O ex-ministro José Serra é conhecido por reclamar até de nota a favor. Um exagero, claro. Mas é verdade que Serra sempre reclamou, e muito, de matéria errada. Faz parte do trabalho cotidiano de uma Redação conviver com queixas, e registrar ou corrigir, quando for o caso, eventuais erros apontados por quem se queixa. Na semana passada, a atriz Andrea Beltrão mandou um e-mail para o jornal se queixando de um “desce” dado a ela na página 2. O “sobe” e o “desce” da 2 é uma novidade trazida para o jornal com a reforma gráfica recém-implantada, e tem por objetivo chamar a atenção do leitor para pessoas que se destacaram, para o bem ou para o mal, naquele dia.
Andrea Beltrão reclamou do “desce” que recebeu no dia 5 de dezembro em razão da crítica demolidora que sua peça, “Jacinta”, recebeu de Barbara Heliodora. Andrea não se queixou da crítica, nem poderia. Ela diz em seu e-mail, aliás, que “gostar ou não de uma peça é direito de todos nós (…), inclusive dos críticos que escrevem o que querem em suas colunas”. Nada mais democrático. O que irritou Andrea foi o “desce”, a seta laranja ao lado da sua foto apontando para baixo. Seu argumento era de que o jornal não poderia dar “sobe” ou “desce” a alguém amparado apenas na “opinião de uma crítica, e não por fatos”.
O ponto de vista de Andrea Beltrão foi debatido no jornal. Durante a reunião diária de fechamento, os editores discutiram o argumento da atriz. E chegaram à conclusão que Andrea tinha razão. Dar uma chamada para uma crítica, não importa se positiva ou negativa, é absolutamente normal. Sobretudo se a chamada for para Barbara Heliodora , a mais importante e respeitada crítica de teatro do país. Mas personificar esta crítica em um ator ou diretor, e ainda por cima colocar uma seta apontando seu sucesso ou fracasso, editorializa a crítica e a transforma em opinião do jornal.
Os editores concordaram com Andrea e resolveram suspender críticas a espetáculos na coluna de “sobe” e “desce”. Salientaram, contudo, que concordar com Andrea não era absolutamente discordar de Barbara. Não, claro que não. As chamadas para as críticas de Barbara e de todos os outros críticos do jornal continuarão saindo tanto na primeira página quanto na página 2.