‘09/03/07
Hoje não circulará a Crítica Interna do Ombudsman
08/03/07
A manchete da Folha de hoje – ‘Divergências precedem visita de Bush’ – é igual à manchete do ‘Globo’ de anteontem – ‘Divergências já ameaçam sucesso da visita de Bush’.
No ‘Estado’, na edição final, ‘Brasil recebe Bush, mas recusa oposição a Chávez’. O jornal começou a circular com outra manchete, ‘São Paulo facilita o controle da gravidez’. O ‘Globo’ jogou a visita do presidente dos EUA para o pé da capa: ‘Bush chega hoje sob protestos’. No ‘Valor’, ‘Lula vai pedir a Bush queda gradual na tarifa do etanol’. Mas a manchete do jornal econômico é outra, ‘Governo busca saída para viabilizar usina no Ceará’.
O ‘Globo’ destacou o resultado das votações no Congresso do pacote de segurança: ‘Preso por crime hediondo ficará mais tempo na cadeia’. Na Folha, ‘Congresso limita benefícios a presos’. E, no ‘Estado’, ‘Câmara aprova agilização de julgamento’.
A iniciativa positiva da Folha de promover um debate sobre clima com o cientista Carlos Nobre se perde na chamada sem qualquer apelo da Primeira Página. A Edição Nacional sequer se refere à sabatina: ‘Ciência – País sabe pouco sobre impactos do efeito estufa’.
É muito boa a foto de Lula na capa da Folha. A melhor entre os registros feitos pelos três grandes jornais.
Bush
Ficou confusa a Primeira Página da Edição São Paulo da Folha. A visita de Bush está espalhada pela capa sem critério gráfico. Começa com uma manchete que fala em divergências, segue com um título sobre os transtornos do trânsito na cidade e termina com uma foto (‘Hostilidade’) sobre protestos a Bush na Câmara perdida no pé da página, já sem qualquer conexão com a manchete que fala em divergências e protestos.
A cobertura na Edição Nacional está uma barafunda. A repercussão do governo brasileiro ao relatório crítico do Departamento de Estado dos EUA sobre a situação dos direitos humanos no Brasil ficou perdida no penúltimo parágrafo da reportagem que abre o caderno, ‘Divergências e protestos marcam chegada de Bush’ (A4). Embora seja o fato mais importante a caracterizar as divergências no dia de ontem (tanto que foi para a linha fina da manchete), a nota do Itamaraty entra num balaio de protestos como se fosse mais um: ‘Até o Ministério das Relações Exteriores protestou ontem, mas contra… etc’.
Os protestos organizados pelo PT, que deveriam estar junto com os outros protestos noticiados na página A4, estão na página A5, que trata do esquema de segurança (‘Segurança terá 4.700 brasileiros’).
O jornal não deu destaque para a reação de Serra, governador de São Paulo e que também receberá Bush, ao documento dos EUA sobre direitos humanos. Foi a resposta mais direta e deveria ter tido algum realce.
É Felipe Calderón, e não Felipe González, o nome do presidente do México (‘Toda Mídia’, A7).
07/03/07
O ‘Estado’ traz entrevista com o presidente dos Estados Unidos. Apenas ele e quatro outros jornais, um de cada país da América Latina que Bush visitará a partir de amanhã, participaram da entrevista. É um ponto para o principal concorrente da Folha. A manchete: ‘Estatismo de Chávez só traz mais miséria, diz Bush’.
Descontada a entrevista de Bush, a minha avaliação é que a Folha acertou na manchete, ‘Governo corta rendimento da poupança’. A medida do Conselho Monetário Nacional altera também o cálculo do FGTS e atinge, portanto, uma massa imensa de trabalhadores e poupadores que serão prejudicados para, segundo a Folha, atender aos bancos. O ‘Valor’ também deu destaque para a medida do governo, mas com outro enfoque: ‘CMN muda TR e abre espaço para novos cortes nos juros’.
O ‘Globo’ está mais preocupado com os gastos públicos e tirou a sua manchete da reunião de Lula com os governadores – ‘Pacto de governadores com Lula dribla lei fiscal’.
A Folha conseguiu evitar a cantadíssima foto de Lula com os governadores e publicou duas imagens impactantes, a da favela de São Paulo diante do hotel onde Bush deve se hospedar e a dos policiais ‘revistando’ um morador de uma favela carioca.
A Primeira Página da Edição Nacional ignorou a nova reportagem da Folha sobre o orçamento para os jogos Pan-Americanos do Rio: ‘Gasto público com o Pan aumenta 684% em 5 anos’. Toda vez que o jornal se debruça sobre o tema faz emergir um novo escândalo.
