‘23/03/07
Folha e ‘Estado’ destacam a nova manobra da Mesa da Câmara para aumentar os salários dos deputados:
Folha – ‘Deputados querem elevar salários e facilitar gastos’.
‘Estado’ – ‘Câmara acerta aumento salarial e liberação de gasto’.
Embora não tenha sido a manchete, o ‘Globo’ também registrou o expediente: ‘Auxílio fará aumento de deputado ir a 68%’.
A manchete do jornal do Rio informa que Justiça decidiu que ‘Menor que matou João Hélio irá a regime fechado’. A Folha precisa recuperar. A decisão provavelmente reacenderá o debate sobre maioridade penal. A foto da capa do ‘Globo’, um morador da Mangueira enfrentando um policial militar armado, é impressionante.
Precipitação
A reportagem da página A5 – ‘Assembléia de SP empilha móveis novos nas escadarias’, título da Edição Nacional – deveria ter ficado mais um ou dois dias nas mãos da Reportagem antes de ser publicada. O destaque que o jornal deu na Primeira Página, com a foto principal, e internamente, principalmente na Edição Nacional, não se justifica. E por uma razão simples: a apuração não estava concluída.
Para registrar o empilhamento de novos móveis, bastava um texto-legenda. As fotos são boas e até justificavam um TL. Mas, se a intenção era investigar se houve ou não alguma fraude ou irregularidade na compra do material (é obrigação do jornal investigar o destino do dinheiro público), a reportagem está incompleta.
O texto mais insinua (‘Ex-presidente da Casa diz que utilizou recursos de 2006 para a compra, mas não revelou valor’) do que informa. Segundo a reportagem, a ‘assessoria da presidência pediu um dia para levantar os dados’, ou seja, para informar a quantidade de material comprado e os valores pagos por unidade. A partir dos dados o jornal poderia avaliar melhor os procedimentos da Assembléia. Um dia, numa reportagem como esta, não é nada. O leitor nada perderia, ao contrário. Ganharia uma reportagem bem apurada.
A pergunta que fica é: o jornal desconfia de que possa ter havido fraude na licitação (no caso, pregões) ou sobrepreço? Se sim, deveria ter investigado. Se não, não deveria ter dado tanto espaço.
Ministério
É compreensível que o jornal não tenha feito uma repercussão da nomeação do jornalista Franklin Martins para a pasta de Comunicação do ministério Lula. Sua confirmação saiu tarde. Mas o nome de Miguel Jorge estava confirmado desde cedo e ocupará um ministério importante para os projetos econômicos do governo. Como o seu nome foi recebido por empresários e pelos vários segmentos da economia?
Prisões
A reportagem ‘PF desmonta quadrilha internacional de tráfico’ (C5, na Edição Nacional) informa, no começo, que oito pessoas foram presas e duas ainda eram procuradas e 40 mandados de prisão foram cumpridos. No final do texto, no entanto, se refere a onze mandados de prisão e 40 de busca e apreensão.
22/03/07
O ‘Estado’, em sua última edição, encolheu a manchete para acomodar a informação aparentemente exclusiva de que ‘Miguel Jorge [do Santander e ex-editor-chefe do ‘Estado’] substitui Furlan no ministério [do Desenvolvimento]’, colchetes meus. Retribui, assim, o furo de ontem da Folha, que antecipou a nomeação de d. Odilo Scherer para a arquidiocese de São Paulo.
As manchetes dos grandes jornais é o PIB. Da noite para o dia o Brasil acordou mais rico, passou a Coréia do Sul e se aproximou da Espanha. O que era frustração agora virou otimismo com as novas regras do cálculo da riqueza nacional. A Folha, como sempre, apenas registra: ‘Novo cálculo eleva números do PIB’. Os outros acrescentam alguma informação:
‘Estado’ – ‘Novo PIB revela economia maior e baixo investimento’ (21h) e ‘PIB revisto é maior, mas investimento cai’ (0h30).
‘Globo’ – ‘PIB revisado mostra queda em educação e investimento’. O jornal do Rio apelou para a ironia no selo da cobertura: ‘Espetáculo da revisão’.
