Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As escolhas da TV Globo para o futebol

Já é tradição no futebol brasileiro. O primeiro torneio que abre a temporada deste esporte é a Copa São Paulo de Futebol Júnior, com a final sendo disputada como um dos eventos em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo. A final deste ano parece criar uma nova “tradição”: a Rede Globo não transmitir determinados jogos importantes do Santos Futebol Clube.

Na manhã da sexta-feira (26/1), Santos e Goiás se enfrentaram no Pacaembu em busca do principal título das categorias de base do Brasil. Além da expectativa de um bom público, por se tratar de um clube do estado na final, esperava-se também que a Rede Globo transmitisse a partida. Afinal, assim o fizera nos quatro anos anteriores, quando se sagraram campeões: o Corinthians (2009 e 2012), o São Paulo (2010) – em final contra o Santos – e o Flamengo (2011). O site da Federação Paulista de Futebol informava que a emissora transmitiria o jogo, com a companhia da Rede TV! e da Rede Vida, em TV aberta, e da ESPN e do SporTV, na TV fechada.

Mas não foi isso que aconteceu. Seguiu-se a programação normal da emissora, com o Bem Estar e o Encontro com Fátima Bernardes – Esta de férias e com programas gravados no horário da partida –, o que causou a revolta dos torcedores santistas nas mídias sociais e mesmo no estádio, em que cânticos contra a Globo foram entoados após o título santista.

Título corintiano

A revolta do torcedor do Santos por se tratar de algo repetitivo. Enquanto no ano passado vimos uma supercobertura ao Corinthians na disputa de Mundial de Clubes – não só da Globo, mas mesmo das emissoras que não possuíam os direitos de transmissão do torneio –, em 2011 o clube do litoral paulista não teve o mesmo tratamento. A semifinal, disputada contra o japonês Kashiwa Reysol, não foi mostrada pela emissora, que naquele ano não repassara os direitos de exibição para a Band. Assim, coube aos torcedores verem a partida pelo SporTV ou buscarem o rádio, já que a Rede Globo manteve o Mais Você na programação, o que também gerou uma série de reclamação nas mídias sociais.

Se o Santos é o oitavo clube em número de torcedores no Brasil, segundo as últimas pesquisas divulgadas, o time contava com o melhor jogador brasileiro dos últimos anos, Neymar, em vias de se confrontar com o melhor jogador, Messi, e o melhor time do mundo, o Barcelona. Uma disputa com muitos atrativos para se propagar.

Comparando-se a audiência da final, esta, sim, transmitida pela Globo, entre Santos e Barcelona em 2011 e o título do Corinthians sobre o Chelsea na final do ano passado, a diferença foi de apenas um ponto, 32 a 31, números bem superiores à média do horário, 8 pontos. Porém, ao contrário de 2011, a Band transmitiu o título corintiano, alcançando também um recorde para o horário, com 12 pontos (contra normais 2).

Espectadores cativos

A escolha, inclusive das outras emissoras, em acompanhar de perto as ações do Corinthians a caminho do Japão justificam-se também pelo clube ter dado uma das maiores audiências da TV brasileira em 2012, com os 48 pontos de média na final da Libertadores contra o Boca Juniors, com picos de 52 pontos e share de 75% (a cada quatro TVs ligadas, três estavam na partida). A audiência da partida só perdeu para alguns capítulos da novela Avenida Brasil. No ano anterior, a final entre Santos e Peñarol marcou 37 pontos.

Claro que aqui não se pretende comparar o potencial de audiência previsto para o segundo time de maior torcida no Brasil, cerca de 16%, com o oitavo, cerca de 3%, diferença que se torna visível pela comparação dos dados de espectadores. Porém, fica cada vez mais claro o tratamento diferenciado dado para a transmissão do futebol no Brasil. Algo que se reflete também pela quantidade de jogos transmitida de alguns clubes ao longo do ano e, consequentemente, o dinheiro pago a eles – que tende a criar fossos entre grupos de times, como ocorre em outros países.

É interessante que se diga também que quando há jogos fora dos seus horários habituais, quarta à noite e domingo à tarde, deve caber mais ao comercial que à programação definir se é mais interessante economicamente manter os programas do horário ou transmitir a partida de futebol, que dispende mais gastos. A escolha, portanto, é muito mais por fatores mercadológicos que necessariamente de interesse do público.

Lembra-se que o futebol no Brasil tem um número de espectadores cativos, independentemente de ser ou não o seu clube na TV, público o qual faz com que a emissora aumente seus gastos para adquirir direitos de transmissão – e as empresas aumentem o valor pelas cotas de publicidade no pacote Futebol –, mesmo com a queda constante da média de audiência deste programa. Assim, será mesmo que a partida entre Santos e Goiás pela Copinha, com a capital paulistana num feriado, daria menor audiência que a programação matinal da Rede Globo?

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[Anderson David Gomes dos Santos é jornalista e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos]