Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 2 de abril de 2007
TELEVISÃO
Horário político custará R$ 471 mi em 2007
‘A propaganda dos partidos políticos no rádio e na TV durante este ano vai custar ao contribuinte R$ 471 milhões.
A informação está em documento sobre gastos tributários publicado no site da Receita Federal. Esse é o valor que o órgão estima que deixará de arrecadar em impostos devido à compensação a que as TVs e rádios têm direito pela exibição de propaganda política.
As emissoras, na apuração do Imposto de Renda, podem excluir do lucro líquido o correspondente a 80% do que elas cobrariam caso ocupassem todo o espaço da propaganda política com publicidade comercial.
Embora esteja sob a rubrica ‘Horário Eleitoral Gratuito’, a renúncia fiscal não compreende apenas os programas que antecedem as eleições, mas também as inserções avulsas e os programas dos partidos exibidos ao longo do ano.
A Receita refez os cálculos do custo da publicidade política para o ano passado. O órgão, que havia previsto uma renúncia de R$ 191,6 milhões em 2006, estima agora um gasto tributário de R$ 367 milhões (o valor é provisório porque boa parte das declarações ainda não foi processada).
A diferença, explica a Receita, deve-se ao uso, no cálculo original para 2006, de uma base de dados antiga. Assim, os gastos com propaganda política terão um aumento de 28% em 2007, acima da média (de 23%) de todos os gastos tributários.
CONDICIONAL 1 O ministro das Comunicações, Hélio Costa, promete editar, até o final deste mês, portarias consignando novos canais em São Paulo para as redes irradiarem seus sinais digitais.
CONDICIONAL 2 Segundo Costa, quase todas as redes estão aptas a receber os novos canais, menos três. A Rede Gospel, da Igreja Renascer, não irá ganhar canal digital porque está com a renovação da concessão atrasada. Outras duas redes, com problemas no INSS, terão que assinar um termo se comprometendo a regularizar a documentação.
CASA NOVA Demitido na semana passada da Globo, onde era editor de economia do ‘Jornal Nacional’, Marco Aurélio Mello está sendo contratado pela Record.
SEM JORNAL A CNT demitiu sexta-feira 17 jornalistas de sua redação no Rio. A emissora ficará sem telejornais neste mês, até a entrada no ar de sua nova marca, a JB TV. Segundo a JB TV, o governo foi consultado sobre a legalidade da operação e deu OK.
PETISCO 1 A Net vai abrir para assinantes de seu serviço digital, nesta sexta, um canal (o 180) que exibirá toda a primeira temporada da série ‘Roma’, da HBO, cuja segunda fase estréia no dia 15. No serviço analógico, ‘Roma’ passará no canal 37.
PETISCO 2 Outra novidade na Net (só digital) é o lançamento, nesta quinta, de um canal de jogos, o Cartoon Network Games, que ficará aberto até dia 19. Depois, custará R$ 4,99 por mês.’
TV PÚBLICA
Editorial
Espasmo televisivo
‘A CADA declaração das autoridades públicas sobre a proposta de criar uma nova TV estatal no Brasil, essa idéia se parece menos com um projeto e mais com um espasmo.
O governo federal não demonstra o menor conhecimento a respeito da realidade das TVs estatais já existentes. Tampouco fornece garantias para o que vem recitando como mantra: que essa emissora, à diferença de praticamente todas as outras redes estatais, não será ‘chapa-branca’.
‘A BBC e a televisão francesa são assim’, disse o jornalista Franklin Martins, novo ministro da Comunicação Social. São mais ou menos assim, mas não em razão da vontade magnânima do governo que as criou. Sua autonomia, que não deixa de passar por situações de crise, resulta de freios institucionais que a sociedade interpôs, no decurso de décadas, à tendência ‘chapa-branca’ inerente a todo canal público.
‘Se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa’. As palavras displicentes do presidente Lula, ditas durante cerimônia de posse de ministros na quinta-feira, além de desrespeitosas ao contribuinte, são mais um indício de grave desconhecimento da realidade.
TVs estatais cuja audiência é próxima de zero já abundam no país -é raríssimo, na verdade, encontrar algum caso que não se enquadre nessa regra. Sacar R$ 500 milhões do Tesouro a fim de implantar mais um canal irrelevante é um contra-senso. A grande maioria da população seria obrigada a financiar outra iniciativa da qual não usufrui.
