Foi azar de George Entwistle assumir o cargo de diretor-geral da BBC logo depois de terem sido feitas acusações de que a emissora interrompeu a investigação sobre o comportamento pedófilo do apresentador Jimmy Savile. Entwistle sobreviveu à primeira tormenta – até porque ele não ocupava o cargo quando a decisão de abandonar a investigação foi tomada. Mas sua inabilidade de lidar com a crise o deixou vulnerável. Quando uma segunda controvérsia surgiu, envolvendo o mesmo programa e revelações imprecisas sobre abuso sexual, sua credibilidade foi arruinada. Em tais circunstâncias, ele estava certo em renunciar.
Parte do papel formal de um diretor-geral é ser editor-chefe da empresa. Isso deve envolver assumir responsabilidade quando for exibido conteúdo que não atinjam os padrões esperados pela BBC. Enquanto a decisão de abandonar a investigação sobre Savile possa ser debatida, nada pode ser dito por não ter sido feito nenhuma tentativa para colocar o apresentador frente às acusações feitas a ele. Entwistle pagou um preço caro por delegar controle editorial. O tamanho e a complexidade da rede demandam alguma delegação editorial, mas isso não absolve o diretor-geral da necessidade de se estar atento e, se necessário, intervir. O sucessor de Entwistle deve aprender com seu erro.
Tentativa de restaurar confiança
O diretor-geral em exercício, Tim Davie, afastou dos cargos Helen Boaden, chefe de notícias, e Stephen Mitchell, seu vice, no seu segundo dia de trabalho, reforçando a necessidade de deixar claro quem estava comandando a operação de notícias da rede.
A iniciativa foi tomada depois que Lorde Patten, presidente do conselho da BBC, defendeu o pagamento de 450 mil libras (em torno de R$ 1,48 milhão) a Entwistle – valor refente a um ano de salários que políticos, incluindo o primeiro-ministro, dizem ser difícil de justificar. Entwistle estava no cargo há apenas 54 dias. Davie também disse que se desculparia pessoalmente a Lorde Alistair McAlpine, ex-tesoureiro do Partido Conservador, que foi erroneamente relacionado ao escândalo de abuso sexual em matéria do Newsnight. Ele concordou em receber 185 mil libras (em torno de R$ 610 mil), em um acordo com a BBC. O programa exibiu, ainda, um pedido de desculpas no ar. Também serão tomadas ações disciplinares contra a equipe da BBC por falhas inaceitáveis no programa. Depois de tal episódio, Peter Rippon, editor do Newsnight, renunciou ao cargo.
Desabafos no Twittter
Lorde McAlpine e sua equipe de advogados vasculharam tuítes e outras referências ao ex-tesoureiro para estabelecer maneiras de processar diversos usuários de Twitter por difamação. George Monbiot, colunista do The Guardian, por exemplo, teria feito comentários difamatórios sobre ele na internet. “As pessoas usam a internet como se estivessem em uma conversa para espalhar rumores e não compreendem completamente os riscos legais”, disse Chris Hutchings, parceiro da empresa jurídica Hamlins.
Os comentários não se restringiram a McAlpine. Victoria Derbyshire, apresentadora da Radio 5 Live, chegou a escrever que Entwistle havia “finalmente” renunciado. Norman Smith, correspondente político da rede, tuitou que Helen Boaden não iria embora sem brigar, caso a BBC tentasse demiti-la. Robert Peston, editor de economia da BBC, usou seu blog para refutar a acusação de que Helen estaria feliz em ter sido afastada do seu cargo.
Diante de tais acontecimentos, Fran Unsworth, nova chefe de redação temporária da BBC News, pediu à equipe que não poste comentários no Twitter sobre problemas da rede. “Ajudaria se alguns de nossos problemas não fossem divulgados publicamente em redes sociais e em páginas da imprensa nacional”, escreveu ela, em email à equipe. “Precisamos de um sentido coletivo para restaurar a confiança nas notícias da BBC”.
Fran reforçou que está no cargo temporariamente e disse que Helen e Mitchell voltariam a seus postos assim que Nick Pollard, ex-chefe da Sky News, concluísse sua revisão sobre os motivos que levaram ao cancelamento da investigação do Newsnight que denunciaria os abusos sexuais de Savile. Informações do Financial Times [12/11/12], de Hannah Kuchler [Financial Times, 12/11/12], de Salamander Davoudi [Financial Times, 13/11/12], de Robert Budden, Hannah Kuchler e Helen Warrell [Financial Times, 16/11/12], de Gordon Rayner [The Telegraph, 14/11/12] e de Alan Cowell e John F. Burns [The New York Times, 14/11/12].