Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

“Não é chapa-branca, é TV plural e para o Brasil se ver”


Tânia Monteiro # copyright O Estado de S.Paulo, 30/3/2007


O novo ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social, Franklin Martins, informou ontem que não há um projeto acabado para a nova TV pública, mas adiantou que ela não será partidária e não terá comerciais. Ele espera que em até 90 dias o tema comece a ser debatido com a sociedade e, até o fim do ano, A TV entre em funcionamento. Franklin rebateu críticas sobre a decisão do governo de colocar imprensa e publicidade sob a mesma administração, lembrando que isso existe nos jornais e não há interferência. A seguir, os principais trechos da sua entrevista.


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Como é o projeto da TV pública?


Franklin Martins – Não existe ainda um projeto formatado, pronto e acabado. Há uma discussão de governo, com princípios gerais de que a TV pública, não é uma TV do governo, é uma TV plural, não é uma TV partidária, é uma TV que busca ir além do que uma TV comercial vai, porque esta busca lucro e escala de audiências, não entra em uma série de áreas onde a TV pública pode entrar. A TV pública é algo que vai ser feito partindo do que já existe, evidentemente qualificando, vitaminando, robustecendo o que já existe. Espero que, nos próximos 60 dias, 90 dias, o governo tenha uma posição para que se comece a discutir com a sociedade. O presidente deixou claros alguns conceitos: é TV pública, não estatal, é TV que não é chapa branca, é TV plural e para o Brasil inteiro se ver nela.


Vai ter integração com as TVs existentes? A base será a Radiobrás?


F.M. – A idéia é partir delas. O que existe é muito pouco, mas é importante, é uma base. Agora, exatamente como vai ser o formato, não está definido. Você tem Radiobrás, tem TV Nacional, TVs educativas, um sistema de várias TVs estaduais, culturais educativas, que atingem regiões restritas, mas farão parte deste projeto. A partir disso aí, discutindo, vai se formatar o caminho. Existe uma definição conceitual, filosófica, de fundo, sobre o que queremos, mas como vamos chegar lá vai ser discutido agora.


Quando começaria a funcionar?


F.M. – Não tem prazo marcado, mas acredito que a gente pode estar trabalhando em algo ainda para este ano, final deste ano.


Como fazer para não ser TV chapa branca?


F.M. – Discutindo. No formato chapa branca, o governo decide tudo. No mundo todo, existem TVs públicas que chegaram ao formato que não são chapa branca. Vamos aproveitar as experiências existentes no mundo.


Ela vai ter financiamento público?


F.M. – Terá. Provavelmente terá financiamento também de apoios vendidos junto à iniciativa privada. Mas não é comercial, porque ela não terá comercial. Agora, tudo isto está em discussão.


O governo, Lula, às vezes, é acusado de ideologizar a questão da imprensa…


F.M. – Precisa primeiro dizer o que é ideologizar a imprensa. A imprensa goza de absoluta liberdade. Fala o que quer e deve ser responsável pelo que ela fala e isso é da lei. Não vejo por parte do governo Lula nenhuma tentativa de ideologizar a imprensa. Ao contrário.


Como pretende acabar com o ruído que existe com a imprensa?


F.M. – Isso é outra coisa. Eu acho que saímos de uma crise política brutal e, em alguns momentos, selvagem. Isso deixou traumas no governo, na oposição e na imprensa. Acho que a relação do governo com a imprensa deve ser mais fluida, mais tranqüila, mais profissional, menos defensiva e acho que esta disposição existe no governo. E acho que a imprensa, da mesma forma que o governo, a oposição, todo mundo sofreu um freio de arrumação com a campanha eleitoral. Esta campanha não apenas elegeu o presidente, mas deixou claro que o povo brasileiro quer um debate qualificado das questões públicas. Ele não quer debate de baixo nível e de acusações.


Imprensa e publicidade juntos não é divergente?


F.M. – Como diz Guimarães Rosa, viver é perigoso, tem risco. Agora, publicidade e imprensa juntos existe nos jornais. O seu jornal, por exemplo, tem área de redação e área comercial, respondem a um mesmo dono, a uma mesma diretoria e não estão misturados. Sei disso porque conheço. Nós jornalistas sempre pulamos quando há interferência ou pretensão de interferência da área comercial na redação. Aprendemos a fazer isso e eu quero fazer isso.


TV Pública é dinheiro bem gasto?


F.M. – Espero que vocês cobrem depois se foi bem gasto. Isso é sempre relativo. Muita gente diz que com este dinheiro dava pra construir 400 quilômetros de estrada. Pode ser verdade, mas será que cultura não tem importância? Democracia é importante, pluralidade é importante. Isto não tem preço.


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Franklin quer ‘normalizar’ relação com mídia


Eduardo Scolese e Ranier Bragon # copyright Folha de S.Paulo, 30/3/2007


Momentos depois de assumir a Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins afirmou que governo, oposição e imprensa passaram por uma ‘crise política monumental’ e que agora é hora de estabelecerem uma ‘relação menos defensiva’.


Ao declarar que Luiz Inácio Lula da Silva dará entrevistas coletivas ‘em um momento ou outro’, o novo ministro rebateu a afirmação de que o governo tenha intenção de ‘ideologizar’ a imprensa.


‘Ao contrário, saímos de uma crise política monumental na qual as instituições funcionaram plenamente e a imprensa publicou absolutamente tudo o que quis’, afirmou, acrescentando: ‘A relação do governo com a mídia deve ser mais fluída, mais tranqüila, mais profissional, menos defensiva. Essa disposição existe no governo.’


Franklin, que nos últimos anos foi comentarista político de redes de TV, disse que as eleições serviram como um ‘freio de arrumação’ nos lados envolvidos. ‘A campanha eleitoral deixou claro que o povo brasileiro quer um debate qualificado das questões públicas, não quer um debate de baixo nível, de acusações. Toda vez que um candidato tentou baixar o nível na campanha, caiu nas pesquisas; toda vez que um candidato recusou um debate na campanha [Lula faltou ao último realizado pela TV Globo no primeiro turno], caiu nas pesquisas’, afirmou.


O novo ministro disse ainda que não cuidará ‘de cotidiano de publicidade, de agência, de licitação’ e que, agora passou de ‘estilingue a vidraça’.


Depois da posse, Franklin recebeu a transferência da função do até então secretário de imprensa e porta-voz André Singer. ‘Me sinto orgulhoso de ter feito essa relação melhorar [com a imprensa]. Tenho orgulho, enquanto cidadão, enquanto militante político, de ter dado uma modesta contribuição para um governo que ajudou o Brasil a se tornar mais justo’, disse Singer.


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Rede de TV pública não será ‘chapa-branca’, afirma Lula


Eduardo Scolese e Ranier Bragon # copyright Folha de S.Paulo, 30/3/2007


Ao encerrar ontem a primeira reforma ministerial após a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que uma das plataformas de seu segundo mandato será a criação de uma rede pública de rádio e televisão. A idéia, segundo o petista, é que essa TV nacional adote um modelo de jornalismo imparcial. ‘A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la’, disse.


Lula, que passou seu primeiro mandato alternando fortes críticas e alguns elogios à imprensa, disse que a idéia é criar uma ‘coisa séria’, distante, segundo ele, do chamado jornalismo ‘chapa-branca’. Ou seja, daquele modelo estatal apenas de noticiário pró-governo.


‘Eu sonho grande. Sonho com uma coisa quase 24 horas por dia. Não sei se a gente vai conseguir construir. E que não seja uma coisa chapa-branca, porque a chapa-branca parece bom, mas enche o saco. Gente puxando o saco não dá certo’, disse, no Planalto, na cerimônia de posse de ministros.


Lula deu posse ontem a Alfredo Nascimento (Transportes), Miguel Jorge (Desenvolvimento), Franklin Martins (Comunicação Social), Luiz Marinho (Previdência) e Carlos Lupi (Trabalho). Marinho trocou o Trabalho pela Previdência mesmo com a pressão feita um dia antes por centrais sindicais, lideradas pela CUT, para que permanecesse no cargo.


Num discurso de improviso, recheado de piadas e exaltações históricas a seu governo, a citação à idéia de uma rede pública de TV ocorreu no momento em que colocou a ‘tarefa gigantesca’ que Franklin Martins terá na nova Secretaria de Comunicação Social, da qual a Radiobrás (rede estatal de comunicação) será subordinada.


‘Temos que fazer uma coisa séria, não é uma coisa para falar bem do governo ou para falar mal do governo, é uma coisa para informar. A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la’, disse, citando a TV Cultura, do governo paulista, como exemplo de boa programação.


Ainda sobre o tema, Lula disse que o objetivo é criar uma opção diante das redes privadas, oferecendo oportunidade de assistir a programas educativos em diferentes horários. ‘Se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa.’


Para Franklin, a britânica BBC e a francesa TV5 podem servir de exemplos. ‘Ela [rede pública] pode fazer programações e pode entrar em áreas que outras TVs abertas muitas vezes não podem entrar porque trabalham em uma escala de concorrência muito grande.'[…]