Não passa, portanto, de comichão episódica, que mal disfarça o impulso de autopromoção, a idéia de lançar uma nova TV estatal no país. O mínimo que se espera do governo é que apresente um diagnóstico e um projeto dignos do nome sobre a sua nova obsessão -embora o melhor mesmo seja esperar o desejo passar e esquecer o assunto.’
TODA MÍDIA
Sem querer
‘Do post ‘Toc, toc, toc’, madrugada de sexta para sábado, no blog de Ancelmo Góis:
– Militares fazem greve pela primeira vez desde 1964. E hoje é dia 31 de março…
No ‘Jornal Nacional’, horas depois, o relato de que na noite anterior ‘o comando da Aeronáutica decidiu prender 18 profissionais, mas o presidente Luiz Inacio Lula da Silva impediu as prisões para que a negociação fosse reaberta’. Negociação que ‘não foi fácil’, como ‘mostrou uma gravação obtida com exclusividade pelo ‘JN’.
Na manchete da Folha Online à tarde, pouco antes, Lula já havia anunciado a ‘reestruturação do setor’ e prometido ‘solução definitiva’.
Por fim, ontem, 1º de abril, o texto ‘+ lido’ do site, a coluna de Kennedy Alencar, dizia que, ‘sem querer, Lula quebrou tabu militar’. A decisão era ‘entre preservar uma hierarquia militar que já estava mais que quebrada e colocar fim ao caos’.
CEDER CONTROLE
Em despacho da agência Reuters, já ecoou ontem que ‘militares do Brasil vão ceder controle do tráfego aéreo’. No texto da reportagem, ‘os controladores não vão mais ser subordinados aos militares’, à Aeronáutica ‘há muito tempo encarregada da aviação civil, na maior nação da América Latina’.
CRISE VS. CONVERSA
O apagão de sexta-feira e suas repercussões esconderam Lula em Camp David com George W. Bush, na cobertura do ‘JN’ e demais. Mais curioso foi contar como, até no noticiário anglo-europeu de sites como Google News e Inform.com, a cobertura da crise chegou perto de vencer a conversa.
NADA DE NOVO
Nem Lula escondeu a crise aérea com a visita a George W. Bush, nem o americano escondeu as suas várias crises internas com a conversa sobre etanol.
No ‘Washington Post’ de ontem, o relato do encontro dos dois foi parar na página A10, em despacho.
No ‘New York Times’, foi uma pequena reportagem de Jim Rutemberg, o mesmo que acompanhou a visita ao Brasil, sob o título insignificante ‘Bush, dando seqüência à viagem, encontra líder brasileiro’. Abrindo o texto, o americano ‘continuou com a sua nova corte à América Latina, encontrando e jantando com o presidente Lula em Camp David’. De substantivo, ‘nada de novo’.
A ÁSIA VEM AÍ
Na coluna semanal Agenda da América Latina, o site do ‘Financial Times’ avisou ontem, no rastro da passagem pouco proveitosa de Lula por Camp David:
– Enquanto os Estados Unidos prevaricam sobre sua agenda comercial e muitos investidores tradicionais congelam gastos na América do Sul em resposta à onda de ‘nacionalismo dos recursos’, a Ásia está expandindo furiosamente sua presença econômica na região.
REFORMAS E O PIB
Mais do ‘FT’. Uma primeira reportagem, na sexta, defendeu abertamente a nova metodologia do PIB brasileiro. Mas a coluna Lex, ontem, não se conteve e ironizou como ela ‘veio bem a tempo de pegar a viagem de seu presidente aos EUA’.
De todo modo, avaliou que as novidades estariam ‘amplamente em linha com as mudanças em outros países’ e associou o salto no volume às ‘reformas do início dos anos 90’. E cobrou mais.
O ENGENHEIRO SOCIAL
Pelo segundo domingo, São Paulo ocupou a revista de estilo do ‘NYT’, ontem, agora com as criações e longo perfil de Paulo Mendes da Rocha.
Descreve como o arquiteto, ‘velho marxista’, diante das ‘circunstâncias capitalistas tão avançadas’ de São Paulo e suas ‘camadas de arranha-céus que marcham sem controle até o horizonte’, não tinha outra saída a não ser ‘tornar-se um filósofo’. Estende-se por imagens da ‘maneira simbólica de pensar’ de Mendes da Rocha e seus ‘motivos recorrentes’.
