Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa e governo, todos pelo etanol

O fantasma da crise mundial de alimentos voltou a ser tema de reportagens na imprensa internacional durante o final de semana.


No Brasil, Veja deu apenas uma página e meia sobre o assunto, mas não cometeu heresias. Procurou oferecer um quadro amplo das razões do aumento de preços de alimentos básicos, acrescentando àquilo que os jornais vinham descrevendo como causas da crise o aumento dos preços do petróleo – 110% desde o começo de 2007 – e saiu em defesa dos biocombustíveis.


O Globo abriu espaço destacado para o presidente Lula defender o etanol brasileiro, que deve sofrer pressões por conta de interesses dos grandes investidores na indústria do petróleo e enfrenta o desafio das políticas de subsídios dos países mais desenvolvidos.


O Estado de S.Paulo revela que os ataques ao etanol brasileiro não reduziram o entusiasmo dos megainvestidores nem a disposição dos usineiros para aumentar a produção. O jornal paulista anuncia uma safra recorde da cana em 2008, com 32 novas usinas operando até o final do ano. E esclarece que os canaviais estão avançando sobre antigas pastagens.


Faltou alertar que as novas pastagens podem avançar sobre reservas florestais, mas aí já seria querer demais.


Atração de investimentos


A Folha acrescenta que o Brasil também se beneficia das previsões de investimento recorde nas novas reservas de petróleo descobertas recentemente em território brasileiro, o que amplia o cenário positivo da economia para lá de 2012. As perspectivas parecem ainda mais otimistas, segundo o jornal, porque boa parte dos investimentos é de iniciativa de empresas brasileiras de portes variados, o que oferece uma possibilidade de crescimento mais diversificado e sólido.


Para os leitores habituados a manifestações críticas da imprensa ao atual governo, pode parecer estranha a convergência entre o que vem declarando o presidente da República à imprensa internacional e o respaldo que a imprensa brasileira lhe dá. Não que se esperasse uma atitude contrária aos interesses do país somente porque eles são manifestados por um presidente que não conta com a simpatia geral da mídia. É apenas o registro de uma mudança de atitude ditada por interesses que extrapolam as redações: mais do que nunca, as empresas de comunicação precisam que a economia nacional se mantenha estável e em crescimento. O biocombustível e as novas reservas de petróleo são a principal base para a atração de investimentos.


A imprensa pode não gostar de Lula, mas nunca foi de rasgar dinheiro.