Outro lado
As respostas da Redação a duas cartas publicadas hoje no ‘Painel do Leitor’ (A3) confirmam que, apesar das orientações e campanhas internas, o sagrado mandamento de se ouvir o outro lado envolvido nas apurações ainda é desrespeitado.
O que pede o advogado e jornalista André Aron (‘Aviação’) é simples: que toda vez que o jornal eleger o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula, como personagem, deve ouvi-lo. É o mínimo.
A resposta do jornal para o jornalista Carlos Nascimento (‘TV’) remete a uma questão também simples: por que o jornal tem de publicar uma nota sobre o comportamento (negativo, no caso) de uma pessoa sem ouvi-la? O que perderiam os leitores da Folha se a nota não fosse publicada naquele dia e só saísse depois de o jornal entrevistar o jornalista? Nada, os leitores não perderiam nada. O jornal ganharia, em credibilidade.
Bush
O jornal deveria ter trazido já na edição de hoje a reação do governo Lula e de alguns governos estaduais, como os do Rio e de São Paulo, ao relatório do Departamento de Estado sobre a situação dos Direitos Humanos no Brasil (‘Relatório dos EUA critica caso do dossiê’, A9 na Edição Nacional).
Segundo o ‘Estado’, o PT está fazendo uma grande convocação da militância para manifestações contra o presidente Bush, ‘PT convoca militância para gritar ‘fora, Bush’’.
Violência
Duas ponderações em relação à cobertura de mais um caso de balas perdidas (capa de ‘Cotidiano’):
– O caso de ontem no Rio, no morro do Alemão, merece destaque por ser grave e por ocorrer na seqüência de outros casos de balas perdidas. Para o leitor de São Paulo, os casos de ontem e de anteontem no Rio remetem para os casos que presenciou em São Paulo há poucos dias. A Folha, no entanto, já esqueceu dos casos ocorridos em São Paulo. Não se referiu a eles ontem, não se refere a eles hoje.
– O secretário de Segurança do Rio expõe hoje, de forma claríssima, sua estratégia para enfrentar os bandos que ocupam as favelas do Rio (‘Ação em favelas é necessária, diz secretário’). É uma ótima oportunidade para o jornal iniciar um debate, em bases mais concretas, sobre política de segurança aplicada. A estratégia que o governo do Rio está adotando é realmente a melhor forma de enfrentar os bandos? O custo benefício de tantas baixas inocentes justifica a tática escolhida? Há alternativas?
O infográfico ‘Raio X’, na página C3 da Edição Nacional (não tive condições de ver como ficou na Edição SP), informa que o Complexo do Alemão é ‘formado por 5 bairros (Bonsucesso, Penha, Ramos, Olaria e Inhaúma)’. Está errado. Ele é formado por favelas ou morros que se estendem por áreas daqueles cinco bairros.
‘Esporte’
Parece haver um entendimento de que em ‘Esporte’ vale tudo. Ainda assim me soa exagerado o jornal escrever, a propósito dos jogos de ontem da Copa dos Campeões da Europa, que ‘o fracasso brasileiro foi puxado por Ronaldinho’ (‘Ronaldinho abre fila de brasileiros eliminados’, D2 da Ed. Nacional). Uma coisa é o leitor ter interesse no desempenho dos jogadores brasileiros na Europa; outra é reduzir o campeonato com alguns dos melhores times do mundo ao desempenho dos brasileiros. Da mesma forma que o ufanismo que atribui apenas aos brasileiros o sucesso de clubes europeus é pouco ou nada jornalístico, assim também o enfoque de hoje da Folha é pouco ou quase nada jornalístico.
06/03/07
A imagem do dia é a dor de Edna Ezequiel –desalentada, na Folha e no ‘Globo’; desesperada, no ‘Estado’. Embora rotina, o horror voltou às capas dos jornais com a história da estudante Alana Ezequiel, morta no Rio: ‘Bala perdida mata menina de 12 anos’, é a chamada da Folha. Mas os casos de São Paulo ocorridos nos últimos dias já desapareceram da Folha, na Primeira Página e internamente. A tragédia do Rio fica, assim, sem memória e sem contextualização, como se fosse um caso isolado.
Folha e ‘Globo’ destacam a visita de Bush à América Latina, mas com enfoques diferentes. Na Folha, ‘Bush lança pacote de ajuda anti-Chávez’; no ‘Globo’, ‘Divergências já ameaçam sucesso da visita de Bush’. A Folha também tratou das desavenças, mas de forma explícita apenas na Edição São Paulo: o título ‘Lula cobra dos EUA tarifa mais baixa sobre álcool’, da Edição Nacional, foi mudada para ‘Brasil e EUA já divergem sobre tarifa do álcool’.
O ‘Estado’ continua atento à situação na China e no mercado financeiro: ‘China decide crescer menos e bolsas sofrem novo abalo’ (manchete). Na Folha, as mesmas notícias vieram com outros enunciados e não estão associadas: ‘China amplia gastos sociais e prevê 8% de crescimento’ (Mundo) e ‘Bolsas voltam a enfrentar dia de perdas em todo o mundo’ (Dinheiro).
Política
Sumiu, na Edição São Paulo, a repercussão na Câmara da reportagem da Folha (e do ‘Correio Braziliense’) sobre nepotismo (‘Chinaglia quer que o Congresso decida se vai proibir nepotismo’).
E só apareceu na Edição SP a repercussão em Minas da reportagem da Folha sobre o ‘mau negócio’ feito pelo governo mineiro (‘PT quer que caso do Banco Open seja apurado’).
Qualquer uma das duas notícias tem mais importância nacional do que a filiação, já esperada, de Blairo Maggi no PR, mantida nas duas edições.
Segundo o ‘Estado’, o grupo do ministro Tarso Genro no PT lançou novo documento para o 3º Congresso em que volta a atacar o Campo Majoritário.
Protecionismo
Ficou perdido na penúltima página de ‘Dinheiro’ o ataque do ministro da Agricultura francês ao Brasil – ‘Ministro francês diz que Brasil é ‘predador’’ (B15). A reportagem teria tido mais destaque se próxima do noticiário diplomático que envolve comércio exterior, como as negociações com os EUA em torno do etanol.
05/03/07
A Folha destaca dois levantamentos próprios e de grande interesse. Os resultados são escandalosos, na educação e na política: ‘Todas as escolas estaduais de SP têm nota abaixo de 50’ (manchete) e ‘Parlamentares empregam 68 parentes como funcionários’. O ‘Globo’ também cruzou dados de arquivos já disponíveis para chegar a uma conclusão igualmente escandalosa: ‘Alerj [a Assembléia Legislativa do Rio]: 55% dos deputados respondem a processos’.
O ‘Estado’ fez uma manchete tímida (duas colunas à esquerda) para os gastos militares dos chineses que preocupam os Estados Unidos: ‘China eleva orçamento de defesa em 17,8%’.
Política
Embora incompleto, veio em boa hora o levantamento feito pela Folha de casos de nepotismo na Câmara dos Deputados. É importante que o jornal espere as novas nomeações e atualize o quadro. E deveria fazer o mesmo levantamento na Assembléia Legislativa de São Paulo.
Meio Ambiente
Está boa e é oportuna a entrevista com o diretor-executivo do Pnuma. As observações dele sobre o comportamento do Brasil nos fóruns internacionais – ‘Brasil é pouco pró-ativo, afirma chefe do Pnuma’, A10 – exigiam, no entanto, uma repercussão junto ao Ministério do Meio Ambiente.
Bolsa
As reportagens e artigos publicados no final de semana a respeito da crise nas bolsas deixavam claro que ninguém sabe ainda se a tal turbulência iniciada na China acabou e que conseqüências ainda pode acarretar. Por isso, me pareceu um tanto arriscado demais o jornal ter tentado, na edição de hoje, aconselhar os investidores que aplicam na Bovespa – ‘Investidor deve manter sangue-frio, dizem especialistas’ (capa de Dinheiro).
Há trechos dúbios e conselhos óbvios (como quando sugere ‘cautela e diversificação’, o que serve para qualquer situação), mas a mensagem principal da reportagem induz o leitor a permanecer na Bolsa. Reproduz o conselho de que ‘não é indicado que o investidor fuja do mercado’ _ou seja, tenta convencê-lo a agüentar o tranco e esperar para ver no que vai dar, mesmo diante da assumida dificuldade de previsões.
Tenho dúvidas se a reportagem ajudou de fato o leitor da Folha que aplica em ações ou fundos. Pareceu mais atender às preocupações da Bovespa com a fuga de pequenos investidores.
Cotidiano
O jornal acerta ao explorar melhor, na edição de hoje, os dados do Enem (‘Nenhuma escola estadual na cidade de SP obteve nota azul’, um levantamento impressionante da situação educacional da cidade de São Paulo e capa de Cotidiano) e do Mapa da Violência (‘O problema da violência está nas áreas metropolitanas’, C6 da Ed. SP).’