Reconhecido pelo seu trabalho de aproximação entre jornalismo e paz no Oriente Médio, o professor Dov Shinar, nasceu em São Paulo, Brasil, em 1936, mas vive em Israel desde 1950. PhD em Comunicação, o jornalista e pesquisador é Decano da Escola de Comunicação do Netanya Academic College e diretor do Fair Media: Centro de Estudos de Conflito, Guerra e Paz.
Na esteira de uma extensa experiência profissional, suas áreas de interesse incluem mídia na guerra e na paz; comunicação e desenvolvimento humano, enfatizando identidade coletiva e memória; dimensões socioculturais de tecnologias da comunicação e comunicações internacionais.
O professor emérito da Universidade de Concordia (Montreal) e da Universidade de Ben-Gurion, defensor do Estado laico em Israel, concedeu esta entrevista em sua casa, em Jerusalém, em dezembro do ano passado, numa tarde de sexta-feira, no início do shabat (shãbath, em hebraico, dia que para os judeus deve ser guardado). Em setembro de 2012, Shinar forneceu novas informações por e-mail sobre o desenrolar dos fatos citados e do ambiente vivido em Israel nesse período.
O resultado pode ser conferido a seguir. A entrevista traz uma análise da atual situação da imprensa em Israel, das pressões políticas que instituições como a Justiça e as universidades sofrem no país e de como o nacionalismo e a religião vêm ganhando espaço nas decisões de Estado.
Shinar também fala das contradições da democracia em Israel, como a existência de censura militar aos órgãos de imprensa da região – instituída em 1945 por meio de medidas de emergência promulgadas por autoridades britânicas no poder na Palestina, que, depois da criação do Estado de Israel (1948), foram incorporadas à legislação israelense e são aceitas pela Suprema Corte. “A censura obriga todos os jornais a serem verificados duas vezes por noite pelos censores, mas não é o que ocorre na prática, graças a um acordo entre os jornais e o Estado”, explica. “Agora, no que diz respeito a temas militares, temas que os próprios jornais consideram delicados, aí, sim, isso é submetido à censura militar.”
Como o senhor vê a situação da imprensa em Israel?
Dov Shinar – O que está acontecendo é uma coisa muito interessante: o funcionamento da mídia não está isolado dos problemas de Israel, dos dilemas da democracia em Israel. Tudo está junto. Por exemplo, a questão da censura. Existe uma espécie de acordo entre os jornais e a censura militar [que pode impedir a publicação – em jornais e revistas – de informações que julgar prejudiciais à manutenção da ordem pública ou que coloquem em risco a segurança nacional]. A censura obriga todos os jornais a serem verificados duas vezes por noite pelos censores, mas não é o que ocorre na prática, graças a um acordo entre os jornais e o Estado. Agora, no que diz respeito a temas militares, temas que os próprios jornais consideram delicados, aí, sim, isso é submetido à censura militar. Mas os jornais não são obrigados a fornecer o jornal inteiro, todas as noites – como está definido na lei, que é do tempo do mandato britânico [após a queda do Império Otomano e fim da Primeira Guerra Mundial, foi instituído um Mandato Britânico para administração da Palestina. A medida durou até 1948], e existe ainda hoje, não foi alterada.
É uma lei de imprensa?
D.S. – Não é uma lei exatamente, é uma medida de emergência que vem do período de dominação britânica na Palestina. Na Segunda Guerra Mundial, foi empregada para combater a propaganda nazista [medida promulgada por autoridades britânicas em 1945 na Palestina ocupada, por meio dos Defence (Emergency) Regulations, que instituíam a censura a livros e jornais. Depois da criação do Estado de Israel, em 1948, as leis foram incorporadas à legislação do país].
Antes da existência desse acordo, o jornal inteiro era submetido à censura?
D.S. – Tudo, o jornal inteiro, até as palavras cruzadas, publicidade, tudo.
Portanto, existe uma censura funcionando?
D.S. – Militar, uma censura militar, uma censura sobre temas relacionados à segurança.
E há casos em que houve veto?
