Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um crítico de música e tradutor

Dos mais de 8.000 CDs que Jean-Yves de Neufville tinha em casa, cerca de 70% eram de jazz. Aficionado pelo estilo, o crítico musical que considerava John Coltrane um deus começou, porém, a formar sua base musical ouvindo rock. Na casa onde cresceu, em Nice (França), os primeiros vinis que chegavam eram dos Beatles e dos Rolling Stones, como lembra o irmão Patrick. Com o tempo, seu gosto foi variando, e passou a ouvir de world music a música erudita.

Filho de pai francês e mãe brasileira, nasceu em Santos, mas foi para a França aos dois anos. Retornou nos anos 70, quando o pai foi dirigir um hotel em Maceió, Alagoas. Em São Paulo, Jean-Yves começou a cursar Letras na USP. No terceiro ano, foi chamado para trabalhar como jornalista e abandonou o curso, como lembra sua mãe, Wanda. Escreveu para O Estado de S.Paulo nos períodos de 1987-1988 e 1993-1995 e na Folha de S.Paulo, entre 1989 e 1991. Publicou ainda na Bizz, na Veja e no Valor Econômico.

Nos anos 90, dirigiu uma coleção para a gravadora Paradoxx. Em 1998, organizou o Festival de Música Mundial no Sesc Vila Mariana, que trouxe os músicos Jamshiedi Sharifi (filho de pai iraniano) e o senegalês Baaba Maal. Deu ainda aulas na Casa do Saber e revisou livros, como Música Caipira: da Roça ao Rodeio, de Rosa Nepomuceno. Era também tradutor juramentado e fez trabalhos para TVs francesas. O último foi para a embaixada da França.

Na segunda (21/1), sentiu-se mal enquanto caminhava. Morreu aos 55, após um infarto. Deixa dois filhos. Será cremado hoje, às 16h, no crematório da Vila Alpina, em São Paulo.

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[Estêvão Bertoni, da Folha de S.Paulo]