Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura a todo o vapor

A China cruza o delicado período de troca do alto-comando do Partido Comunista, do estado e do governo, que se dá a cada dez anos. Tanto a liderança que sai como a que entra se esforçam para varrer para debaixo do tapete as inevitáveis turbulências. Em épocas assim, a livre circulação de informações sofre mais do que habitualmente.

O enorme esforço do governo para controlar o conteúdo da internet acaba de ser reforçado por uma nova lei que obriga os usuários a fornecer aos provedores nome e identidade reais. Com isso, as autoridades poderão cortar as asas de uma crescente comunidade que vinha subindo o tom das críticas, protegida pelo anonimato, e agora terá de se arriscar. A dissidência é severamente punida. Até cidadãos de renome internacional, e seus familiares, são submetidos ao cárcere ou, na melhor das hipóteses, à prisão domiciliar por anos a fio. A imprensa local é rigidamente vigiada pelo regime de partido único e “socialismo de mercado”. Acaba de ser bloqueado o site da principal revista pró-reformas, a Yanhuang Chunqiu (China Através das Eras), devido à publicação de um artigo pedindo mudanças políticas e um governo constitucional.

A censura atinge também veículos da imprensa internacional, que atuam para informar o que se passa na segunda maior potência do planeta. As autoridades chinesas não renovaram o visto do repórter Chris Buckley, do New York Times, que trabalha no país desde 2000. Trata-se de retaliação à reportagem publicada pelo jornal americano em outubro, sobre a riqueza e os negócios da família do premier Wen Jiabao, que está deixando o cargo. As revelações tiveram impacto nos bastidores da sucessão chinesa, iniciada em novembro. Desde que a reportagem veio a público, os websites do jornal foram bloqueados na China.

O caso de Buckley, que não estava entre os autores do trabalho, foi o segundo no ano passado. Em maio, Pequim decidiu expulsar a repórter Melissa Chan, correspondente da rede al-Jazira em inglês. E desde junho sofre bloqueio a Bloomberg, responsável por reportagem sobre os investimentos de alguns parentes de Xi Jinping, que subiu ao cargo de líder do Partido Comunista em novembro e em março assumirá a presidência.

O esforço da enorme burocracia estatal chinesa para impedir a livre circulação das informações mostra o quanto o país ainda precisa avançar no respeito aos direitos humanos e rumo a uma abertura política que dê voz ao povo nas decisões, que hoje influenciam diretamente o que se passa no resto do mundo devido à importância adquirida pelo país. Recentemente, um proeminente grupo de acadêmicos chineses alertou, em ousada carta aberta, que o país se arrisca a entrar em “violenta revolução”, caso o governo não responda à pressão pública e permita reformas políticas.