O dia 6 de novembro de 2012 simboliza a rendição da Rede Record, mesmo com cinco anos de atraso, àquele simbolismo que grita com um simples gesto: “Não posso com a Rede Globo”. Em 2007, a emissora criou uma cópia malfeita do canal Globo News (24 horas de notícias no ar, via TV por assinatura) com grade de programação similar. O lançamento foi cheio de pompa, com a presença do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A Record News se gabava que entregaria ao telespectador um “jornalismo de qualidade” na TV aberta (UHF).
No dia 6 de novembro de 2012, a combalida Record News põe em prática uma reformulação na forma de fazer telejornalismo com “conteúdo estritamente jornalístico e sua programação vai priorizar as principais informações do dia”, segundo informa a assessoria de imprensa do canal em nota divulgada na segunda-feira (5/11).
Isso dito, claro, porque afirmar a realidade ficaria esquisito. Algo do tipo: “Olha gente, até que tentamos copiar a Globo News: colocamos um jornal a cada hora cheia, alguns programas jornalísticos de entrevistas e de entretenimento, tentamos fazer diferente com alguns jornais regionais… Mas não deu. Então vamos copiar o Band News que é mais fácil…”
“TV de Primeira”
Não há nada de errado no modelo de informar que o Band News utiliza, se firmando no slogan que a rádio de mesmo nome reverbera: “A cada 20 minutos, tudo pode mudar”. Porém há muitos erros na estratégia da Rede Record em querer copiar de forma rasa e mequetrefe a Rede Globo. A inveja é tanta que domina todos os setores da emissora “eclesial” e o jornalismo é um desses. Não bastava ficar atrás do jornalismo quase inexistente do SBT (entretanto, esse sim, com qualidade). Agora, a Band News é parâmetro.
A Record ataca tanto a Globo, não é? Diz que a emissora carioca é aquilo e muito pior… Mas vão lá beber na fonte global. O jornalismo da Record buscou nos globais Ana Paula Padrão e Celso Freitas (não vamos colocar nesta discussão o Paulo Henrique Amorim aqui, ok?) a base para construir um estilo de jornal que levaria a TV ao “Caminho da Liderança” – título da pífia campanha do canal 7 da capital paulista que estampava outra frase de efeito: “Acabou o monopólio”. Almejar ser igual ao líder natural serve como ótimo propulsor motivador, desde que não tenha estrutura em ilusão.
Nessa campanha, o Jornal da Record apresentou reportagem, com números do Ibope, órgão tão criticado pela emissora (quando apresenta números contrário, óbvio). Os dados apresentados mostravam um “crescimento” da Record e “queda” da Globo. Típico voo de galinha. Embora a Record achasse que não. A miragem surgiu à sua frente e decidiu mudar o slogan para “TV de Primeira”. Tá…
Terceira categoria
O que os números do Ibope registraram no primeiro semestre desse ano envergonham. O global casal do Jornal da Record não atraía telespectadores suficientes para se igualar à TV número 1, muito menos para ficar na (vice) liderança. Entre janeiro e junho, o SBT Brasil, jornal no horário nobre do canal 4 paulista, teve em média 1 ponto a mais de audiência do que o badalado JR.
Vergonha para a “TV de Primeira”. Não por o SBT Brasil ter ultrapassado, mas por um dia ter tido a ousadia de achar que alcançaria o topo, sem se preparar com eficiência para tanto.
A Record News joga a toalha branca, desiste de perseguir a Globo News, exemplo de jornalismo bem produzido e consistente, firme (tem seus pesares, mas nada tão escandaloso). Agora vai brigar em audiência com o Band News, que quando surgiu não se moldou no canal de notícias da Rede Globo. Elaborou um estilo próprio, característico. Vai ter como rival aquela emissora que um dia caminhou rumo à liderança.
Outrora (vice) líder, a Rede Record amarga o lugar de número 3 no gosto popular dos moradores da Grande São Paulo, região em que o Ibope se concentra ao fazer suas medições de audiência. A Record News está a caminho do mesmo posto.
Ambas se encontrarão no lugar que mais as definem: TVs de terceira categoria.
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[João da Paz é jornalista, São Paulo, SP]