E por aí vai, laudatório, com restrições pontuais, o texto ‘O engenheiro social’.’
CHILE
Para ministro, TV incentivou protestos
‘O ministro do Interior chileno, Belisario Velasco, afirmou ontem que alguns programas de televisão influenciaram jovens do país a realizarem uma jornada de protestos durante a celebração Dia do Jovem Combatente, na última quinta-feira, em Santiago, que terminou com mais de 800 prisões.
Para Velasco, as emissoras realizaram uma ‘quase convocatória’ a violentas manifestações. ‘Não culpo os meios de comunicação; o que digo é que há alguns programas parecem incitar a assistir a esses atos. É uma questão de revisar os conteúdos’, disse à rádio Cooperativa.’
HQ
‘O Traça’ tem super-herói à moda antiga
‘Nas histórias em quadrinhos à venda atualmente, o Capitão América está morto, a Mulher-Maravilha está sendo julgada por assassinato e a Liga da Justiça acabou porque Superman, Batman e os demais não confiam mais uns nos outros. Não existem mais super-heróis à moda antiga? Existe ‘O Traça’, livro recém-lançado no Brasil e que apresenta um personagem novo, mas com conceitos antigos: identidade secreta, uniforme, ingenuidade, envolvido em luta do bem contra o mal…
O Traça foi criado por Gary Martin e Steve Rude em 2004. Trata-se de um artista de circo forte e bem-treinado que usa uma roupa que lembra a do Batman. Ele age como um caçador de recompensas, e gasta o dinheiro que recebe no tratamento médico do irmão gêmeo.
Steve Rude, o desenhista e criador do personagem, é um grande fã de super-heróis. Seu estilo é bastante influenciado por Jack Kirby (1917-1994), co-criador de Capitão América, X-Men e Quarteto Fantástico. Rude faz lembrar seu ‘mentor’ especialmente nas cenas de luta e nos saltos acrobáticos do circense Traça.
Há um misto de culpa, senso de justiça e heroísmo movendo as ações do personagem, o que faz lembrar as aventuras antigas de super-heróis. Aquelas em que não era preciso colocar assassinatos, estupros e crises de consciência para criar uma boa história.
Há um outro lançamento com jeitão de histórias clássicas de super-heróis: ‘Justiça’, minissérie em 12 edições que traz os principais heróis da editora DC Comics contra os maiores vilões. Assim, de um lado está a Liga da Justiça, com Superman, Batman e companhia; do outro, Lex Luthor, Bizarro, Capitão Frio etc. ‘Justiça’ é pintado por Alex Ross, um dos artistas de HQs mais requisitados da atualidade. A arte de Ross é detalhada e realista, com uma qualidade acima da média. Há tempos ele vinha trabalhando apenas com pinturas para livros ou capas, sem participar de uma série como esta.
Assim como Rude, Ross é um fã de super-heróis à moda antiga. Este é um projeto pessoal, que ele co-escreveu com o roteirista Jim Krueger. Assim, é de se esperar uma sucessão de confrontos entre arquiinimigos, batalhas épicas e nada de tentar deixar os personagens mais ‘humanos’. Afinal, é de super-heróis que falamos.
O TRAÇA
Autores: Gary Martin e Steve Rude
Editora: Pixel
Quanto: R$ 32,90 (160 páginas)
JUSTIÇA
Autores: Alex Ross, Jim Krueger e Doug Braithwaite
Editora: Panini
Quanto: R$ 4,90 (32 páginas)’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 2 de abril de 2007
MERCADO EDITORIAL / EUA
Dois bilionários entram na disputa pela Tribune
‘O drama para o controle da Tribune Co. intensificou-se na quinta-feira passada, quando dois bilionários de Los Angeles apresentaram uma oferta de última hora, suplantando uma proposta do magnata do ramo imobiliário de Chicago, Sam Zell, em US$ 1 por ação.
Os dois bilionários, Ronald W. Burke e Eli Broad, enviaram uma carta na noite de quinta-feira à administração da Tribune antes da data limite de sábado (dia 31/03) imposta pela empresa, segundo uma pessoa a par dos acontecimentos.
