Seja um tradicional jornal brasileiro ou uma consagrada revista norte-americana, o fato é que anúncios de grandes veículos de comunicação sobre o fim do uso do papel ainda incomoda muita gente. Deixemos de lado posicionamentos políticos ou mesmo as afirmações de que essas atitudes são recheadas apenas de intenções de cortes no quadro de jornalistas. O jornalismo digital ainda briga por migalhas.
Diversos profissionais batem o pé e insistem que o verdadeiro jornalismo só pode ser feito em papel. Abominam os reais benefícios do digital e tentam abafar a real pergunta que deve ser feita nesses casos: qual é o problema de extinguir o impresso e partir única e exclusivamente para o digital? Se o futuro do jornalismo é digital, de qualidade e global, como recentemente colocou o diretor-presidente do New York Times, Arthur Sulzberger Jr., não há o menor empecilho em tentar expandir os tentáculos de alcance de uma mídia.
O digital requer investimentos diferenciados e possibilita que o veículo trabalhe praticamente todas as vertentes de comunicação: texto, vídeo, áudio, infográficos, games, acervos com acesso irrestrito e dezenas de outros formatos que transformam um jornal impresso em um verdadeiro portal jornalístico capaz de produzir muito mais conteúdo para um público muito mais e, principalmente, sem jamais deixar de lado a sua bandeira, que leva consigo credibilidade e reputação.
Uma briga por migalhas
No lugar de investirem pesadamente no digital, já que o consumo de impresso só cai e o acesso à internet em escala global só aumenta, muitos profissionais reacionários preferem entrar em conflitos ideológicos com o argumento – muitas vezes único – de que o que está realmente em conta são os empregos, e não a expansão do jornal.
Na outra ponta dessa situação temos centenas de jornais pelo mundo pedindo que o Google pague pelos seus conteúdos exibidos. Ora, se o maior mecanismo de busca do planeta resolver não mais exibir os respectivos conteúdos, o que pode acontecer de imediato é que muitos sites e portais simplesmente despencarão das pesquisas e terão seus conteúdos “apagados”. Com isso, o tráfego orgânico de muitos irá simplesmente desaparecer e um novo trabalho dentro dos jornais deverá ser feito: “Se não estamos no Google, nós ainda existimos?”
O debate aqui, neste contexto, vale mais pela importância que o gigante da internet tem a nos oferecer. Com os resultados, ganha o Google, ganham os jornais e ganha o usuário, que realiza as pesquisas e recebe uma gama gigantesca de informações para escolher. Sem os resultados, perde o Google, perdem os jornais e, principalmente, perdem os usuários, que não encontrarão tais resultados.
No lugar de produzir algo mais interessante para o digital, muitos jornais preferem manter o impresso. No lugar de andarem de mãos dadas com o Google, muitos jornais preferem simplesmente ignorar o maior mecanismo de buscas do mundo. O jornalismo digital ainda briga por migalhas. Visto de longe tudo parece mais um emaranhado tão complexo que muitas vezes remete à sensação de que nada poderá ser feito. E algumas vezes isso não passa da mais pura verdade.
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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!. É pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo]