Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Desafios de um ranking universitário

O interesse despertado pelo Ranking Universitário Folha (RUF) mostrou que a qualidade das universidades é um tema que mobiliza a sociedade, não só estudantes em busca das melhores opções, mas também a comunidade. Os rankings internacionais passaram recentemente a mirar países emergentes. O prestígio das universidades é um índice de alta pontuação e as universidades brasileiras têm a desvantagem de serem jovens. Ademais, o forte foco em pesquisa desses rankings permite que apenas um número limitado das 191 universidades do país seja contemplado. Daí a relevância de um ranking nacional, no qual prestígio e pesquisa estejam presentes, mas contextualizados e com espaço para aferir outros predicados acadêmicos.

Dessa maneira, o RUF pontuou quatro atividades: pesquisa (55%), ensino (20%), reputação entre os profissionais de contratação (20%) e inovação (5%). Nos rankings internacionais, o item pesquisa recebe em média 75% das pontuações – algo justificável, pois o foco são universidades em que virtualmente todo o corpo docente é ativo em pesquisa. No Brasil, as universidades voltadas para a pesquisa somam apenas cerca de 10% do total. No RUF, o uso dos indicadores da Web of Science, um indexador internacional de artigos científicos, permite uma visão internacional e objetiva de produção e impacto da ciência de uma universidade.

O total de publicações mostra o vigor científico da instituição, pois a base indexa 10% das melhores revistas científicas mundiais. É comum ir além, normalizando (relativizando) o total de citações pelo número de publicações. (Todo trabalho científico traz referências a estudos anteriores, “citações”. Quanto mais impacto um estudo tem, mais citações ele tende a receber.)

Prestígio em pesquisa

Esse índice foi pouco pontuado no RUF, pois várias universidades nacionais com pouca atividade de pesquisa têm núcleos reduzidos de docentes com valores altos de citações por artigo publicado. Evitou-se, assim, a distorção de transferir o alto impacto de um grupo para toda a instituição. Optou-se por outros indicadores normalizados: publicações por docente e citações por docente. A base nacional SciELO de publicações foi também utilizada, pois cobre significativamente a área de humanas, ao contrário da Web of Science. Mesmo recebendo baixa pontuação, retirou da invisibilidade algumas universidades com forte predominância de pesquisa nesta área.

Inovação tecnológica é ausente na maioria dos rankings internacionais. A baixa atividade das empresas brasileiras no setor trouxe uma expectativa de envolvimento maior da universidade. Porém, ela concede baixa prioridade à área, daí a baixa pontuação. A medida utilizada, número de pedidos de patentes, afere mais o interesse institucional do que eficácia na atividade.

A reputação junto aos profissionais de contratação, medido por pesquisa do Datafolha, trouxe visibilidade a várias universidades privadas. Consideraram-se as vinte carreiras mais procuradas, número que poderá ser aumentado na próxima versão do RUF. Uma enquete com os próprios egressos traria uma medida mais objetiva de empregabilidade. A qualidade de ensino foi avaliada por enquete do Datafolha junto a pesquisadores do CNPq. Houve indícios de que o prestígio em pesquisa pesou fortemente. Certamente um critério independente seria desejável, como, mais uma vez, uma enquete com os egressos.

Duas classes de universidades

O RUF deixa clara a existência de dois grupos de universidades brasileiras: as fortemente voltadas à pesquisa e as que cumprem o mínimo de exigências impostas pelo MEC para ter o status de universidade. O indicador de citações por número de docentes mostra isto claramente: apenas 17 universidades alcançaram valores superiores a 1; 96 universidades ficaram abaixo de 0,1.

No limbo, entre os dois valores, estão 78 universidades. Estímulos para que estas busquem se fortalecer em pesquisa adviriam de um reconhecimento formal do MEC para duas classes de universidades, com exigências mais rigorosas para universidades de pesquisa.

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[Rogerio Meneghini, professor aposentado do Instituto de Química da USP, é coordenador científico do programa SciELO de revistas científicas brasileiras. Foi responsável por medir a produção científica no RUF]