O governo de Mianmar anunciou na sexta-feira (29/12) que os jornais diários particulares terão autorização para circular pela primeira vez desde 1964, numa última medida permitindo liberdade de expressão numa nação há muito tempo exposta a um regime repressivo. O ministro da Informação anunciou no site do Ministério que qualquer cidadão de Mianmar que queira publicar um jornal diário poderá solicitar sua candidatura a partir de fevereiro. Novos jornais poderão ser impressos a partir do dia 1º de abril em qualquer idioma.
A decisão não era aguardada dentro das medidas das novas liberdades de imprensa que o presidente Thein Sein lançou como parte de uma série de amplas reformas democráticas desde que assumiu, no ano passado, depois de 50 anos de governo militar. Em agosto, o governo aboliu a censura direta da imprensa e informou os jornalistas que deixariam de ter que submeter seu trabalho a censores do Estado antes de publicá-lo, como acontecia há quase meio século.
Jornalistas e mídia privada tornaram-se mais ousados
Mianmar tem jornais diários dirigidos pelo Estado, que funcionam como porta-vozes do governo, e 180 semanários, a metade dos quais cobre notícias e atualidades, enquanto o resto cobre esporte, entretenimento, saúde e outros assuntos. Diários privados – na língua materna, ou em inglês, indiano ou chinês – fizeram parte de uma vibrante mídia quando o país era uma colônia britânica, antes chamada Birmânia. Mas todos tiveram que fechar quando o falecido ditador Ne Win estatizou a economia privada, em 1964. Sob um governo socialista de um único partido – o de Ne Win – o padrão dos jornais diminuiu, transformando-se em panfletos políticos.
O mais recente regime militar, governado pelo general Than Shwe, usou os três jornais estatais como porta-vozes da ditadura, continuando impopulares e com baixa circulação. Até dois anos atrás, os repórteres deste país do sudeste asiático eram considerados os mais reprimidos do mundo, sujeitos a vigilância estatal de rotina, telefones grampeados e uma censura intensa. O departamento de censura suspendia, temporariamente, a circulação de jornais, sob a acusação de violações. Jornalistas eram torturados, presos e submetidos a vigilância constante.
Testando as novas liberdades, jornalistas e publicações privadas tornaram-se mais ousados. Imprimiram assuntos que foram proibidos, inclusive fotografias e matérias sobre manifestações anti-governamentais e violência sectária. As imagens da líder de oposição Aung San Suu Kyi, até recentemente consideradas um tabu, agora são abertamente publicadas, mesmo em veículos controlados pelo Estado. Informações de Aye Aye Win [Huffington Post, 29/12/12].