Quando a única chance do governo de manter uma verdade inconveniente longe da mídia é alertar sobre uma ameaça de segurança nacional, é incrível como essas ameaças aparecem, comenta, em sua coluna, a ombudsman Margaret Sullivan. Essa parece ser uma ferramenta poderosa e eficiente. Organizações de mídia não querem prejudicar a segurança do país ou ser acusada de fazê-lo, então editores geralmente escutam funcionários do governo quando decidem não publicar uma informação. E, depois de ouvi-los, editores ocasionalmente consentem. Há, no entanto, uma força de equilíbrio – o direito das pessoas de saber o que seu governo está fazendo e a responsabilidade da mídia de descobrir e contar para elas.
Isso foi visto na semana passada, quando o NYTimes, em uma matéria importante sobre o Iêmen, quebrou seu longo silêncio sobre a localização de uma base usada por drones (aviões não-tripulados) americanos na região. Como outras grandes organizações de mídia, incluindo o Washington Post e a AP, o NYTimes concordou, há um ano, em manter em segredo essa localização – tratava-se da Arábia Saudita. Na realidade, o jornal publicou diversas vezes que a base era na Península Árabe.
Editores do jornal mudaram de ideia na semana passada. Depois de monitorar a questão por meses, David Leonhardt, chefe da sucursal de Washington, afirmou que não foram observadas ameaças específicas de segurança. A razão mais premente, entretanto, foi que o criador do programa de drones, John O. Brennan, foi nomeado chefe da CIA, e o NYTimes teve a responsabilidade de examinar seu histórico. Era hora de os fatos virem à tona.
Pressão e omissão
A questão maior e mais problemática era se a informação deveria ter sido omitida, em primeiro lugar. A razão dada pelo governo – de que revelar a localização incomodaria cidadãos sauditas ao ponto de se ter que fechar a base, o que atrapalharia os esforços de contraterrorismo dos EUA – não convence. Não é papel da mídia manter os segredos do governo, a não ser que haja uma razão clara, direta e que ameace vidas para justificar a omissão. O exemplo clássico é revelar movimentos de tropas em tempo de guerra.
Essa discussão não poderia ser mais relevante, considerando o contexto: o modo oculto como o programa de drones está operando e rapidamente crescendo. Até pouco tempo, o governo sequer admitia a existência dele, mesmo com a morte de milhares de pessoas, por estes aviões, em países como Iêmen, Somália e Paquistão – incluindo civis, algumas crianças e até americanos. O governo prefere descrever os mortos como militantes ou terroristas.
O NYTimes foi à justiça para conseguir informações sobre o programa e sobre as mortes de Anwar al-Awlaki e seu filho, ambos americanos. O jornal também publicou um artigo em maio do ano passado sobre a lista do presidente Barack Obama com alvos de assassinatos.
O governo americano, diz Margaret, embora prometa transparência, está cada vez mais sigiloso e punitivo, classificando tudo como secreto, perseguindo quem vaza informações e condenando jornalistas por publicar dados sigilosos. Um governo que opera em segredo é uma ameaça real para a segurança nacional, defende.