José Manuel Godínez-Samperio, um imigrante mexicano que vive nos EUA sem documentos, diz que quer ser chamado de “sem documentos”, porque “ilegal” é “desumano” e “justifica a opressão contra imigrantes”. Para alguns dos imigrantes, a preferência pelo termo “sem documentos”, e não “ilegal”, é irrelevante. Mas a exatidão técnica dos termos pode contribuir com um peso maior para os atuais debates sobre essas palavras.
Em resposta ao uso contínuo da expressão “imigrante ilegal” pela Associated Press e pelo New York Times, um grupo de linguistas argumentou que a expressão “imigrante ilegal” não é neutra nem exata, como alegam as duas empresas de mídia.
Ombudsman do NYTimes defende termo
Após o ativista José Antonio Vargas ter lançado uma campanha para monitorar o uso dos termos pelos veículos de mídia mais importantes, a ombudsman do New York Times, Margaret Sullivan, começou uma investigação por conta própria. Ela pediu aos leitores que participassem do debate e entrevistou a repórter Julia Preston, que cobre imigração. Julia disse que, uma vez que seu manual de redação é flexível, a expressão “imigrante ilegal” não está errada. “É exata e leva em conta a abrangência dos termos do debate”, disse. “Não deveríamos banir um termo correto.” Para Margaret, o termo “imigrante ilegal” é claro e preciso e resolve o problema em duas palavras que são facilmente compreendidas. “O mesmo não se pode dizer das alternativas mais frequentemente sugeridas – ‘desautorizado’, ‘imigrantes sem status legal’ e ‘sem documentos’”, diz ela.
Expressão nova
Jonathan Rosa, professor-assistente de Antropologia Linguística na Universidade de Amherst, Massachusetts, discorda. Um grupo de 24 professores, liderados por Rosa, deu uma declaração na semana passada argumentando que a expressão “imigrante ilegal” não deveria ser a preferida, pois é imprecisa e enquadra o debate em termos estreitos. “É estarrecedor pensar que [o New York Times] pudesse sugerir que ‘imigrante ilegal’ é preciso e neutro”, disse Rosa numa entrevista à ABC/Univision. “A lei americana sobre Imigração e Nacionalidade define imigrantes como pessoas que foram legalmente admitidas para residência permanente, portanto ‘imigrante legal’ é um conceito redundante e ‘imigrante ilegal’, uma expressão contraditória”, destacou. “Não existe, no campo do Direito, qualquer indicação de que a expressão ‘imigrante ilegal’ seja a norma. No entanto, ela faz parte de certas estratégias políticas”, disse.
Para a ombudsman do NYTimes, “não se trata de um juízo sobre a política de imigração, ou sobre as várias posições em relação à reforma da lei da imigração, ou sobre quem defende essas posições. Nem se trata de desrespeitar as pessoas a quem a expressão é aplicada. Trata-se, simplesmente, de um juízo sobre clareza e exatidão, que os leitores tanto prezam”.
Embora um pouco mais antigo do que o termo “sem documentos”, “imigrante ilegal” é uma expressão relativamente nova na história da língua inglesa (essa análise informal de termos sobre imigração pode ser verificada em livros, via GoogleBooks). “Imigrante ilegal” aparentemente foi usado pela primeira vez em um artigo do NYTimes de 1897 (que também se refere a cidadãos chineses como “gente da China”). José Antonio Vargas mantém que a frase “imigrante ilegal” não era usada de forma repetitiva para descrever um grupo de pessoas até o final da década de 1930, quando os britânicos a usaram para classificar os judeus que fugiam dos nazistas e entravam na Palestina sem autorização.
Uma pesquisa informal dos arquivos do NYTimes revela poucos resultados para a expressão até se restringirem os níveis de imigração, na década de 1970, quando “imigrante ilegal” e “estrangeiro ilegal” se tornaram as descrições alternativas do jornal para quem estava no país sem autorização.Informações de Cristina Costantini [ABC News, 1/10/12] e Margaret Sullivan [New York Times, 2/10/12].
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