Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Começar em casa

A ombudsman da Folha de S. Paulo, Suzana Singer, foi no domingo (21/10) à raiz de um dos mais graves problemas a que está exposta a cobertura jornalística dos processos eleitorais no Brasil. Em resumo, diz, “a pauta das eleições está nas mãos das campanhas, os jornalistas se ocupam em repercutir o que foi dito na televisão no dia anterior”.

Além disso, “assessores, alimentados por pesquisas qualitativas, ditam como o candidato deve se vestir, o que deve dizer, que assuntos evitar. A reportagem de todos os veículos, mesmo que inconscientemente, segue essa agenda (…)”.

Ela propõe que a imprensa passe a “ditar a pauta do debate eleitoral em vez de ficar a reboque dos marqueteiros”. Como isso poderia ser obtido?

“Já passou da hora de as empresas de comunicação se unirem e dizerem aos candidatos que o papel da imprensa não é montar o palco, zerar os cronômetros e deixar a conversa rolar solta. Quem se recusasse a participar teria suas ‘razões’ expostas no Jornal Nacional, no Jornal do SBT, na capa da Folha e do Estadão, na home do UOL… Quem resistiria?”

Quem tem clareza, faz

Em tese, está certo, mas não faz parte da cultura dessas organizações se associar para melhorar padrões de jornalismo. As empresas se unem em torno de interesses empresariais, quando se unem. Fora disso, uma está sempre pronta a passar rasteira na outra, se for o caso.

O que Suzana pode fazer, sem risco de se frustrar, é exortar a Folha a ter visão crítica da pauta convencional, das campanhas e até mesmo dos leitores, que não devem ser pajeados, mas respeitados como seres inteligentes, capazes de enxergar além da performance midiática e refletir sobre políticas capazes de beneficiar a cidade, o estado e o país.

Alguns jornais, em diferentes campanhas eleitorais, mostraram independência e lucidez. Foram capazes de olhar de fora os candidatos, os partidos, as campanhas, os marqueteiros e tutti quanti. Mas a pressão das máquinas é grande e, volta e meia, o jornalismo propriamente dito reflui.