Deixando-se por um momento de lado a questão da (falta de) transparência, que me parece ser o cerne da reportagem da CartaCapital [sobre os encontros periódicos de diretores do Banco Central com representantes ‘do mercado’], seriam essas reuniões, dos pontos de vista de procedimento e jurídico, uma versão trimestral das reuniões diárias do Fed com os primary dealers?
São essas reuniões sigilosas ‘legais’, segundo a legislação brasileira? A transmissão de informações sobre as expectativas do Banco Central a um grupo privilegiado de interlocutores pode, de fato, ser vista como divulgação de informações privilegiadas? Ou seja, há modos concretos, palpáveis, de os agentes financeiros participantes lucrarem com as informações recebidas nessas reuniões? Se houver, os envolvidos devem ser sumariamente demitidos de seus cargos, no caso dos que ocupam cargos públicos, e os agentes privados deverão ser processados e interditados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). E ambos, funcionários públicos e privados, devem ser processados nos termos dos artigos que tratam dos crimes contra o sistema financeiro. Se não for ilegal, é mais um aspecto da falta de transparência que caracteriza todo o sistema financeiro brasileiro, e não só as ações do Banco Central.
Seja como for, o silêncio da grande imprensa a respeito do caso seria um escândalo quase tão grande quanto o próprio feito. Vocês não têm nada a dizer a respeito?
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Estou me sentindo como todos os judeus, que são acusados de culpa de todas as atrocidades do mundo. As últimas acusações são de que nós, controladores de tráfego aéreo, não consertamos o ILS de Guarulhos e de que fazemos uma greve sutil. Eu só gostaria que todos os setores do governo e da mídia ficassem atrás de nós numa console, às 7 horas da noite, e vissem nosso trabalho por apenas duas horas. Até hoje, estamos trabalhando com as mesmas frequências ruins, os mesmos radares com potência reduzida; ninguém pode adoecer, pois o colega vai trabalhar mais um dia com a sua falta; e colegas que estão sendo transferidos ou presos, pela mais absoluta reação dos oficiais aviadores .
Hoje, terça-feira (27/3), eu estou indo trabalhar doente, mas não estou deixando de fazer a minha parte como servidora pública. Alguém deveria perguntar para a FAB como dois sistemas diferentes (CINDACTA 1 e CINDACTA 2) entraram em colapso na semana passada, se nós controladores não temos acesso às salas das frequências e do computador central. Eu não acredito que entre nós existam muçulmanos suicidas, que esperam encontrar 70 virgens no paraíso. Eu, porém, começo a acreditar em bruxas. (Maria de Fátima Araujo de Morais, controladora de tráfego aéreo, Brasília, DF)
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A classificação indicativa infelizmente não irá funcionar. É simples a explicação: há milhões de lares desestruturados no país, com pais irresponsáveis, que não impõem limites e regras para seus filhos. A TV modula valores e costumes – e deixar para os pais esta responsabilidade é jogar a também responsabilidade do órgão emissor, no caso a TV, no fundo do precipício, veiculando livremente o que melhor lhe aprouver.
Na quinta-feira (22/3) estava sendo veiculado na TV comercial e na internet um caso grave: o programa Big Brother, da Globo, mostrou cenas explícitas de um participante – um tal de ‘Alemão’ – apertando um cigarro, preparando-o e simulando como se fosse maconha. Errou a Globo em editar esta cena lamentável, que mesmo sendo simulação, brincadeira, faz, com malícia, apologia à maconha. E só não vê quem não quer ver. O Big Brother é um curso de pós-graduação em iniqüidades – bebedeira, fumo, palavrões, gestos obscenos etc.
Voltando ao assunto do cigarro: mesmo que seja cigarro comum, também errou a direção do Big Brother, uma vez que propaganda explícita de cigarros na TV está proibida há tempos. O cidadão citado é um indivíduo rude, fala palavrões, faz gestos obscenos, tem corpo de atleta, exatamente como está no contexto da moda, e a sociedade copia ícones produzidos pela TV. Portanto, a Globo, em especial, o Big Brother, infringiu a lei. Peço providências! (Gilberto Pinheiro, músico e jornalista, Rio de Janeiro, RJ)
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Editorial de quinta-feira (15/3) da Folha de S.Paulo se limitou a fazer um breve resumo da crise no PSDB causada pela queda na qualidade de ensino em São Paulo. Esperava-se do jornal algo além de um resumo do noticiário, e que efetivamente passasse aos leitores uma visão crítica e um verdadeiro diagnóstico da crise da educação em São Paulo.
