Apenas transformar a informação em texto, áudio ou vídeo. Para que as pessoas possam entender e contextualizar. E só. É isso o jornalismo, a par de todas as demais definições ou teorias que tentem pregar ou aperfeiçoar. A função é só informar. E para isto é preciso pensar, estudar sociologia, economia, ciências políticas, cultura nacional, história, geografia, artes, até literatura e, especialmente, linguagens. Daí que jornalismo não é feito de dons e nem vem da alma e nem é feito pelo coração. Jornalismo é mesmo coisa da sua cabeça, necessidade de pensar.
Não tem nada disso de contar histórias legais ou especiais, ou dar voz às minorias, ou ouvir o povo, ou fiscalizar os políticos, ou entreter. Cada uma dessas coisas já tem algo específico com estas funções e não é o jornalismo. Embora o jornalismo possa também exercê-las, indiretamente, se servir como método ou estratégia para informar a sociedade. Mas não é o essencial, nem o motivo. Se quiser ser jornalista por isso, desista. Melhor ser assistente social, político, médico, promotor público ou animador de palco para festas de bairros.
Sabe-se, porém, que o capitalismo faz com que a informação seja transformada em notícia e que esta seja um produto, algo com a etiqueta “leia-me”. E para isso muitos e muitos jornalistas por aí se utilizam de diversas prerrogativas estapafúrdias para que o “leia-me” seja de fato cumprido. Dentre estas estão a sensibilização do leitor, ou sua representação, ou o denuncismo. Jornalismo não denuncia, apenas informa que algo ocorre. Acontece que jornalistas tomam esse fato como responsabilidade, para se tornar defensores de qualquer coisa e ideia. Aquela coisa de jornalista-herói. Clark Kent, Peter Parker.
A função social
Ocorre que assim perdem-se todos. O jornalismo principalmente, e ainda é o primeiro. De algum modo ele nem mesmo chega a existir. Já li gente graúda escrever que jornalismo é contar histórias. E fico sempre me perguntando qual o cunho social disso. Menos com lições de moral. Ninguém no jornalismo tem moral para isso, ainda mais por nem fazer jornalismo (tendo ou não passado por faculdades). O fato vale também para as reivindicações populares. Aquilo de “o povo fala” não é jornalismo, é mais um púlpito. E, de fato, há lugares para o povo falar, que deveriam ser mais usados. Câmara dos Vereadores, por exemplo.
Em resumo bruto, e a grosso modo, o jornalismo é muito mais crível como um aviso, do tipo: “Olha só, esse tipo de coisa aqui acontece, algo tem de ser feito.” Ou algo como: “Está acontecendo isso e o que andam fazendo é isso, mas o que deveria ser feito é aquilo.” E, a partir disso, é com os outros, é quem estudou muito e pensa para isso. Claro, sem esquecer que o jornalista também é um cidadão e, por assim ser, tem sua função social e com ela a obrigação de estudar e pensar ainda mais para informar a sociedade. Sem mais que isso. E muito menos sem isso. Sem ser com alma. Só com a cabeça mesmo.
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[Vandré Abreu é jornalista, Goiânia, GO]