O tema ‘educação’ tornou-se mais do que nunca preocupante e oportuno, a salvo dos oportunistas (pelo menos, assim espero).
A possibilidade de nova troca de orientação no Ministério da Educação deixara a muitos perplexos e terá contribuído para que o ministro Fernando Haddad acelerasse a criação de um ‘pacote’ de medidas emergenciais. O pacote acabou de ser aberto.
Em nível nacional, e em particular em São Paulo, passados tantos anos, caiu a ficha: os tucanos tiveram tempo de sobra para provar que a educação era uma de suas prioridades. E não era. Os resultados (o aproveitamento real dos jovens) são decepcionantes. No caso gritante de São Paulo, quem nos dará explicações? O ex-governador Geraldo Alckmin, fora do país, descansa do frustrante 2006. O ex-secretário de Educação, Gabriel Chalita, o crucificado da vez, poderá dizer-nos: ‘Está tudo consumido…’
Aula do ‘professor’ Serra
Veio manifestar-se, então (sinal de coerência), o governador José Serra. Espantoso foi descobrir que tinha em mente alguns parâmetros didáticos, um método pessoal de ensino:
‘Estou insistindo muito na volta de procedimentos tradicionais de ensino, como memorizar a tabuada, que é uma coisa que saiu de moda. Não vejo outra maneira de saber quanto é 9 vezes 7 senão memorizando que é 63. Os jornalistas aqui são jovenzinhos e estudaram pelos métodos construtivistas. A pessoa entende como chega lá, mas não sabe de memória. Defendo que se memorize a tabuada. É memorex.’ (O Estado de S.Paulo, 08/03/2007)
Dias depois, 13 de março, foi pessoalmente mostrar aos jornalistas e professores (jovenzinhos ou velhinhos) como se ‘constrói’ uma aula. O Jornal da Tarde registrou o evento, na Escola Estadual Paulo Monte Serrat. A aula durou 50 minutos para uma classe de 37 alunos da 4ª série. Entre os recursos adotados, o ‘professor’ Serra (as aspas são do próprio JT) utilizou exemplares do… Jornal da Tarde. Em troca desse instigante material didático, concedeu entrevista exclusiva ao jornal doador.
O método didático ‘José Serra’ de ensino ‘usa’ metáforas futebolísticas (a exemplo do que o presidente Lula faz em seus pronunciamentos) para animar os alunos. Outro ponto fundamental: motivar os estudantes a ler em voz alta, com o intuito de verificar se fazem as pausas corretamente, conforme a pontuação e, de quebra, mostrar-lhes na prática o quanto é importante ler o jornal (de preferência o Jornal da Tarde).
Um método assumidamente démodé. Pobres de nós!
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br