A impressão causada é que, com esta postura, o jornal tentou, de certa forma, mais uma vez esconder a responsabilidade dos grandes órgãos de imprensa que sempre se omitiram em denunciar adequadamente as falhas administrativas dos governos tucanos, levando à perpetuação desses erros.
Espero que a Folha entenda que criticar não é tentar denegrir um governo ou partido, mas sim uma forma de promover ajustes com a intenção de obter maior qualidade administrativa. Acredito que somente assim o jornal estará contribuindo para a solução da crise de ineficiência do governo do PSDB. (Wagner Couto Benedetti, médico veterinário, Ribeirão Preto, SP)
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O juiz Marcio José Tricote, da Comarca de Jacutinga (MG), concedeu na segunda-feira (19/3) liminar determinando a retirada da página ‘Fofocas de Jacutinga’, publicada no site de relacionamento Orkut. A liminar requeria que a Google Brasil Internet Ltda., no prazo de 48 horas, apagasse a página, preservando e fornecendo todos os dados (endereços de IP, endereços físicos, máscaras de sub-rede, gateways, perfis virtuais, e-mails vinculados etc.) para a identificação dos autores de todas as postagens efetuadas na comunidade desde sua criação, sob pena de multa diária de 2.000 reais em caso de descumprimento da medida. Cabe recurso.
Na comunidade, centenas de moradores da cidade localizada no sul de Minas tiveram seus nomes citados por comentários anônimos difamatórios. A ação que resultou na liminar foi requerida por mim e pelo advogado Antônio José Bernardes Bresci, que ingressou na Justiça após sucessivas denúncias à própria Google através de ferramenta existente no próprio Orkut. Mais informações aqui. (Marcello Lujan, jornalista, Jacutinga, MG)
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Malharam o Diogo Mainardi neste site sobre as acusações que fez a Franklin Martins. Juro que naquele momento acreditei que Mainardi estava cometendo injustiça com o jornalista, mas hoje vejo, pelo que li, que Mainardi tinha razão. Franklin, naquela época, já estava comprometido com o governo e o PT. Mainardi inclusive mostra na sua coluna em Veja (edição 2000, de 21/3/2007) a publicação, no Diário Oficial, da nomeação de sua mulher para um alto cargo na República petista. Tenho lido que Lula convidou Franklin Martins para o cargo de ministro de Comunicação Social do governo. Por esta eu não esperava. (Washington Leite Lupercio, economista, Juiz de Fora, MG)
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Gostaria de denunciar a jornalista Sônia Abrão, apresentadora do programa A Casa é Sua, da Rede TV!, por danos morais a determinados participantes e ex-participantes do programa Big Brother Brasil 7, da Rede Globo. É costume presenciar a apresentadora se referindo aos participantes com palavras ofensivas e fazendo comparações de mesmo nível. Como telespectadora dos dois programas, venho reclamar a falta de respeito da parte de Sônia Abrão com os integrantes do programa e a própria Rede Globo. (Juliana Chaves Giglio, estudante , Rio de Janeiro, RJ)
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A mídia poderia fazer investigação jornalística de um aspecto da crise do transporte aéreo a partir dos primeiros vôos que saem diariamente do Galeão com destino a Congonhas. A partir do ‘apagão’ aéreo de 2/11/2006, a empresa Gol tem atrasado as saídas diárias do Galeão do vôo 1879, programadas para 5h30, enquanto que a concorrente OceanAir, nos mesmos dias, tem liberado seu vôo 6108 pontualmente às 6h.
