‘16/03/07
‘Estado’ e ‘Globo’ destacaram em suas manchetes as promessas e projetos anunciados ontem pelo governo federal para a área de educação: ‘Novo plano cria ´provinha` para avaliar alfabetização’ (‘Estado’) e ‘Estudantes de 15 a 17 anos também terão Bolsa Família’ (‘Globo’). A Folha registrou o anúncio oficial – ‘Governo quer prova nacional para crianças’ – e destacou mais uma reportagem sua que expõe os graves problemas do ensino em São Paulo: ‘Em situação precária, escola na zona leste faz rodízio de alunos’.
A manchete da Folha é um estudo que mostra a deterioração das condições de trabalho nas grandes cidades brasileiras: ‘Qualidade do emprego piora no país’.
Direito de resposta
A propósito das observações que fiz ontem sobre a publicação do artigo do advogado Sergio Bermudes na seção ‘Tendências/Debates’, recebi, via Secretaria de Redação, o seguinte comentário de Uirá Machado,
Coordenador de Artigos e Eventos:
‘Estranho seria se o jornal publicasse na seção Tendências/Debates um artigo acompanhado de algum tipo de explicação ou defesa. O espaço da página A3 é, tradicionalmente, fórum privilegiado para manifestação das mais diversas opiniões. O ombudsman não desconhece essa realidade. Em sua coluna do dia 21/1 deste ano, afirmou que, ´embora todo o jornal deva estar comprometido com o princípio do pluralismo, é neste espaço [Tendências/Debates] onde a diversidade de análises e pontos de vista tem de ter mais evidência´. A propósito, convém destacar os dizeres que a própria seção traz, desde a década de 70, no alto da página: ´Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo´. De resto, o repórter foi previamente avisado sobre a publicação do artigo e a ele foi dada a oportunidade de, posteriormente, publicar um texto em resposta no mesmo espaço – do que preferiu abrir mão. À procuradora mencionada no artigo do advogado Sergio Bermudes também foi disponibilizado espaço para exercício do contraditório.’
Tem razão.
O jornal voltou a abrir espaço, corretamente, para o ‘outro lado’ na edição de hoje (‘Em nota, Supremo defende atuação de Gilmar Mendes’, A8), mas não há até agora qualquer evidência de que tenha considerado incorreta ou enviesada as reportagens publicadas no domingo e na terça-feira.
Ministério
O jornal fez hoje um balanço da atuação do deputado Balbinotti, indicado para o Ministério da Agricultura, na Câmara (‘Deputado exibiu mais parentes que projetos’, A5) e repassou os problemas que ele tem com a Justiça. Mas continua a dever uma reportagem sobre os negócios do deputado. Quantas empresas têm? Quais são? Onde estão? De que setores do agronegócio? Faturamento e lucro? Enfim, informações que permitam ao leitor situar melhor o possível próximo ministro e, no futuro, avaliar suas políticas e ações.
Sabemos que Balbinotti pertence à chamada bancada rural. Mas não sabemos o que pensa sobre os assuntos mais importantes ou polêmicos da área. Quais são as suas prioridades?
Aliás, isso vale para todos os ministros. O jornal fez uma boa entrevista hoje com o novo ministro da Justiça e deveria fazer o mesmo com os ocupantes dos cargos mais importantes, o que inclui a Agricultura pelo peso que tem na economia nacional, pela importância crescente do álcool e pelos contenciosos que tem com outras áreas do governo, como Meio Ambiente.
Aliás, o jornal deve também um perfil do novo presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo (‘Após eleição, Assembléia tem briga por CPI’, A8 da Edição SP). É o segundo nome na linha de sucessão estadual e o leitor deveria ter informações de quem se trata, como se elegeu, que interesses representa na Assembléia Legislativa, como atuou em outras legislaturas, as prioridades da nova Assembléia. É São Paulo, sede do jornal e onde vive a maioria de seus leitores.
