A Microsoft está fazendo a remodelagem mais radical no Windows desde 1995 e até os usuários mais arraigados não reconhecerão o tradicional sistema operacional na sua nova encarnação, chamada Windows 8, a ser lançada no dia 26 de outubro.
Assim que você o carrega, a diferença é visível. Em vez do desktop familiar, você vê um mundo elegante e moderno de grandes blocos deslizantes e aplicativos mais simples de tela inteira, mais adequados às telas de toque e inspirados nos tablets e smartphones.
Isso é chamado de Tela Inicial, substituindo o menu Iniciar que todo usuário do Windows conhece. Mas não se trata só de um menu, e sim de todo um ambiente computacional que ocupa a tela inteira, com seus próprios aplicativos e controles separados. A velha área de trabalho e as aplicações do antigo sistema ainda estão lá. Mas, no Windows 8, a área de trabalho é como qualquer outro aplicativo: você toca ou clica no ícone ou botão da Tela Inicial para usá-la.
(Na versão original, em inglês, a Tela Inicial é chamada Start. Os nomes em português neste artigo foram fornecidos pela Microsoft no Brasil.)
Essa é, na minha opinião, uma mudança arrojada. O novo ambiente de blocos funciona muito bem e é uma iniciativa louvável. Ele parece natural, principalmente numa tela de toque, e põe o Windows na era dos tablets. Ele pode até significar o início de uma longa transição na qual o novo design substituirá gradualmente o antigo, embora isso vá depender da rapidez com que a Microsoft atrair aplicativos no novo estilo.
O Windows consistirá agora de duas experiências muito diferentes combinadas num único pacote. A ideia é ter um sistema operacional universal, que pode rodar sem restrições em todos os aparelhos, tanto em PCs com mouse quanto em tablets controlados por toque. E que aceita todas as aplicações, desde o velho Excel aos apps modernos sensíveis ao toque. É uma abordagem bem diferente da escolhida pela Apple, que usa sistemas operacionais distintos para os seus tablets iPad e seus computadores Mac mais convencionais.
Potencial para confusão
Ao adotar uma estratégia de ambiente duplo, a Microsoft se arrisca a confundir os usuários do PC tradicional, que ficarão alternando entre uma maneira de fazer as coisas e outra. Tanto o novo quanto o velho ambiente podem funcionar ou com toque ou com um mouse e teclado, mas o novo aceita melhor o toque, enquanto no velho o melhor é usar um mouse ou um trackpad.
A empresa está apostando que a confusão será passageira e superada pela capacidade de rodar programas tradicionais como o Microsoft Office, que não podem ser usados nos iPads e aparelhos Android.
Versões e funções diferentes
Mas espere, há um potencial ainda maior para confusão. O Windows 8 virá em duas versões, uma para PCs comuns com chips da Intel; e outra, chamada RT, para tablets que usam o mesmo tipo de processador dos tablets e smartphones concorrentes.
Haverá, porém, uma grande diferença. Nas máquinas com processadores Intel, você poderá rodar os novos aplicativos de tablet e, através da área de trabalho, os velhos programas do Windows. Mas os dispositivos com a versão RT não permitirão que você instale os programas tradicionais do Windows. O único programa importante que você poderá usar será uma nova versão do Office, modificada para rodar nessas máquinas e sem o Outlook. Todos os novos aplicativos do tipo tablet poderão ser baixados de uma loja on-line, semelhante à i-Tunes para os iPads.
Finalmente, só para completar essa realidade alternativa, a Microsoft, pela primeira vez na sua história, fabricará e venderá seu próprio computador. Trata-se de um tablet chamado Surface, que competirá com os tablets Windows 8 e Windows RT produzidos pelos parceiros tradicionais da empresa.
Eu testei o Windows 8 em três máquinas: um tablet; um ultrabook com tela de toque e um laptop com tela deslizante que pode ser convertido em tablet.
Tela Inicial
A grande novidade aqui é o ambiente da Tela Inicial, desenhado num modelo semelhante à interface introduzida pelo Windows Phone, o software da Microsoft para celulares. Ela usa um design com ícones, ou blocos, retangulares e quadrados diferentes daqueles dos iPads e dispositivos Android.
Esses blocos contêm informações sobre os aplicativos que eles representam.
O bloco dos emails mostra um resumo deslizante das mensagens que você recebeu e o das fotos mostra os quadrinhos com as imagens. A ideia é que você possa ver as informações mais relevantes numa olhada.
Você desliza por uma série horizontal de blocos ao passar o dedo na tela ou no trackpad ou mover o mouse. Os ícones para os programas antigos do desktop, com o Microsoft Word, aparecem na Tela Inicial, mas sem qualquer informação. Há um botão chamado Todos os Aplicativos que mostra cada programa no aparelho.
Nos meus testes, essa nova interface funcionou muito bem, sem interrupções, mostrando-se à altura do iPad e do Android.
Botões e gestos
O Windows 8 traz uma faixa de controle inovadora e universal, chamada Botões. Ela aparece no lado direito da tela quando você desliza o dedo na borda. Num aparelho sem tela de toque, você faz essa faixa aparecer colocando o cursor do mouse no canto superior direito.
Entre as opções do Botões estão Pesquisar, Configurações, Compartilhar, Dispositivos e uma outra que retorna para a Tela Inicial. Os ícones se ajustam a qualquer aplicativo que você esteja usando na hora.
Tela dupla
Você pode dividir a tela de modo a mostrar dois aplicativos ao mesmo tempo. Isso é útil para, digamos, ver seu email e navegador na tela ao mesmo tempo.
Aplicativos
Alguns dos aplicativos novos são impressionantes. O de fotos inclui não apenas suas fotos locais, mas também as do Facebook, do Flickr e do serviço SkyDrive de computação na nuvem da Microsoft. Mas o novo aplicativo de emails é decepcionante. Ele não tem um caixa de entrada única, uma única pasta com as mensagens ainda não lidas, nem uma pasta mostrando as mensagens dos seus contatos mais importantes.
Não consegui encontrar na loja da Microsoft muitos aplicativos comuns de terceiros, como Facebook ou Twitter, mas a Microsoft disse que vai haver mais desses apps até o lançamento, na semana que vem.
Preço
O Windows RT só estará disponível já instalado nos aparelhos. Uma versão avançada do Windows 8, chamada Pro, pode ser comprada separadamente para instalação em PCs. Os detalhes ainda não foram divulgados.
Se você não tem tela de toque, o Windows 8 vai funcionar, mas mais desajeitadamente.
A versão Pro é mais adequada para sistemas corporativos que usam Windows. Uma versão para usuários domésticos, chamada simplesmente Windows 8, estará disponível, mas a Microsoft ainda não informou nada sobre preços.
Conclusão
A Microsoft merece aplausos por dar ao Windows uma cara mais nova e moderna. E a empresa certamente agradará os atuais usuários ao manter o sistema antigo e a capacidade de rodar os programas mais velhos. Mas a combinação vai exigir reaprender o sistema computacional mais comum do planeta.
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[Walter S. Mossberg, do Wall Street Journal]