Os dois investidores disseram que, como Zell, vão esquematizar uma transação em que parte das ações será de propriedade dos funcionários, mas oferecerão US$ 34 por ação, um dólar a mais que a proposta de Zell. Eles afirmaram, também, que investirão US$ 500 milhões do seu próprio dinheiro, enquanto Zell planejou injetar ao menos US$ 300 milhões.
Esta oferta tardia quase certamente complica as deliberações da Tribune, já que a empresa está buscando uma forma de aumentar o valor da ação. E deixa em dúvida o cronograma estabelecido anteriormente para uma decisão sobre a empresa.
Ambas as propostas têm por base a proposta relativamente incomum que a propriedade da empresa fique em parte nas mãos dos funcionários, o que tem dado certo para muitas empresas pequenas, mas que, no caso de empresas maiores, os resultados têm sido díspares.
Segundo especialistas, nos últimos 20 anos esses planos não foram testados, na prática, em empresas do tamanho da Tribune, que tem cerca de 20 mil funcionários.
A proposta de Burkle-Broad conferiria aos dois investidores 40% da empresa, transferindo 60% para os empregados. Já a divisão da propriedade da Tribune na oferta de Zell não está detalhada, embora o seu plano também torne os empregados proprietários majoritários.
A Tribune, cujos ativos inclui o The Los Angeles Times, The Chicago Tribune, 23 estações de televisão e o Chicago Cubs (uma equipe de beisebol), foi obrigada a pôr-se em leilão há quase seis meses, a pedido de seus maiores acionistas, a família Chandler, insatisfeita com a administração e a queda no preço das ações.
A proposta de Zell compraria a participação dos Chandlers, embora não tenha sido explicitado de que forma o plano de Burkle-Broad irá lidar com a família. Mas, ao oferecer mais dinheiro, o plano de Burkle-Broad provavelmente inclui uma oferta pelas ações dos Chandlers.
Zell tem dito que manterá a empresa intacta, embora seus planos de longo prazo não tenham sido divulgados.
Inicialmente e cada um por si, Broad, um incorporador de imóveis e líder cívico, e Burkle, um magnata do varejo de alimentos que comanda a Yucaipa, uma firma de investimentos de fundos de aposentadorias públicas e privadas, manifestaram seu interesse em adquirir só o The Los Angeles Times. Seus objetivos de longo prazo para a empresa como um todo não foram revelados.
Em setembro, a Tribune disse que exploraria suas alternativas estratégicas e que apresentaria um plano no final do ano. Como a resposta ao seu leilão foi fraca, a empresa adiou seu prazo final para o fim do primeiro trimestre, ou seja, no sábado.
Burkle e Broad já tinham apresentado uma proposta anterior que chegou a cerca de US$ 27 por ação, mas essa oferta também foi considerada inadequada. Zell entrou mais tarde no jogo, e a empresa hesitou em relação a sua oferta inicial, o que fez com que ela a elevasse.’
TELEVISÃO
A audiência a qualquer custo
‘O repórter Jorge Horácio (Luiz Fernando Guimarães) volta à reportagem social. Mas agora tenta fazer chorar, e não rir. A 3ª temporada de Minha Nada Mole Vida estréia no dia 13 de abril, com oito episódios previstos e algumas modificações. A maior é a entrada de Pedro Paulo Rangel, que será Pascal (como o filósofo), diretor do programa que o repórter insiste em chamar de Pascoal. Pedro Paulo e Luiz Fernando foram companheiros do TV Pirata, há 19 anos.
‘Com isso, mostramos a sala de produção na emissora fictícia, a TV Tudo Plus, o centésimo nome escolhido porque os outros existem de verdade’, conta o diretor (real) José Alvarenga. ‘Pascal é um premiado diretor do Cinema Novo e força a barra para levar seu estilo ao Jorge Horácio by Night. No primeiro episódio, ele encontra uma cantora de axé (Marisa Orth), que não consegue ser triste. No segundo, inventa uma história trágica para a modelo/atriz (Aline Moraes).’
Silvana (Maria Clara Gueiros), a ex-mulher de Jorge Horácio, gruda mais no pé dele e fica mais interesseira e muito mais displicente com o o filho dos dois, Hélio (David Lucas). ‘Ela é o contrário de mim. Sou ótima ex e uma sargentona com meus dois filhos, João, de 12 anos, e Bruno, de 9’, comenta Maria Clara, que adora seu personagem.