Acabamento
Na página A6 das duas edições:
– Se houver a divisão do Maranhão em dois Estados, a capital do Maranhão do Sul deverá ser Imperatriz, segundo a notícia ‘Comissão aprova plebiscito sobre divisão do Maranhão’. O infográfico ‘Um novo Estado’, no entanto, não inclui a cidade. É um erro.
– Em ‘OAB suspeita que gabarito de prova para o TJ-RJ tenha vazado’: ‘Ao jornal fluminense Cavalieri afirmou que Cretton estaria o retaliando’.
Apuração
Trecho da notícia sobre a divisão do Maranhão (A6):
‘Os entusiastas da proposta não revelam o impacto para os cofres públicos da criação da nova estrutura e dizem que o gasto seria positivo’.
A Folha não tem como fazer o cálculo aproximado do impacto financeiro da divisão do Estado sem a ajuda dos ‘entusiastas da proposta’?
15/03/07
Folha e ‘Estado’ destacam o crescimento do PMDB no governo Lula: ‘PMDB passa de 2 para 5 ministérios na reforma’ (Folha) e ‘PMDB leva Agricultura e fica com cinco ministérios’ (‘Estado’). O ‘Globo’ não deu manchete para a formação do ministério, mas fez uma chamada forte, no alto da capa, para um aspecto importante que a Folha não registrou no texto da Edição Nacional: ‘Novo ministro de Lula é investigado pelo Supremo’.
A manchete do ‘Globo’ é uma denúncia que atinge o Tribunal de Justiça do Estado: ‘Quebra de sigilo indica fraude em concurso para juiz no Rio’.
O ‘Estado’ retornou à estação Pinheiros do metrô e fotografou a cratera, agora cimentada, onde houve o acidente que matou sete pessoas em janeiro. Segundo o jornal, a ‘Via Amarela cobra mais R$ 184 milhões do Metrô’.
Segundo o ‘Globo’, o grupo político do senador José Sarney tenta criar um novo Estado, o Maranhão do Sul: ‘Maranhão do S (de Sarney)’, de acordo com o jornal do Rio.
Direito de resposta
A Folha publica hoje, na seção ‘Tendências e Debates’, um artigo (‘Alguma coisa fica’) em que o advogado Sergio Bermudes defende o ministro Gilmar Mendes, do STF, das críticas que recebeu do Ministério Público e censura a reportagem ‘Para procuradores, ministro do STF age em causa própria’, editada na página A8 de domingo.
O artigo do advogado chama o texto da Folha de ‘hostil’ em relação ao ministro, aponta o que considera ‘tolices’ acolhidas pela reportagem, considera que ela ‘saiu do sério’ e que sua elaboração foi descuidada.
Não vi contestação tão dura a qualquer reportagem do jornal nestes três anos de ombudsman.
É estranho que o jornal publique o texto do advogado sem que o tenha feito acompanhar de alguma explicação ou defesa. Não se trata, no caso, de questão de opinião, mas de informação jornalística. Se o jornal está de acordo que o texto tem de fato o viés calunioso que o advogado aponta, deveria reconhecê-lo claramente; se apenas concedeu o ‘direito de resposta’, deveria de alguma forma deixar claro para os leitores que considera a reportagem correta.
Ministério
O perfil do novo ministro da Agricultura não informa, na Edição Nacional (‘Rei da soja já passou pela Arena e pelo PSDB’, A4), que ele está sendo investigado pelo STF.
Segundo a Folha, nas duas edições, o filho do novo ministro ‘não informou o faturamento do grupo’ Adriana Sementes. O jornal não teria outros caminhos para obter a informação, que é importante para situar o tamanho do negócio dos Balbinotti?
O PMDB terá cinco pastas no novo ministério, e não seis, como está no infográfico ‘Bolsa de Apostas’ (A4 da Edição SP).
Ambiente
Depois de tantos destaques dados às previsões mais pessimistas, a entrevista com o geógrafo Ab´Sáber (‘Aquecimento é bom para a floresta, afirma Ab´Sáber’, A16) merecia alguma atenção da Primeira Página.
