Desde que a era digital ganhou maior espaço, o jornalismo se vê desesperado ante a palavra “interatividade”. O que antes era apenas obrigações de games firmou-se como algo essencial para o jornalismo atual. Não havia mais espaço para um jornalismo parado, sem dinâmica, impresso em folhas que sujam as mãos. A nova era trouxe consigo um leitor diferente: ele não perde tempo, não se concentra por longo período, mas precisa estar conectado ao mundo o tempo todo. O tempo ganha nova significância, o espaço também se reconstrói com as plataformas que permitem maior deslocamento da comunicação.
O jornalismo entrou em crise. Não sabia como lidar com a realidade, talvez, da mesma forma que o jornalismo impresso sentiu com a entrada da televisão, ou o rádio com a entrada do impresso, de certa forma, o jornalismo, como todo ser humano, se assustou com a nova realidade apresentada. O desconhecido sempre apavora. Contudo, o grande acontecimento está no fato de que a notícia não é mais privilégio dos jornalistas, o furo se perdeu em meio a tantos olhos, câmeras de celulares e tuíteres. Agora “todos podem ser jornalistas”. O que fazer?
O leitor, ou telespectador, não é mais um consumidor passivo de notícia. Ele faz parte do processo, seja fornecendo o gancho para uma matéria, ou como divulgadores de notícias levantadas pela imprensa. A distância entre jornalistas e consumidor de notícia não existe mais. Desta forma, o jornalismo precisa descobrir uma nova forma de fazer jornalismo a fim de continuar sendo algo necessário em meio a tantos outros “jornalistas amadores”.
Conteúdo vende?
Para lidar com a nova realidade, o jornalismo precisa aceitar, antes de tudo, que a internet e as novas plataformas são opções a serem adicionadas em recursos já utilizados. Recordar os estudos teóricos cuja afirmação é: primeira, segunda e terceira mídia se complementam. Uma depende da outra, não há internet se não houver palavras, não há interatividade se as mãos não estiverem prontas para interagir com os botões.
Compreendendo a nova realidade como algo positivo e não somente como “o fim do papel, o fim de nossa vida profissional”, o jornalismo precisa entender como cada plataforma, cada realidade digital, dialoga com o seu usuário. A grande sacada desta continuidade tecnológica está na possibilidade de enxergar melhor os usuários e observar o comportamento de cada um, a fim de tirar o melhor aproveitamento possível.
A publicidade já captou esta essência e tem feito grandes progressos. Empresas como Coca-Cola e Nissan conseguiram desenvolver promoções específicas para seus públicos, conquistando novos clientes e fidelizando antigos. A Coca-Cola desenvolveu um projeto em que nomes são colocados nos rótulos, mesclando o desejo da bebida, com a importância de quem bebe. A Nissan e seus pôneis malditos, lançado primeiramente na internet, rendeu em cinco dias um aumento nas vendas de 21%, segundo Murilo Moreno, diretor de marketing da Nissan.
A publicidade vê o resultado desta interação de mídias e consumidor em número de vendas. Esta aqui uma das grandes problemáticas do jornalismo, como gerar conteúdo em uma realidade free tecnológica e conseguir captar recursos para continuar gerando este conteúdo? O conteúdo vende?
Copiar e colar
Voltando para o mundo publicitário a resposta é: sim! A questão está em como explorar adequadamente este conteúdo. Na correria exigida pela internet e no despreparo dos profissionais de jornalismo ante esta nova realidade, o conteúdo foi sendo menosprezado. Os jornais não viram resultados de vendas e começaram a demitir seus funcionários, além de aumentar o trabalho para um único profissional, o mesmo nem sempre estava apto para a função oferecida. Ok, o dinheiro se faz necessário para manter uma boa equipe, mas será que neste caso o que falta não é uma reestruturação de modelo trabalhista nas redações?
O consumidor atual não aceita mais um texto como aceitava antigamente, a homogeneização cede lugar à personalização, o fato de o indivíduo ser mais ativo faz com que exige mais de sua leitura, até por uma questão de tempo e pelo fato de o mesmo poder encontrar informação em qualquer lugar.
Para conquistar novos leitores é preciso melhor o conteúdo, criando uma dependência maior no sentido de mostrar que os jornalistas podem ser úteis para lhe fazer compreender o porquê todos os portais que você navegou hoje estão falando sobre o mesmo assunto. O que destrói o jornalismo na realidade tecnológica é o próprio jornalismo. Seu anseio em lidar com o tempo faz com que publique apenas o já publicado, pior, da mesma forma como foi publicado. O copiar e colar virou uma rotina tão forte que tem invadido até as páginas impressas, cadernos como “Aliás”(do Estado de S. Paulo) que discute as notícias, só saem aos domingos.
Conteúdo com diferencial
O jornalismo precisa continuar informando, mas não apenas com base no lide, recurso criado em um período em que custava caro falar mais, as informações básicas eram suficientes. Mas, avaliando melhor, talvez estejamos recuando, o jornalismo viu na internet o momento de telegrama, em que a rapidez e o custo são primordiais. Contudo, esqueceu-se de observar que diferente da realidade dos telegramas, o consumidor se envolve antes mesmo de o telegrama ser escrito, logo, é preciso repensar a prioridade, entender que o “leitor sabe”, mesmo que em 140 caracteres, ele “sabe”.
Não lidamos mais com um consumidor ignorante ao assunto, desta forma, podemos estabelecer propostas diferentes no conteúdo apresentado, podendo até gerar mais continuidade na notícia abordada, criando um vínculo maior com quem está lendo o oferecido. A notícia é importante para o ser humano, ela permite as relações pessoais, afinal de contas, os assuntos são iniciados, continuados e finalizados com alguma notícia que surgiu.
Não à toa, não existe uma queda de leitores em jornalismo impresso, mas uma migração destes leitores para o online, isto pelo fato de ser o online, prático. Em um metrô lotado, ou apenas um lugar que não é possível abrir um jornal, o tablet surge como ótimo recurso para situações menos práticas ao papel. E, não podemos esquecer que há consumidores para todo o tipo de plataforma, se não existisse, o rádio já não funcionaria mais.
Logo, a importância da notícia não foi minimizada com as novas tecnologias. Pelo contrário, muitos começaram a valorizar mais o fato de estar “por dentro” com a facilidade oferecida pela internet. O jornalismo precisa compreender isso melhor e, ele mesmo, dar mais importância à notícia que tem em mãos, às técnicas que aprendeu para oferecer a notícia, sua habilidade na narrativa e conhecimento de vida que lhe permitiram produzir um conteúdo com diferencial. Então, poderá cobrar por sua notícia, que não é a mesma vista em quatro portais, mas uma só sua.
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[Carolina Teixeira é turismóloga e estagiária em Jornalismo, Guarulhos, SP]