Luiz Fernando admite os cacos, mas se entrosa tanto com os autores do texto, Fernanda Young e Alexandre Machado, os mesmo de Os Normais, que o improviso é menor do que parece. ‘Eles escrevem para minha embocadura’, diz o ator. Ele explica as mudanças. ‘A primeira temporada era focada no repórter. A segunda, nos problemas pessoais. Agora, falamos de quem usa qualquer recurso pela audiência. Cada mudança é uma porta aberta sem fechar as outras.’
entre-linhas
Os Normais já não existe como programa, mas ganhará um segundo longa-metragem no cinema. Começa a ser filmado no fim do ano, para 2008.
A Record deve ter cansado da paisagem carioca. Até quarta-feira, a equipe da novela Alta Estação estará em São Paulo gravando na Avenida Paulista, Liberdade, Bexiga e parque da Luz.
Assim como o Boa Noite Brasil, ex-programa de Gilberto Barros na Band, A Grande Chance, que o apresentador estréia lá dia 17, às 22 h, também foi título de Flávio Cavalcante: ia ao ar na TV Tupi, no fim dos anos 1970.’
INTERNET
Novo sistema reforça aula virtual
‘Por mais que a tecnologia avance, ainda não há software capaz de obrigar um aluno a quebrar certos valores culturais e dispensar a figura paternal de um professor no processo de aprendizado – aquele sujeito que incentiva e cobra a busca por conhecimento, modelo que prevalece desde os tempos da Academia de Aristóteles. Há quatro anos, o professor Renato Bulcão se debruça sobre a questão na Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP) e, de olho na grande demanda por conteúdo que será criada com a implantação da TV digital no País, desenvolveu com as empresas Ibis Inteligent Business Solutions, de Campinas (SP), e Lector Teconologia, de Blumenau (SC), um sistema que une televisão, internet e telefone celular num ambiente que revoluciona as aulas via satélite.
‘Verificamos que há uma resistência muito grande entre os alunos à passagem da aula presencial para a aula a distância. Principalmente porque os alunos são crianças e jovens cada vez mais acostumados com o uso sofisticado do computador, uma familiaridade que vai muito além da que professores e desenvolvedores, muitos na faixa dos 40 aos 60 anos, têm com a tecnologia’, diz Bulcão. ‘É por isso que programas de ensino parecem pouco interessantes, enquanto games parecem incríveis.’
O projeto será demonstrado amanhã, pela primeira vez, no seminário da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), que reúne em Recife 500 profissionais de todo o País. O evento começou ontem e vai até quarta-feira. Computador básico, TV, webcam, mesa de edição simples e acesso a internet em banda larga são os equipamentos necessários para estruturar a aula. E as possibilidades para montar cursos são muitas.
PASSEIO VIRTUAL
Com o sistema, um professor de história pode acessar na mesma hora o site de um museu e até guiar os alunos numa visita virtual, deixando mais claro o tema sobre o qual está falando. Outro professor que esteja ministrando um curso de cinema pode acessar o site YouTube e, ao vivo, apresentar determinada cena do filme sobre o qual está explicando. No curto prazo, o aluno ainda poderá baixar essas cenas, com as marcações explicativas feitas pelo professor. O sistema permite ainda que, se o aluno estiver acompanhando a aula pela internet no momento em que está sendo ministrada, pode usar um ícone na tela e ‘levantar a mão’ virtualmente para fazer pergunta ao professor. Outra possibilidade é assistir aulas gravadas.
Com uma webcam simples, esse aluno poderia também aparecer ao vivo para os colegas virtuais. E se ele estiver estudando por meio da TV a cabo, poderá usar o próprio controle remoto para interagir ou o telefone celular, por meio de mensagens de texto, tipo SMS. Os desenvolvedores já trabalham numa nova ferramenta, que vai possibilitar uma outra maneira de participação do aluno por telefone, com voz em vez de mensagens de texto. Com isso, a idéia é conquistar o estudante, dando a ele várias oportunidades de participar ativamente da aula.