Saúde
Embora o texto da reportagem sobre a saúde da população brasileira (‘43% dos adultos estão acima do peso e 29% são sedentários’, capa de ‘Cotidiano’) informe que o abuso de bebida alcoólica traz risco à saúde mas não indica alcoolismo, o infográfico usa ‘Alcoolismo’ como título.
Assassinato e seqüestro
A Folha noticiou, na edição do dia 13, a prisão do pedreiro acusado de matar a menina Gabrielli em Joinville. A reportagem ‘Servente é acusado de matar criança em igreja em SC’ saiu na página C8 da Edição São Paulo. Na Crítica Interna daquele dia eu havia registrado apenas a publicação da notícia no ‘Estado’.
Em relação à observação que fiz de que o jornal não noticiou o seqüestro do presidente da Associação de Magistrados de Alagoas, a Secretaria de Redação informa que não o fez porque a família não autorizou. O fim do seqüestro foi noticiado na edição de hoje.
13/03/07
Faltou manchete de verdade nos grandes jornais de hoje.
A reunião do presidente Lula com representantes do PT para discutir a formação do ministério acabou sem novidade. Ainda assim é o principal assunto da Folha e do ‘Globo’, mas com relatos não só diferentes como divergentes. Na Folha, aparentemente foi uma reunião tranqüila, de camaradas: ‘Lula diz ao PT que não tem pressa na reforma’. No ‘Globo’, a reunião foi tensa e o presidente ficou irritado: ‘Lula dá ultimato a PT para fechar a reforma’. Versão parecida com a do ‘Estado’: ‘Lula dá bronca no PT por ´comer mosca´‘.
Mas a manchete do ‘Estado’ foi outra, a confirmação, pelo ministro das Comunicações, de que o governo pretende realmente implantar uma rede pública de TV de alcance nacional: ‘Nova rede pública de TV custará R$ 250 milhões’. O ‘Globo’ também teve a notícia, mas não a Folha. É um assunto importante e sempre esteve na pauta da Folha. Para usar a expressão de Lula, o jornal deve ter comido mosca, porque foi uma apresentação do ministro das Comunicações ao presidente.
A Folha foi o único dos três grandes jornais que trouxe entrevista com o ex-ministro Antonio Palocci , que lança o livro ‘Sobre Formigas e Cigarras’. Na minha avaliação, a Primeira Página não destacou no título a revelação mais importante, a de que Lula, no primeiro mandato, foi mais radical no endurecimento da política monetária do que a equipe econômica. O título da capa – ‘Palocci diz que PAC é ´só parte do trabalho` e pede ´ousadia´‘ – é apenas uma opinião e sobre um plano ainda a ser implantado.
Política
A Folha publicou ontem, em primeira mão, o resultado da pesquisa de opinião feita pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. O jornal destacou o que pensam os eleitores a respeito da reeleição e de outros pontos da reforma política, mas não publicou a parte da pesquisa sobre a imagem dos partidos. Segundo o ‘Estado’, o ‘PT é visto como a sigla que tem mais corruptos’.
Alagoas
O ‘Globo’ informa que foram seqüestrados em Maceió o presidente da Associação dos Magistrados de Alagoas e o genro do presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Alagoas já vivia uma situação de caos desde a posse do novo governador. Ontem, ainda segundo o jornal do Rio, juízes locais defendiam uma intervenção federal na área de segurança pública. A Folha registra, na Edição SP, o seqüestro e a libertação do genro do presidente do TJ, mas não faz referência ao presidente da Associação.
Pneus
Folha e ‘Estado’ têm interpretações diferentes em relação à decisão da Organização Mundial do Comércio quanto à importação de pneus usados. No ‘Estado’, ‘OMC obriga País a aceitar importação de pneus usados da União Européia’. Na Folha, ‘País poderá ter de mudar lei sobre pneus’. A reportagem da Folha tem como origem Brasília e reflete o ponto de vista do Itamaraty, que considerou ‘satisfatório’ a decisão da OMC. O ‘Estado’ também tem informações de Brasília, mas se baseia principalmente em fontes na Europa.
