No intervalo de quatro dias, o público terá conhecido duas novas “promessas” da música brasileira: os vencedores dos programas Ídolos e The Voice Brasil. A final do show de calouros da Record ocorreu na quinta-feira (13) e a da Globo está programada para hoje [domingo, 16/12].
A julgar pelo que ocorreu nos últimos anos, essas “promessas” terão muitas dificuldades em vingar no mercado musical. Seja por limitações próprias ou por culpa do encolhimento da indústria fonográfica, o prêmio principal em shows de talentos não tem servido de passaporte para voos muito altos.
Ainda assim, esse tipo de programa faz grande sucesso e se multiplica como vírus por TVs de todo o mundo. Criativa em algumas áreas, a televisão brasileira parece acomodada nesse terreno, preferindo comprar e adaptar formatos estrangeiros.
Foi o caso do Ídolos, apresentado no país desde 2006 – nos primeiros dois anos no SBT e depois na Record. Ao aposentá-lo, agora, a emissora já anuncia que o substituirá, no ano que vem, por um programa semelhante, chamado Got Talent, famoso por ter revelado Susan Boyle em sua versão britânica.
Participação popular
O The Voice Brasil, como diz claramente seu título, também é uma versão. Sua principal novidade é que, na primeira fase, os jurados escolhem os candidatos sem vê-los, apenas pela voz.
Ainda que visto pelo jornalista Ricardo Feltrin como um “diretor microondas”, por ter se especializado em “aquecer” programas adaptados de formatos prontos, como BBB e No Limite, Boninho teve o cuidado, no The Voice Brasil, de dar um tempero brasileiro à coisa.
A escolha dos quatro jurados, por exemplo, expressou de forma generosa a diversidade de gêneros da música brasileira. Lulu Santos, Carlinhos Brown, Claudia Leitte e Daniel, cada um a sua maneira, defenderam interesses e idiossincrasias bem variados, incluindo o gosto por macaqueações estrangeiras, ajudando o programa a exibir um painel bem variado.
Boninho também teve o mérito de, atento aos humores do público, alterar no meio da atração uma regra considerada injusta, que prejudicou alguns candidatos.
Eis, a propósito, a maior novidade nesta nova onda de shows de calouros. Antes decididos apenas por jurados célebres, que destilavam saber ou excentricidade, os programas do gênero agora se curvam à participação do público.
O comentário do espectador diante da TV pode, se ele quiser, transformar-se em voto. Cabe a ele decidir (ou achar que decide) o destino de candidatos a músicos.
Formato manjado
Durante a exibição de Ídolos e The Voice Brasil, bem como, na TV paga, de programas como The X Factor, American Idol e The Voice, parte do público recorre às redes sociais para debater a performance dos candidatos.
O Twitter, por exemplo, costuma virar uma grande sala de estar, com “especialistas” dando palpites variados sobre voz, figurino e escolha do repertório de candidatos. Entendendo ou não de música, qualquer interessado está habilitado a palpitar e, até, influir no destino dos que querem ser cantores.
Importado do rádio, o show de calouros é um formato de programa que atravessa a história do entretenimento. Goste-se ou não, o seu sucesso atual mostra que já encontrou um lugar nas mídias que, em futuro próximo, sucederão a televisão.
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[Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo]