Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Memória preservada

Depois de vagar por diferentes endereços de São Paulo, a hemeroteca da biblioteca Mário de Andrade, que abriga uma das mais expressivas coleções de periódicos do país, finalmente achou um pouso certo onde atracar seus 12 mil títulos. Desde dezembro último, ela se encontra no prédio anexo à biblioteca, onde contará com infraestrutura adequada à sua preservação.

Para marcar a nova fase da hemeroteca, foi inaugurada a exposição Ridendo castigat mores(em latim, ‘com o riso castigam-se os costumes’), reunindo páginas dos primeiros jornais satíricos e ilustrados do Brasil, como O lagarto: Jornal da Sociedade do Tatu, que circulou no Rio de Janeiro de 1832 a 1833, e a Semana Ilustrada, fundado em 1860 e considerado um marco da caricatura no Brasil.

A hemeroteca tem em seu acervo jornais, revistas e publicações oficiais do século 19 aos nossos dias. A coleção corrente, correspondente à atualidade, tem cerca de 320 títulos de revistas e dez de jornais diários, recebidos regularmente. Há, ainda, a coleção de artes, com cerca de 1.200 títulos e 10.200 fascículos, e cerca de dois mil títulos raros e especiais. Alguns de seus periódicos são únicos no mundo.

Com a criação do novo espaço, um prédio de 16 andares localizado ao lado da biblioteca, os periódicos estarão acomodados de forma a garantir sua preservação e a facilitar as consultas pelo público. “Houve uma organização prévia, um processo gradual de preparação para a abertura, mas o acervo é imenso e ainda está em processo de organização”, conta Elisangela Alves Silva, supervisora de acervos da biblioteca Mário de Andrade.

História da imprensa

Em 2007, com apoio do Programa Petrobras Cultural, teve início o processo de catalogação e inserção de fascículos na base de dados desenvolvida para periódicos. Também foi feito um diagnóstico físico do conjunto dos periódicos e a identificação de títulos fundamentais para a preservação da história brasileira. Este trabalho foi realizado pela historiadora Ana Luiza Martins e pela restauradora Norma Cianflone Cassares, presidente da Associação Brasileira de Encadernação e Restauro (Aber).

Em 2011, as coleções – distribuídas em outras bibliotecas enquanto aguardavam a transferência para o novo edifício – foram reunidas e armazenadas em um galpão, onde passaram por processo de desinfestação. “No galpão foi construída uma bolha e lá, divididos em lotes, os periódicos foram submetidos à desinfestação por atmosfera anóxia, em que o oxigênio é retirado e substituído por nitrogênio”, explica Celina de Oliveira, coordenadora de preservação do acervo. Desse modo, ficaram livres de microrganismos e insetos bibliófagos, que aceleravam sua deterioração.

Agora, um dos projetos da hemeroteca é a organização digital dessas publicações. “Como há outros projetos de digitalização – por exemplo, o da Biblioteca Nacional, o da Universidade de São Paulo e o da Universidade Estadual Paulista, no qual somos parceiros na digitalização de periódicos microfilmados –, o primeiro passo é pesquisar se o periódico já está digitalizado”, explica Elisangela Silva.

O acervo da hemeroteca foi formado por meio de doações de colecionadores e bibliófilos, como, entre outros, Homem de Melo, Paulo Prado, Felix Pacheco e Sérgio Milliet. Além de ajudarem a contar a história da imprensa paulista e brasileira, os documentos – agora, ao que se espera, bem guardados – têm servido de importante fonte de pesquisa para a escrita e a divulgação da história do país.

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[Roberta Smolka Adena, do Ciência Hoje On-line]