Pelo quadro “As Meninas do Jô”, ele deveria merecer assento, com direito a levar seu mordomo chileno, o simpaticíssimo Alex, no Instituto Milenium. O quadro é tão admirado pelos reacionários que circulou um e-mail apócrifo, típico de teorias conspiratórias da direita, solidário ao quadro e indignado porque O Programa do Jô tirou do ar (sem qualquer satisfação ao público) o quadro “As Meninas do Jô” que era apresentado às quartas-feiras, “onde as jornalistas Lilian Witifibe (sic), Ana Maria Tahan, Cristiana Lobo, Lúcia Hippólito e, por vezes, outras mais, traziam a publico todas as falcatruas perpetradas por essa corja de corruptos que se apossou do país”.
Antes que digam “lá vem mais um ressentido com o sucesso de alguém”, eu me antecipo e digo que gosto do Jô. Tive a oportunidade de me deliciar com entrevistas fantásticas feitas por ele. Aliás, gostei muito do programa dele com o Gilberto Gil na sexta-feira (07/12/12). Um programaço. Se fosse mais jacobino, eu faria como alguns amigos radicais que não gostam dele e não o assistem.
As meninas do Jô aparecem e desaparecem de cena ao sabor de escândalos. Escândalos sob o governo do PT, bem entendido. Não me lembro delas no tempo das privatizações do governo FHC. Espero vê-las quando entrar no STF o chamado mensalão tucano.
O recurso do controle
No programa do dia 05/12/12 houve um momento impagável. Margarida Lacombe, professora da UFRJ e jurista que estava participando do programa (ela não é presença permanente, como as demais; está ali porque foi uma das analistas da Globonews do julgamento do mensalão), em dado momento, questionou o papel da imprensa por achar que não houve por parte dela a mesma cobertura dos erros cometidos durante o julgamento pelos ministros do STF. Caíram em cima dela. Lilian Wite Fibe – que está me parecendo uma Sarah Palin tupiniquim quando sai de sua especialidade, sua zona de conforto – arregalou os olhos e a fulminou, com seu acentuado sotaque paulista: “Não estou entendendo?” O Jô fez um ar de muxoxo e manifestou sua contrariedade dizendo que, ao contrário, houve vários registros, por parte da imprensa, das contradições, das controvérsias (suponho que Margarida Lacombe estava se referindo, em especial, à discussão sobre o domínio do fato que teve questionamento do modo adotado pela maioria dos ministros do STF, pelo próprio autor da tese, o jurista alemão Claus Roxin) e de supostos desvios em relação à jurisprudência até então adotada. Ele, Jô, foi seguido nesta avaliação por todas as demais “meninas”, com exceção da Margarida, é claro. De minha parte, entendi que esta última estava se referindo à ênfase. Em jornalismo isto faz toda a diferença. Apesar de não ser jornalista, sei que uma coisa é uma notícia dada lá pelo meio do jornal e outra é a dada em destaque, como manchete na sua capa, na primeira página.
Ainda bem que tenho o recurso do controle da TV para optar por outros programas quando o Jô envereda para esta cruzada antipetista e pouco democrática, por não obedecer ao princípio da contradição. Opções que diminuíram com o fim da reprodução do programa mais arejado e plural politicamente e, por igual, divertido do David Letterman, que foi para a Record e depois sumiu.
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[Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS]