Jornalistas científicos do Ocidente têm uma visão mais sombria quanto ao futuro de sua profissão se comparados com colegas da Ásia e da América Latina, de acordo com uma pesquisa divulgada este mês. “Se existe uma crise no jornalismo científico, ela é percebida principalmente nos EUA, Canadá e Europa, mas menos na América Latina, Ásia e África”, diz o relatório de pesquisadores da Escola de Economia de Londres, do Museu da Vida da Fiocruz, no Brasil, e do site SciDev.net, que entrevistaram 953 repórteres e editores.
Mundialmente, 72% dos jornalistas de ciência estão felizes com seus empregos, mas existe uma divisão hemisférica de níveis de satisfação e otimismo. Na Europa, nos EUA e no Canadá, mais pessoas duvidam que trabalharão com jornalismo científico nos próximos cinco anos e poucos recomendariam a carreira para um jovem. Na Ásia e na África, o futuro para a profissão é excitante: o emprego é visto como estando no caminho certo. Na América Latina, existem poucas dúvidas sobre o futuro da profissão e as pessoas recomendariam a carreira para as gerações mais jovens.
Apesar de os jornalistas do hemisfério norte se sentirem mais seguros e mais satisfeitos com o acesso à informação, eles “estão mais infelizes em seus empregos”, segundo o relatório. “No resto do mundo, o caso é o oposto: existe felicidade na profissão, mas ainda existem problemas nas especificidades do emprego”.
No entanto, o relatório está cheio de ressalvas e incertezas. “A distribuição de nossa pesquisa é mais voltada para o ‘Sul’ e provavelmente não irá representar com exatidão os jornalistas da Europa, EUA e Canadá”, diz.
O relatório é na verdade uma mistura de quatro diferentes pesquisas conduzidas entre 2009 e 2012, com jornalistas de seis diferentes regiões: América Latina (353 jornalistas), Europa e Rússia (163), Ásia e Pacífico (147), África subsaariana e África do Sul (142), Norte da África e Oriente Médio (115), EUA e Canadá (31). Com tantas regiões, é difícil generalizar as respostas.
Crise na indústria
O relatório contém informações sobre idade, sexo, formação acadêmica, status do emprego e carga de trabalho. O jornalista científico “típico” é homem, tem entre 21 e 44 anos e produz nove matérias a cada duas semanas. No entanto, os autores do relatório apontam que as conclusões são aproximadas.
“O resultado final dificilmente representa os jornalistas científicos de todo o mundo, já que temos poucas informações sobre eles. Nossa amostra é casual, mas alguma informação é melhor que nenhuma e estamos comparando os resultados com estudos anteriores. Pelo o que é válido, a pesquisa e as pesquisas anteriores concordam quanto a alguns pontos (mais da metade dos jornalistas são iniciantes e quase todo o resto, freelancers), mas não em outros (como a idade)”.
Apesar disso, o relatório condiz com pesquisas anteriores que relatam pessimismo no Norte ocidental e mais otimismo no Sul. Jornalistas dos EUA e Canadá estão particularmente preocupados com a queda da mídia impressa. No total, 53,5% dos jornalistas “concordam” ou “concordam totalmente” de que existe uma crise no jornalismo, mas só 22,3 consideram o jornalismo uma “profissão em extinção”.
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