Onipresente em países latino-americanos de língua espanhola, o gigante venezuelano de mídia e entretenimento Cisneros não quer desperdiçar as oportunidades que agora se abrem no Brasil, o país da região onde sua presença é mais fraca. Adriana Cisneros, vice-presidente e herdeira do conglomerado, esteve no Rio há duas semanas para participar de um evento de start-ups e, entre outras missões, encontrar o “parceiro certo” que lhe permita ingressar no mercado brasileiro de TV. Ela admite que essa chegada poderia se dar por meio de parceria com SBT ou Rede TV!.
– Quando digo que estamos considerando todas as possibilidades em redes de TV no Brasil, pode-se concluir que essas duas empresas estão, sim, na lista – disse Adriana, em entrevista ao GLOBO. – Historicamente, é difícil comprar uma TV no Brasil sendo estrangeiro. Então, precisamos da parceria certa, e também deve haver boa vontade do governo. E essas mudanças estão começando a acontecer.
O grupo SBT informou, porém, que não está à venda. E a Rede TV! disse que mantém boas relações com o grupo Cisneros, mas não está em negociações.
Negociação com Eike
Em 2002, uma emenda constitucional passou a permitir que estrangeiros tenham capital em empresas de comunicação, o que era proibido. Mas a participação pode ser, no máximo, de 30% – daí a necessidade de um sócio local. Eike Batista já admitiu a um site que estaria interessado no SBT, enquanto nota publicada há algumas semanas no jornal “O Dia” dizia que, na verdade, ele tentava comprar a Rede TV!.
– O problema de você ser um dos homens mais ricos do mundo é que todos acham que você vai comprar tudo no mundo – brincou a executiva, desconversando sobre a possibilidade de o homem “X” ser o parceiro em questão.
Se ocorresse, seria um casamento de bilionários. Fundada em 1929 em Caracas pelo avô de Adriana, Diego Cisneros, a empresa evoluiu de um pequeno negócio de transportes para uma das maiores corporações midiáticas de capital fechado do mundo. Seu conteúdo atinge 550 milhões de pessoas em mais de cem países. Segundo a revista “Forbes”, o pai de Adriana, Gustavo Cisneros, é o homem mais rico da Venezuela e o 255º do mundo, com uma fortuna de US$ 4,2 bilhões.
Nova classe média
Aos 32 anos, Adriana integra a terceira geração da família na empresa. De Nova York, onde mora, Adriana também dirige outros braços da companhia, como a Tropicalia, um resort com apelo sustentável na República Dominicana, e a fundação educacional sem fins lucrativos que leva o nome da família. No Brasil, o grupo esteve presente sobretudo com o provedor de internet AOL e com a rede de TV por assinatura DirecTV, na qual tinha participação. Aliás, segundo ela, o grupo também busca parceiros no Brasil no setor de TV paga.
O que tanto atrai os olhos de Adriana para o Brasil é a convergência entre classe média pulsante, universalização dos serviços bancários e a ubiquidade da tecnologia na vida das pessoas. Ela percebe o momento como “um ponto de inflexão em que todos deveriam estar focados”.
Tecnologia parece ser um de seus assuntos favoritos. E não é à toa: Adriana lidera na empresa a transição da mídia tradicional para a digital. Um dos seus compromissos no Rio é participar de evento da aceleradora carioca de start-ups 21212, onde é mentora de duas jovens empresas.
– Queremos ser a parceira estratégica em língua espanhola para as empresas digitais brasileiras. Sendo nossas parceiras, podemos ajudá-las a ganhar relevância regional, entrando em países como Argentina e Chile – disse.
Jornalista com graduação e mestrado pela Universidade Columbia, em Nova York, Adriana fala sobre essa mudança no universo da mídia com entusiasmo de estudante. Mas um assunto lhe fecha o sorriso: Como é a relação entre os Cisneros e o governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, com quem já tiveram rusgas públicas no passado?
– Bem, nós ainda estamos lá, não estamos?
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[Rennan Setti, de O Globo]