Creio que seja inútil ficar cobrando a atenção da mídia para a organização da população para as mais variadas causas. Infelizmente. Já publiquei neste mesmo espaço uma crônica/artigo sobre o tratamento que a ‘grande mídia’ dá as manifestações populares. Utilizo agora este espaço para informar e dar os devidos créditos a quem vem acompanhando a mobilização das famílias sem-teto em São Paulo.
No dia 05 de fevereiro, várias pessoas – que não têm moradia e ocupam imóveis desocupados no centro da capital paulista – montaram acampamento ao lado da sede da Prefeitura de São Paulo. A mobilização, promovida pelo Movimento Sem-Teto do Centro – MSTC – chamava a atenção do poder público para a questão do déficit habitacional em São Paulo. Segundo o Ministério das Cidades, há mais imóveis abandonados ou subutilizados em São Paulo que famílias vivendo nas ruas. Ainda assim, a Prefeitura promete despejar as famílias que estão abrigadas em edifícios no centro da cidade, como o Prestes Maia – símbolo da resistência do MSTC – abandonado há 20 anos, com seu proprietário devendo milhões em IPTU, e que teria a reintegração de posse no último dia 25 de fevereiro. Não seria mais justo e econômico a Prefeitura aproveitar estes imóveis – claro que com uma vistoria, visando às condições de segurança das estruturas – e regularizar a permanência das famílias nos locais que elas já utilizam como moradia? Por que há tanta resistência para que estas famílias possam morar no centro da cidade?
Um passo em frente
As famílias limparam esses imóveis e, além de utilizarem os espaços como moradia, montam bibliotecas, principalmente para as crianças, mostrando a preocupação com a educação. Característica esta que pode ser verificada também em outros movimentos.
A mobilização, que contou com o apoio de inúmeras pessoas, de diferentes ramos profissionais, promovendo diversas atividades culturais, conseguiu que alguns representantes do MSTC fossem ouvidos por senadores, ministros e secretários. No dia 16 de fevereiro, o acampamento foi desmontado após acordo com as três esferas do governo, quando ficaram encaminhadas algumas propostas e, mais importante, o adiamento da reintegração de posse do edifício Prestes Maia por mais 60 dias.
Trabalho dos alternativos
A chamada ‘grande mídia’ não dá destaque à mobilização e ignora as significativas vitórias do movimento. Se tivessem ocorrido confrontos violentos entre polícia e manifestantes, talvez ela estivesse de prontidão para (des)informar o leitor, ouvinte ou telespectador. Faça uma simples pesquisa: entre nos sites dos jornais e revistas de maior circulação no país e nas emissoras de TV e faça uma busca para ver quantas notícias você encontra e qual o conteúdo explicativo delas.
Por outro lado, a revista Caros Amigos, o Centro de Mídia Independente e outros tantos sites e blogs, como o EIA e o Integração sem posse, trazem informações sobre a questão do déficit habitacional em São Paulo e as ações do movimento. Estamos atentos ao descaso de uns e ao importante trabalho do MSTC e da ‘mídia alternativa’.
Algumas fontes. Informe-se:
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Fórum Centro Vivo – Dossiê violações dos direitos humanos no centro de São Paulo: propostas e reivindicações para políticas públicas**
Prefeitura de São Paulo – O déficit habitacional e a invasão do edifício Prestes Maia, 02/03/2006:**
Ministério das Cidades – Márcio Fortes recebe líderes do Movimento Sem-Teto, 14/02/2007; Prestes Maia: ameaça de reintegração e quatro anos de descaso, 05/02/2007:**
Centro de Mídia Independente – Resultado das reuniões entre MSTC e governos, 26/02/2007; Canudos é aqui!, 17/02/2007; Acampamento diante da prefeitura é desmontado após acordo, 17/02/2007; Acampados/as na frente da Prefeitura exigem moradia digna, 07/02/2007:**
Caros Amigos – ZIBORDI, Marcos e KAJIKI, Ana Yumi, ‘A Saga dos Sem-Teto‘**
EIA – Experiência Imersiva Ambiental**
Integração Sem Posse******
Sociólogo, São Paulo, SP