No curso da longa greve dos professores das IFES em 2012 não foram poucas as assembleias pelo país em que muitos companheiros, revoltados com a “imprensa burguesa”, propuseram uma “chuva de cartas e mensagens para as redações a fim de responder aos seus ataques”. Hoje, face ao ataque nojento à memória do historiador marxista Eric Hobsbawm que Veja publicou recentemente, o assunto do momento entre os companheiros de esquerda é: responder ou não ao fascismo de Veja.
Penso que nos dois casos é uma bobagem, simplesmente porque ao fazerem isso estarão implorando legitimidade para si. Pergunte a um jornalista liberal sobre o seu maior sonho e ele lhe responderá: “Leitores, muitos leitores.” E ainda acrescentará esfuziante: “Meu mercado!” Pergunte a um jornalista fascista sobre o seu maior sonho e ele lhe responderá simplesmente: “Leitores de esquerda, todos eles.”
A matriz do pensamento da imprensa burguesa é liberal. O jornalismo, filho dileto dessa imprensa, nasceu liberal e, rapidamente, ao longo da sua curta história, ganhou muitos irmãos (de sangue) fascistas e alguns poucos (bastardos) intelectuais burgueses de esquerda.
Qualquer resposta é quimera
Numa já longínqua orelha do magistral História da Imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré (1966), Janio de Freitas – homem de bem que há décadas encara corajosamente as terríveis contradições da sua profissão, o jornalismo – escrevia assim:
“[…] à medida que vai penetrando na participação política, através do percurso histórico, Nelson Werneck Sodré vai implantando a consciência, tão pouco difundida, da necessidade de lutarmos […] por uma imprensa que fale ao povo sem o trair, e que viva, não dele, mas para ele.”
Podemos admitir que o objetivo de Sodré – formar consciências do papel histórico da imprensa – e o objeto da luta de Freitas – uma imprensa justa – foram marcados por um idealismo (talvez) datado e impotente para mitigar a virulência das palavras recentes e reincidentes do jornalismo fascista a infestar as bancas de jornais. Porém, prefiro pensar que ambos deixam claro para a nossa reflexão que qualquer resposta ao jornalismo fascista num jornal liberal (que pode, a qualquer tempo, tornar-se fascista) é uma quimera. Uma incoerência que busca legitimidade e brilho na fascinação daquilo que combatemos. O próprio fascismo – diria a ensaísta norte-americana Susan Sontag.
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[Ronaldo Rosas Reis é professor da Faculdade de Educação, UFF]