D.S. – Às vezes, sim, em casos que estariam relacionados à segurança do país. Por exemplo, não se revelava o nome do chefe do serviço secreto. Hoje, já se revela. Às vezes, não é permitido divulgar onde aconteceu um incidente na fronteira, porque isso é matéria de segurança nacional. Isso está bem estabelecido, ninguém se aproveita da situação. Mas esse acordo libera a mídia dessa coisa impossível que existia antes. Não dá para submeter o jornal inteiro, todo o noticiário da TV, é impossível. Esse cuidado prévio foi empregado algumas vezes e é parte do acordo, entre o que se chama de Comissão dos Redatores da Mídia e o Exército. Isso funciona com algumas exceções. Houve alguns jornais israelenses que não entraram no acordo e tiveram, durante algum tempo, de submeter todas as matérias duas vezes por noite. E os jornais palestinos que são publicados aqui em Jerusalém – não estão sendo publicados nos territórios, as redações estão em Jerusalém, porque aqui vigora a lei de Israel e eles têm mais defesa da Suprema Corte –, todos têm que submeter todas as matérias à censura. Estão fora do acordo.
Qual análise o senhor faz da situação da democracia no país?
D.S. – O atual momento da democracia de Israel é muito interessante e muito assustador. Hoje existe um ataque, não sei se planejado, contra as instituições democráticas. Por exemplo, vejam a questão da Justiça. No início de 2012, a então presidente da Suprema Corte [Dorit Beinisch] completou a idade limite de 70 anos, e foi aposentada compulsoriamente. Na escolha de um novo presidente, o natural seria que a próxima pessoa a ocupar o cargo fosse outra mulher [Miriam Naor], então a juíza mais sênior. No entanto, um truque parlamentar da extrema-direita [a Lei Grunis, aprovada no início de 2012, alterou a legislação anterior que impedia juízes que estivessem a menos de três anos da aposentadoria de assumirem a presidência da Suprema Corte] permitiu a outro juiz assumir o cargo – Asher Grunis [dois anos e 324 dias até a aposentadoria], menos liberal do que a candidata natural. De qualquer forma, a direita agiu nesse sentido. Há um ataque da extrema-direita nacionalista, parte religiosa, parte não. O interessante é que, por enquanto, o juiz Grunis está surpreendendo os responsáveis pelo truque, seu comportamento está absolutamnte de acordo com as normas judiciais democráticas.
Um ataque?
D.S. – Sim, uma manobra destinada, afinal, a enfraquecer a Suprema Corte, que era liberal, talvez não tanto quanto a esquerda gostaria, mas que era independente de pressões políticas. Mexeram no processo de escolha de juízes, com a alegação de que as minorias estavam mal representadas. Chegaram a propor no parlamento uma lei que obrigasse os candidatos a juiz a aparecer frente a uma comissão política. Enfim, a Suprema Corte como instituição (o Judiciário) está sob ataque. A Suprema Corte era considerada pelos atacantes como esquerdista, de extrema-esquerda, porque muitas vezes tomava decisões favoráveis aos árabes, aos homossexuais, ou seja, era uma corte liberal.
E esses ataques limitam-se ao Judiciário?
D.S. – Não. Veja, com a mídia também há problemas. Por exemplo, em relação à chamada Libel Law [que trata de crimes contra a honra – calúnias, injúrias e difamação] existente em Israel. Há a ideia de torná-la muito mais severa. A que existe atualmente diz que se você considera que determinado jornalista falou mal de você, precisa provar o prejuízo provocado pela publicação do artigo ou da reportagem. Há quem queira eliminar isso – o eventual prejudicado não precisará provar o eventual prejuízo. E a multa a ser imposta ao jornalista e ao jornal será muito mais alta, caso a decisão seja desfavorável a eles. A mídia está sendo subjugada. Veja, o Canal 10 de TV descobriu muita coisa criticável sobre Bibi [Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense], as viagens de primeira-classe que ele fez, as relações particulares, coisas muito criticadas por aqui [em Israel]. Fatos que, aliás, também aconteceram com seu antecessor, Ehud Olmert. Bem, o jornalista desse canal, que divulgou esses fatos terá dificuldades com a mudança. Além disso, diz-se – não há provas, porém – que funcionários do gabinete de Bibi teriam se envolvido em manobras para estrangular financeiramente o canal.