Em 6/12/2006, ao embarcar no vôo 1879 um passageiro foi informado pela Gol que este estava com 30 minutos de atraso devido ao ‘mau tempo’ em Congonhas. Telefonou para uma pessoa que li o aguardava e soube que havia apenas ‘chuviscos’. Em 13/12/2006, a Gol anunciou atraso de 2 horas do mesmo vôo, sem alegar motivos. Não havia problemas de congestionamento de tráfego aéreo e/ou de controle de vôos, pois o maior aeroporto da América Latina permanece fechado rotineiramente das 22 às 6 h. Em ambas as datas a OceanAir deu partida ao vôo 6108 às 6h.
Fui informada que tal procedimento da Gol visa lotar os vôos. Nessas ocasiões, do Galeão telefonei para o departamento de jornalismo das TVs Globo e Bandeirantes e as jornalistas que atenderam interpretaram a minha sugestão, para que tais órgãos apurassem jornalisticamente tais fatos, como um problema pessoal. E não manifestaram interesse sobre o assunto. A da Globo disse, inclusive, não ser detetive e que a empresa não era unidade policial. (Marinete dos Santos Coelho, terapeuta ocupacional, Rio de Janeiro, RJ)
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Fala-se muito dos direitos das crianças, dos direitos humanos, mas que nada acontece. O que acontecem são injustiças para com uma vida. Por exemplo, uma criança de 5 anos morta de forma violenta no Clube de Cabos e Soldados de Juazeiro (BA), em 15 de janeiro de 2006. Até agora a Justiça não fez nada para apuração e futuras punições dos culpados. É muito bonito de falar em justiça, mais onde está essa tal Justiça?
Se fato como esse tivesse ocorrido no sul do país, como o caso do menino João Hélio, que até hoje os telejornais noticiam e dão ênfase, a história seria outra. Pedi a ajuda à órgãos da imprensa, como a TV São Francisco de Juazeiro (BA), afiliada da TV Globo, e não tomaram conhecimento. Não era filha de um deles, e por isso que não deram importância. Levei a denúncia ao Fantástico e ao Jornal Hoje, e até agora nada. Aqui estou pedindo a ajuda de vocês: o processo que está parado na Justiça tem o número 1062094-6/2006. Ajudem a um pai que perdeu sua filhinha. Porque, como todos sabemos a imprensa, tem força. Agradecimentos de um pai saudoso. (Benedito Maurício Martins do Nascimento, autônomo, Curaçá, BA)
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Foi com uma certa perplexidade que acompanhei no domingo (25/3), ao vivo pela RTP Internacional, a finaldo que até então era uma louvável lição de história e cidadania. Nos últimos meses, a emissora portuguesa, que nos chega a cabo, mexeu com a história deles e nossa ao propor um pleito sobre quem seria o Grande Português. Foram elencados homens que não poderiam ser esquecidos nem lá nem cá, como D João II, Infante D.Henrique e Pedro Álvares Cabral, este último não tendo atingido a condição de finalista. Outros não poderiam ser esquecidos em lugar algum, como Sousa Mendes. Porém Portugal, como o Brasil, encontra-se envolto num sem-número de escândalos de corrupção e de degenerescência moral na política. Qual não foi minha surpresa e a de muitos que acompanharam essas transmissões, cheia de educativos documentários biográficos, que o povo português não tenha se lembrado de seus poetas maiores, como Fernando Pessoa e Luiz de Camões, que tanto contribuíram com o sonho de um futuro português; de seus estadistas, como o Marquês de Pombal ou Afonso Henriques, que empreenderam o futuro; nem mesmo de seus democratas, como Mario Soares ou Álvaro Cunhal; mas elege, com espantosos 41% da preferência, o ditado Antonio de Oliveira Salazar.
Seria essa a vitória da revolta ou da ignorância? Tremo em pensar que vulto sombrio poderia aparecer de nossa história, como ídolo nacional, num momento brasileiro em que vivemos, se num arroubo educativo uma grande emissora resolvesse resgatar a nossa história para o grande público. A resposta popular seria desenterrar um ditador, um criminoso ou um esportista alienado? (Luiz Antonio de Albuquerque Filho, professor de História, Niterói, RJ)
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Tradutor, São Paulo, SP