“O espetáculo apresenta-se como algo grandioso, positivo, indiscutível e inacessível. Sua única mensagem é ‘o que aparece é bom, o que é bom aparece’” (Debord, Guy, A Sociedade do Espetáculo, Rio de Janeiro, ed. Contraponto, 1997)
Então, é iniciada mais uma temporada do Big Brother Brasil. A versão brasileira do programa, que está na sua 13ª edição (!), ainda causa polêmica. Isto porque é, no mínimo, impressionante perceber como um conteúdo tão cotidiano e simples pode gerar tanto interesse. Não são pessoas que já tinham fãs, não são talentos inéditos, não são números acrobáticos fenomenais. Não. São pessoas ordinárias lavando a louça, varrendo a casa e discutindo por conta da comida.
O que ocorre é a transformação de um ato casual em fenomenal, simplesmente por estar na televisão. A presença na tela ganhou tal status que o que antes deveria ser fantástico para ganhar audiência, hoje pode ser banal. E isso só é possível graças a nós, que consumimos e incentivamos este tipo de produção. Queremos ver todo mundo virar estrela, para depois acompanhar suas interessantíssimas idas ao banco, visitas à sogra e passeios com o cachorro.
Segue-se, então, a pergunta que não quer calar: por que estaríamos tão entretidos por fatos assim, digamos, casuais? Em primeiro lugar, vale pensar nos fatores que viabilizam este tipo de comunicação: a instantaneidade e a interatividade da notícia. Você está na praia agora e eu já sei porque está na Internet. Além de mim, outras centenas, já leram a novidade e já deixaram comentários sobre seu biquíni, seu protetor solar e o seu corpão (ou a falta dele).
Só é preciso estar na TV
O que ocorre é que hoje, emissor e receptor de mensagens ocupam o mesmo lugar simultaneamente. Os papéis de mídia e público se coincidem e seus limites tornam-se tênues. Então, pensemos. Se a veiculação é mais rápida, com um alcance que possibilita que todos contribuam com as notícias, a informação torna-se facilmente digerível. Por isso, surge a necessidade de haver outras informações, mais atuais ainda e mais e mais frequentes.
E como sobreviver se nem sempre há assunto? Criando assunto. Vamos transformar o “simples” em notícias da capa – que serão consumidas cada vez mais facilmente e substituídas cada vez mais rapidamente. O dia a dia vira extraordinário. As mídias ficam voláteis, repletas dessas notícias descartáveis. E é aí que entra o segundo pilar que sustenta este sistema todo. O público recebe a notícia descartável e se identifica com ela, porque se trata, na verdade, de “gente como a gente” transformada em celebridade.
Se eles podem, por que não eu? Nas entrelinhas, fica a mensagem de que você também pode brilhar. Basta aparecer. Antes você tinha que cantar, atuar, sapatear. Para virar estrela, você tinha que ser.
Agora, só é preciso estar na TV (e se inscrever).
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[Bruna Rebello é jornalista, Rio de Janeiro, RJ]