Assassinato
O colunista Ruy Castro escreveu ontem sobre o caso da menina Gabrielli, de 1 ano e 8 meses, assassinada em Joinville depois de ter sido estuprada. Ele chamou a atenção para a pouca repercussão que o caso teve, ignorado inclusive pelos jornais – ‘Longe da mídia’. O ‘Estado’ de hoje informa que foi preso um pedreiro que confessou o crime. É um bom pretexto para ser voltar a um caso tão chocante quanto os tantos que têm sido noticiados.
Aviso
Faço palestra amanhã no Fórum Nacional dos Ouvidores de Polícia, em São Paulo. Por esta razão não haverá a Crítica Interna.
12/03/07
Os presidentes dos bancos centrais estão reunidos na Suíça. Segundo a manchete do ‘Estado’ de hoje, ‘Turbulência ameaça PIB da América Latina, alertam BCs’. A Folha também está preocupada com a as incertezas da economia – a Primeira Página editou um extrato do artigo do colunista Luiz Carlos Bresser-Pereira, ‘Tempos róseos da economia estão com seus dias contados’ –, mas ignorou a reunião dos Bancos Centrais na Suíça. Difícil entender por que o jornal não está acompanhando a reunião, que pode colocar um pouco de luz neste cenário de insegurança em relação às economias dos Estados Unidos e da China.
A omissão chama ainda mais a atenção pela manchete do jornal, também com foco nos bancos, mas nos lucros: ‘Rentabilidade dos bancos bate recorde’. Recorde sobre recorde. Aliás, a manchete poderia ter outra formulação, também já usada várias vezes: ‘Lucro de bancos não pára de bater recorde’.
No ‘Globo’, ‘Aeroportos não estão preparados para o Pan’.
Um dos pontos de leitura da Folha de hoje é a entrevista com Carl Lewis. O título (‘Carl Lewis diz que vai ´tirar esporte da lama´‘) e o texto da chamada na Primeira Página não explicam o que ele entende por ‘lama’ ou por perda de credibilidade dos atletas. O aspecto mais importante da entrevista é a luta contra o doping, que não é mencionado.
Política
Parece um exagero que a principal reportagem política de hoje (‘PT discute ampliar fontes do ´dízimo´‘, na página A5, em tese a mais importante da edição) seja uma ‘proposta preliminar’, ainda não aprovada, de um dos grupos do PT que, se aprovada, será apresentada em julho no congresso do partido, para discussão e incerta aprovação.
Educação
Embora mais um caso de assalto no Rio seja importante e mereça registro (‘Menino escapa em meio a assalto no Rio’, capa), a principal notícia da edição de hoje do caderno ‘Cotidiano’ é a continuação dos dados que mostram a queda dos indicadores educacionais do Estado de São Paulo entre 1995 e 2005. O jornal vem fazendo um levantamento detalhado da crise educacional no Estado e o resultado merecia maior visibilidade.
Criminalidade
Em relação à segurança pública, a Folha mais uma vez esquece de mencionar os casos de balas perdidas ocorridas recentemente em São Paulo (‘Chegam a 3 os mortos por bala perdida na última semana no Rio de Janeiro’, C3 da Ed. SP).
A impressão que me passou é de que o jornal exagerou no caso do assalto no Rio e não deu a devida visibilidade que educação exigia.
Suplementos
Não sei de que país estamos tratando na reportagem de capa do suplemento ‘Construção e Decoração’ de ontem. Título do texto: ‘Cliques para qualquer bolso – Com R$ 5.000, é possível instalar fechadura biométrica ou automatizar os sistemas de iluminação’. Qualquer bolso? O jornal perdeu a noção.
Aliás, o jornal incorporou os conceitos arbitrários criados pelas construtoras. Mesmo com aspas, é difícil aceitar que imóveis entre R$ 85 mil e R$ 100 mil sejam ‘populares’ (capa de ‘Imóveis’ de ontem). A tese (‘Classe média ganha espaço’) é aceita também pelo ‘Estado’, no caderno de economia de hoje.’