Aqui vai um desejo para 2013: usem a Comunicação para seduzir. A essência do pensamento não é original, foi apresentada pelo sociólogo francês Dominque Wolton, num pacote de seis lições sobre a importância da Comunicação no mundo atual.
>> Seres humanos não podem deixar de se comunicar.
>> O outro pode não concordar.
>> Deve-se, sempre, tentar negociar com os opostos.
>> Tudo é convivência.
>> Democracia é admitir o ponto de vista diferente.
>> Comunicar é seduzir.
A “sedução” a que se refere Wolton é aquela que desata os nós, que constrói pontes, que esclarece o que nem sempre é evidente e que, por isso, evita conflitos. No mundo da propaganda e da tecnologia, vende-se a ilusão de que ao comprar um tablet ou um smartphone adquirimos a chave ou o poder da Comunicação. Tolice. A tecnologia deixa o mundo menor, mas como estamos usando o nosso tempo? Ganhamos na dimensão espacial, mas, e a temporal? Do que estamos falando? Adquirimos novas capacidades de interpretar os fatos e de tomar decisões?
A Comunicação está diretamente relacionada à liberdade de informar-se, decidir e interferir. Por consequência, está ligada à democracia. Foi-se o tempo do cidadão passivo. Hoje a Comunicação é construída em plataformas convergentes que formam uma “rede” onde o espectador é também produtor, ocupando posição central nessa teia. Das “redes” sua influência transborda para a sociedade. E daí as discussões cada vez mais presentes sobre uma democracia participativa em lugar da representativa, assunto que merece novos contributos para outro debate.
Vizinhança esquecida
A tecnologia é a pedra angular de um tema contraditório: permite alargar a participação cidadã, dado à sua capacidade de multiplicar esses efeitos, mas exerce um fascínio quase ditatorial no perfil consumidor desse mesmo cidadão. Aqui a “sedução” é outra: estimula a absorção dos modismos e o desejo de adquirir a nova versão do último modelo ou mesmo de uma reserva prévia do que ainda está para ser lançado. Nós humanos não gostamos de fila. Mas há quem as enfrente para ser o “primeiro” a ter o “último”.
Nessa corrida desenfreada por uma tecnologia que nos ilude com a ideia de promover uma autocomunicação – e de nos tornar instantaneamente sociáveis e populares – vimos desaparecer as cartas manuscritas e, mais recentemente, os cartões de Natal impressos. Todos destinados ao abismo da obsolescência e substituídos por uma virtualidade que chega a ser criativa, engraçada, barata, rápida e fácil, mas é efêmera, desprovida de reflexão e imediatista.
Para que escolher palavras, se o texto está pronto? Para que abraçar, se existe o avatar? Para que sorrir ou chorar, se os emoticons expressam nossas emoções? É preciso colocar sentimento na Comunicação. E para isso não dependemos da tecnologia. Os estrategistas do marketing – os mesmos que nos fazem “desejar” entrar na fila do smartphone mais moderno – sabem que, para seduzir, nada melhor do que as qualidades humanas… Afinal, o que os avatares e emoticons são, senão uma extensão de nosso corpo e sentimentos? Isso também não é novidade: o “papa” da Comunicação dos anos 1960, Marshall McLuhan, já dizia que os meios de comunicação são a “extensão” do homem.
Por fim, este “determinismo tecnológico” do século 21 desconhece que na “sedução” preconizada por Wolton também está embutida certa cordialidade que não pode desaparecer. Há muitas pessoas que trocam confidências com um amigo virtual e se esquecem de dar bom dia ao vizinho ou ao colega real. A tecnologia nos permite viajar pelo ciberespaço, mas nos esquecemos da vizinhança. Agindo assim estamos sendo universais ou provincianos?
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[Carlos Tourinho é jornalista, editor da TV Globo (ES), professor, doutorando em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho]