adultos]’. ‘Isso nos surpreendeu.’


‘Urupês’, por exemplo, a coletânea de contos que introduziu o Jeca Tatu há 90 anos, já está na quarta reimpressão (15 mil exemplares vendidos). Nada mal para um texto de 1918 que capricha no vernáculo e abusa do léxico (Lobato se gabava de ter lido o dicionário Caldas Aulete de ‘A’ a ‘Z’), passeando por temas como a indolência do caipira ou a condenação das queimadas.


Se o papel de renovador da literatura infantil brasileira e de editor (foi um dos fundadores do mercado editorial brasileiro) são incontestes, os novos tempos pedem uma reavaliação do jornalista, crítico de arte, ensaísta e polemista -Lobato é o autor do famoso artigo ‘Paranóia ou Mistificação’, em que atacou a pintora Anita Malfatti, e também foi pioneiro na defesa da nacionalização do petróleo, entre outras causas.


Marisa Lajolo, professora responsável pelo acervo do escritor abrigado na Unicamp, acredita que o relançamento esteja vindo em um momento de reabilitação. ‘As luzes sobre o modernismo paulistano jogaram Lobato no limbo. Ele virou o vilão. Nos últimos anos há uma revisão disso’, diz a professora.


Além disso, para a pesquisadora, o escritor ‘é um excelente contista, divertido, violento em relação à crítica social, despojado em termos de linguagem’.


Vladimir Sacchetta, um dos autores da biografia ‘Monteiro Lobato – Furacão na Botocunda’ (ed. Senac-SP) e consultor da reedição das obras, junto com Marcia Camargos, cita também ‘Um Jeca nos Vernissages’ (Edusp), de Tadeu Chiarelli, que em 1995 iniciou um processo de revisão da produção crítica de Lobato.


O relançamento da obra completa, porém, também provoca críticas por algumas escolhas editoriais, como mostram os textos na página ao lado.


Sacchetta defende o trabalho de relançamento. Ele diz que as edições voltaram a respeitar as publicações originais como se lia nas décadas de 10 e 20.


Lucia Machado diz que a urgência de recolocar os títulos no mercado determinou muitas opções. Além disso, aponta a dificuldade de atualização. ‘São decisões difíceis ao ‘traduzir’ para os dias de hoje. A sensação é que estávamos invadindo uma grande obra’, diz.


Ela afirma que a proposta é quadrinizar o máximo possível da produção infantil do autor, começando pelas adaptações (como ‘Dom Quixote das Crianças’). Vários desenhistas estão sendo chamados. Saem as famosas ilustrações de Belmonte, entram versões modernizadas.


Isso é bom? Segundo ela, foram feitos testes com crianças, que rejeitaram imagens que são ícones do mercado editorial. ‘A idéia é trazer para um visual que as crianças conhecem hoje. O que enxergam como do passado elas não lêem’, diz.


As reedições seguem por contrato até 2018, quando a obra do autor cairá em domínio público.’


 


TV BRASIL
Mônica Bergamo


Correição


‘A TV Brasil nomeou a comissão que vai investigar a denúncia, feita pelo jornalista Luiz Lobo, demitido da emissora, de que o Palácio do Planalto interfere nos telejornais da TV pública. Estão nela o advogado José Paulo Cavalcante, o ex-governador Claudio Lembo e Ima Célia Guimarães Vieira.’


 


CINEMA
Paulo Sampaio


‘Tropa’ e ‘Ano’ são principais vencedores


‘Os 50 finalistas do Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, entregue anteontem pela Academia Brasileira de Cinema (ABC), concorriam em 27 categorias. No fim das contas, a impressão era de que havia estatuetas demais ou filmes de menos. Eventualmente, o finalista concorria com ele próprio.


A atriz Hermila Guedes, ganhadora do prêmio de melhor atriz por ‘O Céu de Suely’, disputou também o prêmio de atriz coadjuvante por ‘Baixio das Bestas’ com a colega de filme Marcelia Cartaxo. O maquiador Martin Macias Tujillo concorreu consigo mesmo em dois filmes.


O grande favorito da noite, ‘Tropa de Elite’, levou nove prêmios, incluindo o de ator (Wagner Moura) e diretor (José Padilha), mas não o de melhor filme, considerado o mais importante da noite. Ganhou ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, de Cao Hamburger, premiado também como longa de ficção, roteiro original e direção de arte.


Padilha não apareceu na premiação, no Espaço Vivo Rio, porque, segundo seu sócio-produtor, Marcos Prado, estava com dor de cabeça. ‘Pensei que fosse dengue, mas o resultado do exame de sangue chegou durante a festa e ele me ligou dizendo que não era.’


Wagner Moura não pôde votar em si mesmo porque deixou de ser sócio da ABC ‘por falta de pagamento’ (um salário mínimo por ano). ‘Parei de colaborar depois de dois anos’, diz.


Suspense


Drica Moraes e Vladimir Brichta, os mestres-de-cerimônias, dizem blagues mal decoradas, simulam suspense e chamam colegas para apresentar os prêmios. Depois dos agradecimentos, os vencedores são recolhidos pelo braço por duas moçonas de longo preto, cujas cabeleiras caem em cascata.


