Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunicação, ainda um artigo de luxo?

Nos manuais sobre liderança, estratégia e gestão, um dos pontos mais lidos e relidos diz respeito às habilidades interpessoais que, por sua vez, tratam a comunicação, senão como o principal pilar, um dos fundamentais. No âmbito empresarial, parece que finalmente quem se enquadra no que se convencionou como algo do tipo “comunicação é terra de ninguém” está com os dias contados.

Vedete da vez, a comunicação extrapolou seu próprio fim, ou seja, tornar algo comum a muitos – do latim communicatio de communis. Hoje, ela representa um mundo surpreendente de possibilidades. Se ainda há dúvida, atente-se para o fato de que foram produzidos cinco hexabytes de conteúdo em 2002, a mesma quantidade gerada entre 25.000 a.C. e 2.000 d.C.. Inacreditável, não?

Comunicação é tudo? Talvez seja quase. É algo fácil? Longe disso, afinal, pressupõe-se que comunicar constitui-se de forma a ir além da ação da fala. Palavras contextualizadas, tom e velocidade adequados, atenção com quem está recebendo a mensagem, e linguagem corporal convincente sinalizam para uma comunicação bem-sucedida, mas ainda assim pode não ser o suficiente.

O cenário corporativo globalizado, que traduz bem as mudanças cada vez mais aceleradas do mundo, tem nos mostrado que a boa comunicação pode ser uma arma infalível para a tecnologia que avança, a interação entre diferentes gerações, os modelos de negócios que se diversificam e para os muitos tipos de líderes que se proliferam – tudo, claro, veloz demais.

Antes da internet

Sabe-se que manuais de boas práticas são incapazes de garantir o sucesso de uma comunicação. No entanto, se existe uma ação que possa minimizar as chances de fracasso, essa certamente atende-se pelo nome de planejamento. Pode parecer inacreditável, mas planejar a informação com base no interlocutor da mensagem, com o apelo correto e por meio dos canais adequados ainda não é a prática mais recorrente. Por várias razões, entre as quais, pelo fato de que essa ação demanda tempo e conhecimento adequados, exige processos e responsabilidades bem definidos, e porque necessita do comprometimento da alta gestão.

Ainda que seguida a cartilha tal qual mande o figurino, a comunicação, por existir a partir da interação com o outro, continua a nos pregar peças. Aliás, não depende somente da forma como a mensagem foi transmitida, sua compreensão tem de ser vista como fundamental. Só que o que parece óbvio para um interlocutor, para outro pode estar longe de ser.

Apesar de mudanças tão profundas na forma de se comunicar, sobretudo em função do surgimento das redes sociais, falar, divulgar, atrair, fidelizar e inspirar, isso continua sendo segredo para muitos. Em grande parte porque há de se ter coerência, empatia e generosidade, características pessoais desejadas desde o tempo em que iniciamos a compreensão do mundo, por acaso milhares de anos antes da criação da internet.

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[Renata Gonçalves é jornalista, Belo Horizonte, MG]