‘O professor pode lançar uma questão para a turma, de múltipla escolha. Quando os alunos responderem, ele terá na sua tela um gráfico que aponta os erros e os acertos da classe. Com isso, ele tem uma resposta imediata sobre o aproveitamento dos alunos e pode decidir se segue com a matéria ou se repassa algum ponto que ficou incompreendido’, observa o engenheiro Ricardo Pessoa, sócio da Ibis, que trabalha no desenvolvimento da tecnologia. ‘Ensino a distância se faz há muito tempo. Mas o modelo em que o conteúdo está lá esperando que os alunos vão interagir não funciona bem porque todo mundo quer um professor dando aula.’
Segundo a Abed, há hoje no País cerca de 90 canais universitários. Eles apresentam documentários e todo tipo de conteúdo gerado em caráter experimental por alunos, mas nenhum deles usa a grade com programas de ensino a distância. O foco do projeto Escola do Futuro está nesses canais, mas a tecnologia pode ser usada por empresas que queiram treinar funcionários ou até mesmo pequenas comunidades que possuem um canal de transmissão. No caso de instituições de ensino privadas, o projeto se mostra vantajoso: segundo os desenvolvedores, uma instituição que decida criar 2 mil vagas pode economizar até R$ 5,4 milhões em investimento em infra-estrutura. ‘Isso é basicamente o que gastaria para abrir espaço a 2 mil alunos em salas de aula’, diz Pessoa.’
Pedro Doria
Burocracia tem fim?
‘Uma história em Sampa, outra no Rio, dois meses de diferença entre a primeira e a segunda. Num cartório próximo à Paulista, preciso abrir uma firma. Tenho no bolso a carteira de identidade já precisando de uma terceira plastificação. Apresento o documento: não aceitam. É que só pode, me explicam, em toda sua vida útil, ser plastificada uma vez. Então é possível que tenha sido falsificada.
Terá de viver suas muitas décadas de vida descamando.
Não tenho outro documento. O passaporte está noutra cidade, não dirijo. A solução? O cartório da outra esquina sequer pisca em aceitar o documento com aquela inscrição: ‘válido em todo o território nacional’.
Agora um cartório em Santa Cecília: para uma determinada tarefa, minha certidão de nascimento original não serve. Tenho que arranjar cópia com menos de seis meses. Corta para a semana seguinte, a 500 quilômetros de distância, Av. Nossa Senhora de Copacabana. Peço uma nova via da certidão. Demora 24 horas.
Nos anos 80, houve no Brasil um Ministério da Desburocratização. O primeiro encarregado da missão foi o ministro Hélio Beltrão. Essa empreitada ele não conseguiu resolver. Ter um cartório é ótimo negócio.
Tem limite. Certos conceitos são aberrações: o do reconhecimento de firma, por exemplo. Não faz qualquer sentido. Sequer protege de falsificações. Se um banco aceita a assinatura do sujeito sem mais nada para abrir uma conta, por que ela não vale na assinatura de outra forma de contrato? Se a maioria dos países do mundo não têm disto, por que o Brasil precisa?
Vivemos tempos digitais. Um cartão de banco permite, por conta da tecnologia, que qualquer um, com facilidade, mexa em somas grandes de dinheiro. Se a tecnologia resolve a vida financeira, por que não a da identidade?
O que Hélio Beltrão não conseguiu resolver, a tecnologia resolverá e não tem lobby cartorial que o impeça. Um cartão de identidade com chip, por exemplo. Traz lá dados biométricos que garantam que o portador é o dono – pode ser a íris, a digital.
Cartórios exigem aberrações porque têm poder. Mas se todos os dados estão no cartão – o CPF, a identidade, a habilitação de motorista, o passaporte, seja o que for – então, aí, para que cartório?
É preciso firmar um contrato? Passa o cartão. Quer casar? Passa o cartão – que rastreia o banco de dados para ver se a moça não é bígama. E se acaso perdeu o cartão, passa num quiosque qualquer, paga uma taxa irrisória, tira outro na hora.
Digitalizar as certidões de nascimento de um cartório, pelo menos as de uns 80 anos para cá, é trivial no tempo das câmeras digitais. Mas não querem se dar ao trabalho: sem problemas. Um dia, não serão mais necessários. E quando os cartões assim servirem para pessoas jurídicas, como justificar a outra ponta da burocracia, aquela que afeta as empresas?