Isso é parte desse ataque contra a mídia?
D.S. – Sim. Há também um ataque contra as instituições de ensino superior – as universidades. Vou dar um exemplo. Existe um processo de avaliação de qualidade por parte do Conselho de Educação Superior [Council for Higher Education], que é o órgão que controla as verbas do governo para a educação superior. Há dois anos avaliaram os programas de comunicação e, no ano passado, foi a vez de Ciências Políticas. Na Universidade Ben-Gurion, onde trabalhei, há muita gente tentando avançar com o sionismo, mudar um pouco aquele sionismo clássico, que não via os árabes. Para o sionismo clássico, de quando Israel foi estabelecido, os árabes eram transparentes, parte da paisagem. “Nós viemos conquistar o deserto”, dizia-se. Existem movimentos para mudar isso; desde os anos 1950 e 60, há pessoas tentando reconhecer que isso foi um erro, tentando fazer e dizer coisas que muita gente não gosta que sejam ditas. Eu trabalhei na Ben-Gurion dez anos e não gostava muito dessa gente que já estava cruzando as fronteiras, passando para o outro lado, os chamados pós-sionistas.
O que quer dizer “passar para o outro lado”?
D.S. – “Passar para o outro lado” é dizer que o sionismo é colonialista, que o sionismo não é um movimento de liberação nacional do povo judeu, que está integrado com religião, integrado com perseguições, com o Holocausto, com tudo isso. Enfim, há os que dizem que esse tipo de sionismo é colonialismo e que isso não pode ser assim – e é certo que não pode ser, colonialismo não é bom em nenhuma hipótese. No entanto, essas pessoas deram início, de certa maneira, a um processo de erosão da legitimidade de Israel. E aí entra a questão da avaliação acadêmica, que acabou se transformando em uma espécie de julgamento político. Diga-se de passagem que essa crítica não é ingênua, no relatório diz-se que “a qualidade dos artigos que eles publicam etc. etc.”; enfim, ataca-se a “qualidade” do trabalho, quando de fato o que se quer é fazer uma avaliação das ideias.
Isso aconteceu antes?
D.S. – Não, é a primeira vez que existe um ataque deste tipo. Já houve outros tipos de ataque. Por exemplo, a Universidade de Haifa, há muitos anos era considerada ruim pela direita. Por quê? Porque muitos árabes vivem no norte do país, e vão estudar nessa universidade, e porque existiam por lá movimentos de protesto árabes. Porque, afinal, é uma universidade, é um milieu acadêmico. Essa universidade funciona bem, com os estudantes árabes. Mas, para a direita, isso é ruim. Enfim, acho que esse pessoal pós-sionista dispara no próprio pé; eles se abriram aos ataques da direita. Se você faz as suas publicações na literatura acadêmica e entra em um debate, em uma discussão, tudo bem, mas se você começa a ser ativista, escrever no jornal, escrever na internet…
Fazer propaganda?
D.S. – É isso, eles cruzaram a fronteira entre a academia e o ativismo, e isso está causando muitos problemas e não está ajudando a causa liberal, até porque está chegando ao exército também. O que está acontecendo no exército? Cinquenta por cento dos oficiais no exército hoje são religiosos. O exército está mudando um pouco neste sentido, não necessariamente na relação entre soldados e oficiais religiosos e não religiosos, mas no problema – central – da decisão de quem é a última palavra, do comandante ou do rabino.
Mas existe esta questão?
D.S. – Sim, quando você tem essa massa de oficiais religiosos, em grande parte brilhantes e patriotas, você não pode ignorar o tema. Por exemplo, quando houve a saída de Gaza com Ariel Sharon no governo, muitos soldados religiosos se recusaram a cumprir a ordem. Isso pode ser resolvido. Mas o que você faz quando existe um costume religioso, como aquele que proíbe as mulheres de cantar em público? Para os religiosos, a mulher cantando em público diz respeito à sedução. Mas este, afinal, é um costume de países e religiões repressivas, não do judaísmo. A proibição não está escrita em lugar algum. Há cerimônias públicas, por exemplo a cerimônia realizada em memória de [Yitzhak] Rabin [primeiro-ministro israelense assassinado em 1995], em que soldados começam a sair quando as mulheres cantam – e isso se converte em um problema institucional.
A quem responde o oficial, ao comandante ou ao rabino, há uma confusão de esferas, não?
D.S. – Não é só uma confusão de esferas. Veja, eu não acredito em teoria da conspiração; isso reflete o que está acontecendo na sociedade. O público recebe o governo que merece. Esse governo de direita foi eleito pelo público. Não sei se é conspiração. Mas sem dúvida é uma tendência muito assustadora.
O que aconteceria, por exemplo, se Tzipi Livni [política israelense, ex-líder do partido Kadima]fosse eleita primeira-ministra? Não bateriam continência?
D.S. – Não é só isso. Ela poderia não ser eleita por ser mulher. Fui fazer um exame médico numa destas instituições médicas que temos aqui; você paga ao governo o seguro médico e pode se registrar em uma de quatro ou cinco empresas que fornecem o serviço em Jerusalém. A instituição que escolhi fica em um bairro localizado entre a parte religiosa e a não religiosa da cidade, e há pacientes religiosos e não religiosos. Quando você faz uma reserva de horário, solicitam, se for mulher, que leve o comprovante e vá vestida apropriadamente. Isso é um escândalo! Eles me explicaram o que acontece: se uma menina for à clínica com uma saia um pouco curta, uma camiseta, os religiosos ficam nervosos. Mas o problema é deles, é um problema de hormônios, não de religião. Então, a mídia está no meio dessa confusão toda. Estão tentando intimidá-la. Muitas dessas pessoas estão na fronteira do fascismo.
À esquerda, não há os que acusam o seu discurso de ser uma defesa, em nome da liberdade de imprensa, da imprensa de direita também?
D.S. – Muito pouco. O que acontece é que isso traz à superfície um debate sobre o que é liberdade de imprensa: estão dizendo que a mídia está abusando da liberdade de imprensa. O que existe aqui é um “complexo” da direita, que acha que a esquerda ainda está no governo. Ora, a esquerda não está no governo neste país desde 1977, com exceção do período de Rabin, de três anos [1992-1995], e do [Ehud] Barak [1999-2001], de um ano e meio… A direita gosta de dizer: “Como pode acontecer isso, não vamos deixar…”. Mas o que quer dizer isso? Como, “não vamos deixar”? Ora, eles estão no governo. Agora estão dizendo: “Até que enfim, o governo está governando”. Mas em muitos casos é justamente o governo que não deixa as coisas acontecerem. Quer dizer, há os que dizem que se trata do “complexo de Massada” [referência ao episódio em que judeus resistiram até a morte contra os romanos na fortaleza de Massada no ano 73, optando pelo suicídio em massa em vez de se entregarem], estão levando a gente à situação de Massada, de se suicidar em massa. Por quê? Se você não tem legitimidade no mundo, se você não pode nem fazer guerra nem fazer a paz com os árabes… hoje é muito difícil controlar a balança do poder, esta balança do poder militar. As pessoas têm de saber que Israel não é homogêneo.
O senhor está usando a palavra liberal no sentido da democracia americana…
D.S. – Exatamente… a esquerda do Partido Democrata dos Estados Unidos, criticada pelo [movimento conservador]Tea Party; aqui, é muito difícil, porque os liberais neste sentido estão sendo acusados de traírem o sionismo e, portanto, Israel. Eu trabalhei no Canadá algum tempo; na primeira ocasião, eu trabalhava meio período na universidade e na outra metade do tempo dava palestras sobre Israel; isso foi no tempo do [Yitzhak] Shamir [primeiro-ministrode Israel nos períodos 1983-1984 e 1986-1992] no fim dos anos 80. Muitas vezes eu chegava a algum lugar e tentava explicar que se pode ser muito leal a Israel e ser crítico do governo que está no poder – e muito pouca gente aceitava isso na comunidade judaica.
E hoje isso mudou ou essa mentalidade permanece?
