Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Finalmente, boas notícias sobre jornais

Com 2012 chegando ao fim, em meio ao fluxo constante de notícias sombrias sobre o declínio dos jornais, a revista The Economist publica uma matéria surpreendente com o título “Após anos de manchetes ruins, a indústria finalmente tem boas notícias”. Examinando o texto, a avaliação (relativamente) positiva é de que uma ligeira mudança para assinaturas digitais e a proliferação da leitura em aplicativos móveis pagos está finalmente começando a alterar a contínua e profunda queda na publicidade e na circulação dos jornais impressos.

O quadro geral continua alarmantemente ruim. A receita dos jornais americanos, diz a Economist, caiu para 34 bilhões de dólares (cerca de R$ 70 bilhões) no ano passado, “quase a metade do que foi a de 2000”. Mas há atividade suficiente para apoiar a possibilidade de que a transformação dos jornais numa economia dominada pela mídia online seja um fato. Os paywalls [“muros” para conteúdo pago], baseados num sistema de mensuração do uso, são cada vez mais vistos como uma necessidade, senão uma solução. O New York Times e centenas de outros jornais anunciaram ou adotaram paywalls em pouco mais de um ano.

Também é significativo que o Washington Post, uma das exceções entre os jornais mais importantes do país, reconhece que cobrar pelo acesso à edição online é inevitável. “Enquanto se finalizam os detalhes”, revelou o Wall Street Journal em primeira mão, um paywall que “permita aos leitores eventuais um determinado número de matérias gratuitas antes de cobrar uma cota pela assinatura irá provavelmente ocorrer em 2013, assim como um aumento no preço de capa do jornal impresso”.

Assinaturas digitais pagas

Na longa era de lucros consideráveis e índices de leitura inimagináveis – em anos não tão distantes como 2001 – o jornal diário ainda custava o equivalente a mais ou menos R$ 0,50. Agora, custa pouco mais de R$ 2,00 e o dobro aos domingos. O Washington Post sofreu cortes devastadores em todos os seus setores – recursos de redação, circulação e receita – enquanto investia numa presença na internet que é ampla, ambiciosa e gratuita. Se for adotado um paywall, ele não irá, com certeza, gerar dinheiro suficiente para reverter as perdas operacionais na empresa, que atingiram 56,3 milhões de dólares (mais de R$ 115 milhões) nos primeiros nove meses de 2012. Martin Baron, veterano editor do Boston Globe, assume em janeiro o cargo de editor-executivo, substituindo Marcus Brauchli, que dedicou ao jornal quatro anos muito difíceis e conseguiu integrar a equipe do site com a redação do jornal impresso. Apesar de seu contínuo e admirável compromisso com um jornalismo de qualidade, os proprietários do Washington Post não conseguiram impedir o jornal de cair no precipício.

Todos os jornais nos EUA (e muitos na Europa Ocidental) enfrentam o fato de que a leitura dos impressos vem numa queda inexorável. Mas ainda há um desejo, entre os grandes magnatas, de adquirir jornais com o objetivo de descobrirem como conseguir tirar o máximo de seu potencial digital e status. A Tribune Company, saindo de uma bancarrota de quatro anos, está procurando banqueiros para vender seus jornais, segundo uma matéria da Bloomberg. E, com toda a certeza, Rupert Murdoch, entre outros, é um comprador potencial. Diz-se que o próprio Michael Bloomberg está interessado no Financial Times. A entusiástica compra de oitenta jornais por Warren Buffet dá, até agora, uma medida de que sua visão, principalmente de noticiário local, é um ativo viável.

A possibilidade de uma reviravolta continua distante para os jornais. Mas um novo estudo do Centro de Pesquisas Pew mostrou um pequeno progresso, com 19% dos usuários de aplicativos móveis para notícias pagando por algum tipo de assinatura digital. Se todos nós já pagamos contas mensais pelo nosso acesso à internet e aplicativos móveis, é possível que, com o tempo, sejamos persuadidos a pagar pelo conteúdo digitalmente publicado, como ocorreu com a TV a cabo e outros serviços, como o Netflix. Com a redução de opções para publicidade nos jornais impressos, alcançar esses leitores dedicados pode levar a índices melhores. Foi apenas há uma década que o impacto da internet cortou tragicamente a receita dos jornais e a ingenuidade dos cérebros de engenharia tornou-se fundamental para sua sobrevivência.

Algumas “crenças fundamentais”

Mas as redações mais bem conduzidas vêm se tornando adeptas de tirar o máximo do trabalho de autores tradicionais. Raju Narisetti, agora no Wall Street Journal (antes, estava no Washington Post), que é considerado uma das mentes mais criativas na interseção entre informações e tecnologia, disse a um pequeno grupo na Carnegie Corporation, em Nova York, que a apresentação, cada vez mais comum, da notícia como multimídia – textos, áudio, vídeo e dados – é o elemento essencial no processo de conversão a esta nova era. Ele acredita que, uma vez que os jornalistas já são treinados para coletar a notícia sabendo que ela será distribuída em vários formatos, para eles será provavelmente mais fácil acomodarem-se às exigências de seus colegas de tecnologia, cada vez mais influentes.

Narisetti é um realista. Os jornais capazes de proporcionar “experiências fantásticas” online ainda têm que combiná-las com planos de negócios proporcionais à sua renda. A análise mais recente de um especialista sobre estas questões vem do Tow Center para Jornalismo Digital, da Universidade Columbia, com o título “Jornalismo pós-industrial: uma adaptação ao presente”. Escrita por Emily Bell, diretora do Tow Center, Clay Shirky e C.W. Anderson, apoia-se nestas “crenças fundamentais” que, a seu modo, são encorajadoras:

>> O jornalismo é importante

>> O bom jornalismo sempre foi subsidiado

>> A internet destrói o subsídio publicitário

>> Portanto, a reestruturação é obrigatória

>> Há muitas oportunidades de fazer bom trabalho de novas maneiras

Com informações de Peter Osnos [The Atlantic, 19/12/12].

Leia também

O jornalismo pós-industrial – Carlos Castilho

A transição na indústria e as diferenças entre EUA e Europa