Os bancos de dados podem nos causar muita dor de cabeça por conta da privacidade perdida. Mas está neles, enfim, a vingança fria que todo brasileiro espera, silencioso, angustiado: a contra os papéis e toda a raça burocrática que suga o País.’
Gustavo Miller
Hora de quebrar ovos nas bancas de jornal
‘Nos tempos de colégio, os amigos Érico e Marcelo eram considerados os nerds da turma. Não era à toa: durante as aulas de educação física, o único ‘exercício’ que eles faziam era fugir da escola e correr até a maior banca de jornal de Mogi das Cruzes para conferir os quadrinhos recém-lançados.
Se ainda fossem garotos, hoje eles teriam duas opções para saber as novidades do mundo das HQs, TV, música, cinema e games: o Omelete, site deles que faz sucesso na web há sete anos, ou a Omelete, revista deles que os jornaleiros estão vendendo desde o mês passado.
É isso mesmo. Em um momento em que a mídia impressa se diz em crise e quebra a cabeça para encontrar a melhor maneira de migrar seu conteúdo para a internet, o site realiza o caminho inverso. É uma mudança que soa para muitos como uma tremenda maluquice.
‘É um baita desafio explicar para um leitor que agora ele também pode pagar por algo que sempre teve de graça’, diz Érico Borgo, editor e criador do Omelete ao lado do também editor Marcelo Forlani.
‘Internet é velocidade, e com a revista a gente pode aprofundar o que nunca coube no site’, completa o sócio.
Mas qual é a verdadeira razão dessa mudança para um site que tem 120 mil acessos diários e ganhou uma revista com tiragem inicial de 20 mil exemplares: fugir da mesmice ou vaidade? ‘Nenhuma das duas coisas’, respondem. ‘A revista é um complemento do site, e será a experiência total do Omelete’, dizem.
Lançada em uma versão especial durante o mês de março apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, ainda não é certeza se haverá outras edições – mas confiança é o que não falta. A dupla afirma que as respostas de público e crítica vêm sendo muito positivas.
Além do mais, credibilidade na praça eles têm de sobra. O Omelete é consagrado no que faz e conseguiu ter o aval daquele que talvez seja o tipo de leitor mais chato do mundo: o nerd.
‘Se a gente escrever uma besteira e falar que a cueca do Hans Solo é verde com bolinhas brancas, pode ter certeza que logo vem um e-mail nos xingando e garantindo que as bolinhas eram roxas’, ri Forlani.
Essa pressão aumenta ainda mais quando eles fazem algum especial de um assunto que estiver em voga, como o filme 300. São meses de planejamento e estudo.
Quando Peter Jackson lançou o primeiro Senhor dos Anéis, Marcelo e Érico escreveram um verdadeiro livro sobre tudo o que envolvia o universo de Tolkien. Já Homem-Aranha teve conteúdo equivalente a um calhamaço de 120 páginas. ‘Isso na internet, cara! E tudo de graça’, diz Borgo.
TRABALHANDO DE BERMUDA
Em seu começo, o Omelete surgiu como um site voltado apenas para o mundo dos quadrinhos, o que atraía um público muito específico. Quando passaram a escrever também sobre música, cinema, televisão e games, o número de acessos aumentou muito.
Atualmente, o Omelete tem dez colaboradores fixos. Muitos estão com a dupla desde o início, como o gaúcho Érico Assis. Detalhe: eles nunca se viram pessoalmente, só conversam pela web.
Embora necessitem trabalhar em outras atividades para manter o site, a dedicação não pára nunca. ‘O Omelete é um trabalho de todos os nossos segundos livres. Cada segundo que dá a gente coloca algo novo’, explica Forlani.
Por isso, eles não têm um escritório fixo. Os quartéis generais são suas próprias casas. ‘Para que trancar três homens dentro de um quartinho se podemos ficar em nossos lares?’, brinca Borgo, de chinelo de dedo e bermuda.
Uma das coisas que eles ouviram bastante ao anunciarem a versão da revista é se o tradicional site seria deixado de lado. ‘É lógico que não!’, bradam.
‘Além do mais, a revista deu mais status para nós. E muita gente que não acredita no poder da internet mudou de idéia assim que viu a versão impressa nas bancas de jornal’.
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NOME | Judão
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