D.S. – Não, hoje isso mudou. Hoje você tem novas organizações, como a JStreet, nos Estados Unidos, que já aceitam as teses da esquerda.Mas a maioria, a liderança das comunidades judaicas do mundo, é conservadora. Acho que, no Brasil, também. Fiz algumas palestras lá [no Brasil]; eu me saí mais ou menos bem, não me atacaram, é gente civilizada. Mas é um problema, Israel sempre é um problema, não importa o que você faça… [risos]
No espectro dos jornais de Israel, hoje, o que ler?
D.S. – O que você quer ler? O Jerusalém Post está bem à direita. O Haaretz, às vezes é acusado de ser de esquerda, mas não é. O Haaretz tem uma tradição liberal, é um tipo de O Estado de S.Paulo, o antigo Estadão. É independente, sempre foi privado.
Pertence a uma família?
D.S. – Sim, é de uma família, os Schocken. Há um jornal chamado Israel Hoje [em hebraico, Israel HaYom], que é de um dos maiores; pertence a um homem riquíssimo, Sheldon Adelson, apoiador de Bibi (e financiador de Mitt Romney). É o jornal do Bibi. O Yedioth Ahronoth também é um jornal de uma família, a Mozes. O Maariv é uma empresa com cotação em Bolsa. O Yedioth já foi o de maior circulação, mas hoje a liderança é do Israel Hoje, porque é gratuito. O proprietário é muito rico e banca o jornal. Agora, em geral todos os jornais estão com grandes problemas econômicos em Israel por causa da TV e da internet. O Yedioth é um jornal bastante estabelecido, não há perigo, mas o Maariv, por outro lado, sempre conviveu com o perigo de fechar, e hoje esse perigo se tornou real. E existem os jornais da direita, como o Makor Rishon.
É um jornal popular?
D.S. – Não muito popular. Esse pessoal que apoia a direita não lê muito jornal, não. Vê televisão, vê essa coisa de cozinha na TV, reality shows.
É também considerado um quality paper?
D.S. – Não, é um jornal partidário, mas tem alguns bons jornalistas, um deles está até no Knesset [parlamento israelense]. Aliás, há uma grande representação de jornalistas no Knesset agora, do Partido Trabalhista, do Likud, do Kadima.
Como o senhor avalia a questão do Campo da Paz?
D.S. – O Campo da Paz não está muito bem representado na mídia tradicional, está muito mais na internet. No Centro Peres para a Paz [organização sem fins lucrativos fundada em 1996 pelo ex-primeiro-ministro e atual presidente de Israel, Shimon Peres, com a finalidade contribuir para promoção da paz entre Israel e seus vizinhos árabes, especialmente os palestinos], há acesso à mídia, por exemplo, e a promoção de jogos de futebol entre israelenses e palestinos. Isso não é um mero jogo, a mídia gosta dessas coisas, mas isso não tem um impacto muito forte no processo de paz. Há um projeto que trabalha crianças em idade escolar e que trata de como utilizar a mídia em relação ao conflito. Houve também projetos relacionados à formação de jornalistas. Há uma ONG chamada Search for Common Ground que financiou um projeto muito interessante de instrução de jornalistas israelenses e palestinos sobre jornalismo profissional em condições de conflito. Há um projeto do nosso centro de pesquisa para treinar professores na análise da cobertura do conflito como tema de estudos, juntamente com uma revista chamada Palestine-Israel Journal. Eles estão trabalhando com o chamado “peace journalism” [ou jornalismo da paz, procura apresentar uma cobertura com destaque para o contexto histórico que gerou o conflito, as iniciativas de paz e as alternativas não violentas de enfrentamento]. Enfim, existem muitos projetos desse tipo, que estão tentando atingir jornalistas individualmente.
O senhor não está desanimado?
D.S. – Não, não estou desanimado, mas preocupado com o rumo dos eventos. A experiência histórica e as conotações deste rumo me preocupam. Por exemplo, a mudança da solidariedade coletiva que no passado foi baseada na justiça distributiva e evitou diferenças sociais exageradas (que existem hoje em dia) para uma filosofia capitalista radical que está mudando as bases da solidariedade – da justiça social ao nacionalismo e à religião.
***
[Eugênio Bucci e Marco Chiaretti são jornalistas]