‘Valor’ – ‘Novo PIB eleva meta de superávit’.
A foto de todos é o encontro de Lula e Collor no Palácio do Planalto. A Folha apenas registra: ‘17 anos depois’. No ‘Estado’, ‘Volta ao Planalto: de inimigo a aliado’; no ‘Globo’, ‘Collor volta pela frente ao Palácio’.
Segundo a manchete do ‘Valor’, ‘Justiça bloqueia contas de ´insiders` do caso Ipiranga’.
Igreja
O jornal vai muito bem, desde ontem, na cobertura da nomeação do novo arcebispo de São Paulo, mas, atenção: o tratamento dado nas páginas de ontem e de hoje quase chega ao reverencial, sem o distanciamento crítico que sempre marcou o jornal, mesmo na cobertura da Igreja Católica.
Há um trecho no texto da Edição Nacional de hoje, que acabou suprimido no rearranjo feito na Edição SP, que reproduz a linguagem da igreja: ‘Desde que d. Cláudio foi para o Vaticano servir à igreja na Congregação para o Clero, dois nomes despontaram para sua sucessão’. ‘Servir à igreja’ é linguagem da igreja, não de um jornal laico.
Há outro trecho em que o jornal abandona o jornalismo crítico e quase que justifica a disposição de d. Scherer de ainda não se expor em questões difíceis: ‘O novo arcebispo evitou falar sobre assuntos polêmicos para a igreja, como a camisinha. Preferiu defender valores’. Preferiu defender valores?
E a Edição Nacional se precipitou ao resumir as prioridades de d. Scherer para São Paulo: ‘… a capital paulista contará [contará?] com um bispo que dará ênfase à periferia da cidade, mas não deixará de lado as classes médias e universitárias’. A entrevista não fala em classe média. Em relação a universidades, há um pequeno comentário sobre a PUC, nada mais. E classes universitárias são classes de aula, pelo que sei.
Os próprios títulos do jornal são quase heróicos: ‘Novo arcebispo de São Paulo quer organizar a igreja nas periferias’ e ‘Conhecido por rigor e cultura, D. Odilo conciliou aulas com trabalho na roça’.
Repito: a cobertura está à frente do principal concorrente, a Folha está se mostrando bem informada, mas deve prestar atenção em excessos que a afastam de uma cobertura isenta e distanciada. Do contrário, quando o papa chegar estaremos concorrendo com o ‘Osservatore Romano’.
Imprensa
Mais um escândalo envolve um jornal do Paraná, ‘Ministeriável é réu em ação popular por improbidade envolvendo o Banestado’ (A8 da Ed. SP). Volta e meia aparece um caso naquele Estado. Faz bem a Folha em expô-los.
Mas o jornal ainda deve as versões do diretor do jornal e do ex-governador, que não foram localizados ontem pela reportagem.
Venezuela
Ainda não havia comentado, mas considero um grande acerto do jornal a criação do cargo de correspondente em Caracas. A reportagem de hoje – ‘Pressão de Chávez implode partido aliado’ e ‘Comandante Zapata prevê guerra aberta’ (A18) – comprova a importância de um acompanhamento de perto da vida política na Venezuela de Chávez.
PCC
O ‘Estado’ traz uma reportagem importante na capa de ‘Metrópole’. Segundo o jornal, os assassinatos do soldado da PM Odair José Lorenzi e de sua irmã, em 12 de julho do ano passado, não foram cometidos pelo PCC, como se atribuiu na ocasião devido à nova onda de ataques na cidade, mas por dois policiais militares, que estão presos. É uma reviravolta num caso que a Folha deu bem na ocasião e que lança mais dúvidas sobre as autorias dos crimes ocorridos durante os ataques do PCC.
21/03/07
Os destaques dos grandes jornais hoje são todos negativos para o governo Lula. A Folha publica o resultado de uma auditoria do Tribunal de Contas da União que conclui que ‘Ministério [das Cidades] libera R$ 2,4 bi sem avaliação [técnica]’ (os colchetes, meus, mostram que a manchete não é auto-explicativa).
O ‘Estado’ destaca, com manchete e foto, as manobras da base aliada para impedir a instalação da CPI do Apagão: ‘PMDB ajuda o governo a engavetar CPI do Apagão’. Na Folha, em chamada pequena no pé da página, ‘Governo pára na Câmara a CPI do Apagão Aéreo’.
E o ‘Globo’ explorou melhor as dubiedades do governo. A manchete remete para posições passadas do presidente: ‘Lula chama usineiros de heróis e recebe Collor hoje’. A lembrança de que o presidente recebe hoje o ex-presidente Collor é, no caso, pertinente. Não vi a informação na Folha. O jornal do Rio traz frase antiga de Lula sobre os usineiros para indicar que mudou o tom.
A Folha não precisava ser tão óbvia, mas poderia ter trabalhado melhor o discurso em que Lula considera os usineiros heróis com a notícia (e foto) da situação dos trabalhadores nos canaviais (‘Usina de cana é autuada por más condições de trabalho’).
A Folha antecipa a nomeação do novo arcebispo de São Paulo. É curioso o título da Edição Nacional (mudado na Edição SP): ‘Alinhado com Roma, d. Odilo Scherer será o arcebispo de SP’. Notícia seria se ele, futuro cardeal pela importância da arquidiocese que ocupará, não fosse alinhado a Roma e ao papa.
O jornal marca um ponto com a entrevista com o novo arcebispo. Mas, como foi feita antes da indicação, fica devendo uma nova entrevista com vários temas importantes que não foram abordados.
Irã
A principal reportagem de ‘Mundo’ é o ultimato dado por Moscou ao governo iraniano, ‘Rússia ameaça romper acordo nuclear com Teerã’. A notícia, no entanto, só é repercutida pela Folha com Israel. A entrevista com Nimrod Barkan é interessante, mas só faria sentido se houvesse também uma repercussão da ameaça russa com o próprio Irã ou alguma fonte próxima ou independente. Como está, só temos o ponto de vista de um dos lados deste enfrentamento (ainda) diplomático.
Álcool
O despacho de Washington ‘EUA afirmam que não querem ´etanolizar` relação com Brasil’ (A10) estaria mais bem editada em ‘Dinheiro’, junto com o material sobre as condições de trabalho nos canaviais e com o discurso de Lula sobre o tema.
Texto
Muito bom o relato ‘Caí com meu Fusca 77 da ponte do Socorro; sobrevivi’ (C4 da Edição SP). Pena que o jornal tenha tão poucas histórias.
20/03/07
Diante de três informações importantes que concorriam à manchete – a permanência do caos nos aeroportos, a investigação da compra da Ipiranga e um estudo inédito sobre o FGTS –, a Folha fez a melhor opção: ‘FGTS pode render menos que inflação’. É mais um alerta em relação à gestão do FGTS.
O ‘Estado’ trocou a manchete. Começou destacando a venda do grupo Ipiranga – ‘Com Ipiranga, Petrobrás avança na petroquímica’ – e mudou para os aeroportos com informações importantes – ‘TCU acusa Infraero por licitações e gastos ilegais’. O ‘Globo’ destacou o problema dos vôos: ‘Volta do caos em aeroportos reforça as pressões por CPI’. A Folha deu bem a investigação da CVM – ‘Vazamento sobre venda do grupo Ipiranga é investigado’ – e o caos nos aeroportos – ‘Crise aérea não tem prazo para acabar, diz Infraero’ e ‘Congonhas tem desconforto crítico’.
Como não tive condições de fazer ontem a Crítica Interna, comento hoje dois casos em que a Folha foi mal:
Maranhão do Sul
O ‘Globo’ publicou na quinta-feira, e registrei na Crítica Interna daquele dia, que ‘o grupo político do senador José Sarney tenta criar um novo Estado, o Maranhão do Sul’. O título do jornal do Rio era ‘Maranhão do S (de Sarney)’.
A Folha recuperou a notícia no dia seguinte e com a mesma interpretação dada pelo ‘Globo’ de que a criação do novo Estado era iniciativa do ex-presidente José Sarney para manter o poder em parte do Maranhão depois de ter sido derrotado na eleição para o governo estadual no ano passado: ‘Se depender do senador José Sarney (PMDB-AP) e de seus aliados, o Brasil terá mais um Estado: o Maranhão do Sul (…)’.
Na mesma sexta-feira, dia 16, a página A2 de Opinião trazia a coluna semanal de Sarney (‘O ponto G e o QiQi’) e o editorial ‘Fábrica de Estados’, que iniciava com o seguinte comentário: ‘O grupo político do senador José Sarney, porém, resolveu inovar e, após ter sido derrotado no Maranhão, pretende criar um Estado novinho em folha para gerir’.
A crítica seria pertinente – e uma demonstração de que o jornal não protege os seus colunistas – se as informações fossem verdadeiras. Uma série de cartas publicadas nos dias seguintes no ‘Painel do Leitor’ e uma pequena nota editada no dia 18 demonstraram que a iniciativa não era do ex-presidente, que era uma iniciativa antiga (de 1987, muito anterior, portanto, à derrota eleitoral dos Sarney em 2006) e que tem o apoio do principal adversário regional do ex-presidente, o atual governador do Estado.
Salvou-se a Folha pela civilidade de Sarney, que na segunda-feira fez publicar mais uma carta, agora se congratulando com o ‘jornalismo criterioso’ do jornal por ter publicado a notícia em que o governador do Maranhão apoiava a criação do novo Estado, o que restabelecia a verdade. Sarney considerou ‘um equívoco monstruoso da imprensa nacional’ a versão que também a Folha adotou na sua primeira notícia e no seu editorial e que até hoje não havia corrigido explicitamente em ‘Erramos’, a seção adequada.
Ipiranga
Mais atento do que a Folha ao movimento da Bolsa de Valor de São Paulo, o ‘Estado’ noticiou no sábado que a alta das ações do grupo Ipiranga no pregão de sexta-feira ‘reacendeu os rumores sobre a venda da companhia’. O título era ‘Ação da Ipiranga dispara e alimenta rumor de venda’. A reportagem do ‘Estado’ falava em ‘rumores’, o que deve deixar qualquer leitor desconfiado, e parecia ter ouvido o galo cantar mas não sabia onde. Segundo o jornal, as ações do grupo Ipiranga subiram 3,57%, quando na verdade as ações ordinárias da distribuidora de combustível haviam subido 33,33%. Mesmo com estes problemas, o jornal concorrente demonstrou mais atenção com o comportamento da Bolsa e do setor petrolífero do que a Folha naquele dia.
O ‘Estado’ continuou na frente no domingo e publicou que a ‘Petrobrás pode anunciar hoje compra da Ipiranga’. Embora a notícia começasse afirmativa – ‘A Petrobrás divulga hoje à tarde um comunicado no qual deve anunciar uma grande aquisição no mercado brasileiro…’ – o título usava um ‘pode’ (‘Petrobrás pode anunciar hoje compra da Ipiranga’) e a linha fina um ‘se o negócio for confirmado’ que enfraquecem qualquer notícia. Ainda assim, sempre atribuindo a ‘rumores’, o ‘Estado’ continuava mais atento e bem informado do que a Folha.
Na segunda-feira todos os jornais saíram com a notícia que confirmava os ‘rumores’ que desde sábado o ‘Estado’ registrava e a Folha não percebia.
Não entendi o critério de assinatura na edição de segunda-feira da Folha. O crédito na Primeira Página aparentemente não se justificava pelo fato de a informação que confirmava a venda do grupo Ipiranga não era exclusiva, pois todos os jornais a tiveram. E a mesma assinatura não aparece internamente, o que parece indicar um erro de edição.
Texto
Estão confusos os textos das duas legendas das fotos ‘Digno’ e ‘Açaí lá’ da coluna ‘Toda Mídia’ de hoje (A10). Por que os blogs comparam os elogios da jornalista da rede ABC a Fidel e ‘NYT’? Que empresário é o primeiro a lançar o ‘brasileiro açaí’? Lá onde? Que perigos? As notas são tão sintéticas que acabam sendo de difícil compreensão.
19/03/07
Hoje não circulará a crítica interna do Ombudsman.’