Mas Roberto Farias, presidente da ABC, não gosta da comparação com a festa do Oscar. ‘A única semelhança é o sigilo na votação’, avalia. ‘Os 300 sócios da academia votam em um computador auditado pela Price Waterhousecoopers, a mesma do Oscar [olha ele aí]’, diz a assessoria. O prêmio é retroativo a 1º de julho de 2006. Houve um ajuste de calendário para recuperar um ano em que a premiação não ocorreu.


Daniel Filho encontra Luiz Carlos Barreto (outro que não votou porque perdeu o prazo): ‘Esse homem tem 80 anos, com cara de 50!’, diz Daniel. E fala de seu pai, que tem 101 anos, e sua mãe, 97. Apesar de se orgulhar dos recordes familiares, ele se recusa a falar do filho de 58 anos que teve aos 12 com uma empregada de seus pais. ‘Você é indelicado, mal educado (aumentando o tom), grosseiro (apontando), tô te xingando, sim, pode anotar.’ Já recuperado, Daniel apresenta o homenageado da noite, Renato Aragão, que não votou porque é apenas ‘sócio-atleta’. ‘Fiz 47 filmes, uma ginástica.’’


 


 


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Agência Carta Maior


Quinta-feira, 17 de abril de 2008


DEBATE ABERTO
Gilson Caroni Filho


Uma imprensa sem madeira de lei, 10/4


‘A jornalista Miriam Leitão não costuma ser econômica quando o assunto em pauta é uma heresia a seu credo neoliberal. Ao nacionalizar a Siderúrgica Sidor, retomando para o Estado venezuelano um patrimônio que havia sido privatizado em 1997, o presidente Hugo Chávez estaria, segundo ela, em busca de dois objetivos: ‘enfrentar um enorme problema de inflação e desabastecimento’ e ‘garantir que projetos importantes fiquem prontos para ajudar nas eleições de novembro de governadores e prefeitos’.


O desrespeito da empresa a direitos trabalhistas é pretexto para uma liderança que ‘não abandonou a idéia de um grande controle estatal sobre alguns setores-chaves da economia’. Didática, Leitão é categórica: ‘enquanto houver Hugo Chávez, haverá notícia. Costumamos dizer isso por aqui porque, afinal, ele não economiza em novos fatos.’


Se por notícia entendermos um relato falseado a partir de argumentos de consultores estadunidenses, a colunista estará dando uma magnífica aula de como mídia cria sua agenda. E, em se tratando de América Latina, uma demonstração cabal de, como há tempos, a pauta permanece inalterada. Dessa forma, pedimos ao leitor que veja a atualidade de um artigo publicado há três anos no Observatório da Imprensa, com o título ‘Macaco, olha o teu rabo’. Se a narrativa das redações da organização monopolista aposta no esquecimento como premissa de legitimação, relembrar é estabelecer a rota de colisão necessária. Assim, segue o que foi escrito em 7 de novembro de 2005. Não há uma linha a ser alterada:


‘Há momentos no jornalismo brasileiro que nos remetem à atualidade de velhos ditos populares. O proverbial ‘macaco, olha o teu rabo’ deveria estar nas capas dos manuais de redação de editores de todas os grandes jornais. Ele sugere que, antes de emitir um juízo de valor sobre o outro, devemos lançar um olhar sobre nossa trajetória e procedimentos atuais. Se isso vale para pessoas, com certeza se encaixa como luva para conglomerados midiáticos. Ainda mais quando vivemos tempos de cólera. De rancor direitista travestido de indignação ética.


Em novembro de 2005,a Rede Globo mal pôde esperar a abertura da 4º Cúpula das Américas, em Mar del Plata, para assestar suas baterias contra a liderança sul-americana mais odiada pelo protofascismo de Washington: Hugo Chávez. No Jornal Nacional de 2/11, o presidente venezuelano foi apresentado como alguém que ‘mudou a Constituição, aumentou o mandato presidencial, nomeou mais 12 juízes para a Corte Suprema e instituiu um rígido controle sobre os meios de comunicação’. Esqueceram de mencionar a tentativa de golpe e o papel ativo das emissoras Venevisión, Globovisión e da RCTV. É certo que, em dados momentos históricos, o que a língua separa o método une. E a simbiose não cessa sem rupturas dramáticas.


Dois dias depois, seria a vez de o dublê de comentarista e bufão Arnaldo Jabor tratar Chávez ‘como leão de chácara que ataca os Estados Unidos em nome de um socialismo delirante’, alertando que ‘atrás dele iriam os governos fracassados de Lula e Kirchner’. Numa linguagem desabrida, beirando a vulgaridade, intenções e gestos mostraram quem são os alvos da ofensiva conservadora. Tanto no âmbito interno como no cenário internacional as cartas estão dadas.


Mas o pior estava por vir. Na edição de 5/11, no jornal O Globo, um pequeno editorial destilava raiva e açodamento, produzindo um texto de péssima qualidade. Algo a ser mostrado a estudantes de Jornalismo como expressão de narrativa condenável, seja qual for a orientação editorial da publicação ou emissora. É legítimo um veículo emitir sua opinião num artiguete, mas a forma como o fez e os adjetivos empregados desnudaram qualquer veleidade de se apresentar como instância de intermediação entre sociedade e Estado. O texto abaixo demonstra a sobreposição de interesses político-empresariais ao direito de informação. Cabe ao leitor concluir se estamos diante de uma construção que objetiva a fiscalização de poderes públicos e privados, assegurando a transparência de relações políticas, econômicas e sociais, ou se vislumbramos a manipulação em estado bruto:


‘Maradona colocou na biografia a liderança de uma grande manifestação anti-Bush. O jogador pode estar no auge da recuperação física e psicológica, nessa inesperada demonstração de ardor antiimperialista. Mas a Casa Branca esfrega as mãos de contentamento. Afinal, a bandeira do antiamericanismo em Mar del Plata terminou empunhada por um aparentemente ex-viciado em drogas, amigo de Fidel apenas porque este o acolheu numa overdose. E enquanto Maradona dividia os espaços na mídia com as fanfarronices de Hugo Chávez, as Mães da Praça de Maio e Alfonso Pérez Esquivel, vítimas reais da ditadura argentina, contra a qual Maradona nada fez, ficaram em segundo plano’.


Causa espécie a tentativa de desqualificar a ação política a partir da condição de dependente químico de seu protagonista. Pior, resvala para a calúnia ao empregar o advérbio ‘aparentemente’. O editorialista confunde contundência com linguajar rasteiro, com ofensa pessoal. E se alguma publicação afirmasse que o aparentemente ex-alcoólatra Bush, ao fim da cúpula, não teve motivos para esfregar as mãos de contentamento? Qual seria a reação dos sóbrios editores de O Globo?


Certamente o artiguete foi pedido às pressas. Só isso explica tanta desinformação sobre o jogador argentino. Ao afirmar que Maradona nada fez contra a ditadura, o jornal da família Marinho ignora que, ainda atuando, o atleta se notabilizou por críticas contundentes ao governo. Foi sua combatividade que o levou a Fidel, e não uma ‘overdose’. Talvez o ambiente de trabalho produza falhas dessa monta. Ao misturar jornalismo com entretenimento, o profissional do Globo talvez tenha confundido doses e ilhas. Mas isso é ilação para revista de fuxico.


O que chama a atenção do leitor mais atento é a ignorância de outro provérbio: ‘Não se fala de corda em casa de enforcado’. Ao relembrar as vítimas da ditadura militar no país vizinho e perguntar o que o jogador fez por elas, o inspirado editor mexeu em vespeiro. Cabe indagar se a interpelação é extensiva ao maior monopólio informativo da América Latina. O que a Globo fez contra a ditadura brasileira?


Por demais conhecidas, as relações entre o terrorismo de Estado que se instalou em 1964 e a Rede Globo serão aqui apresentadas em tópicos:


1) A emissora de Roberto Marinho começou a operar em 1965, sustentada por um acordo técnico e financeiro com o grupo Time-Life, cujo escopo foi motivo de CPI no Congresso Nacional no ano seguinte. Sarney, no mesmo ano, apoiado por Castelo Branco e tecendo loas aos ditadores de plantão, tornava-se governador maranhense. Cinco anos depois, a Globo, esteio simbólico do regime, completava em seu noticiário a ação propagandística do governo;


2) O noticiário da TV Globo foi o porão informativo em que ficaram represadas as vozes dos que se opuseram ao regime e o grito dos que por ele foram torturados;


3) Após o atentado do Riocentro, uma bomba foi subtraída entre duas edições, em belo exemplo de apoio logístico;


4) Com a Proconsult, empresa contratada pelo TRE para apurar os votos da eleição direta para governador do Eestado do Rio, em 1982, tentou fraudar o resultado para dar a vitória a Moreira Franco, candidato do regime militar;


5) Sabotou, enquanto pôde, a campanha das Diretas-já, em 1984, terminando por ser fiadora de uma transição por alto;


6) Como recompensa, ganhou a NEC do Brasil, um dos principais fornecedores de equipamentos de telecomunicação para o governo, além de inúmeras afiliadas e repetidoras que constituiriam seu império.


Como se vê, pequenas linhas podem reavivar a memória. A Globo não costuma se sair bem quando a história não é contada por ela própria. Fora de sua editora, o que surge é um prontuário de crimes contra a cidadania. Para implantar programas sociais que beneficiam 75% da população venezuelana, Chávez teve que enfrentar o conluio entre a mídia privada e as oligarquias. Pode, mantidas as especificidades de cada formação, ter dado uma aula de ruptura. Sua exemplaridade é a causa do ódio que provoca no baronato da imprensa brasileira. Macacos que não olham o próprio rabo costumam cair dos editoriais que perpetram.’


Em abril de 2008, os rabos continuam presos mas o deslocamento pelos galhos, em sua característica posição de cabeça para baixo, põe em risco uma espécie que ainda não percebeu que, tanto nas editorias refrigeradas quanto nas ilhas de edição, não existe madeira de lei. A queda é uma possibilidade cada vez maior.’


 


 


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