Primeiro foi o Wall Street Journal (WSJ) em sua edição de 13 de fevereiro. Agora é a vez de revista Time, edição do dia 4 de março. Dois influentes veículos de comunicação dos Estados Unidos (EUA) usam o futebol brasileiro para refletir o bom momento econômico que o país usufrui dentro e fora de suas fronteiras. São duas matérias exemplares e que trazem boas hipóteses para discutir as relações apresentadas. Cada uma delas, porém, com motivos distintos, mesmo apresentando observações semelhantes em alguns trechos.
A reportagem do WSJ foi publicada numa seção principal do jornal, saindo na edição impressa nos EUA. Ela também foi ao ar na página online direcionada aos brasileiros. Os títulos foram diferentes: “Soccer Club Mirrors Brazilian’s Rising Fortune” (Clube de futebol reflete crescimento econômico dos brasileiros) na edição impressa; “Corinthians reflete a ascensão da classe média brasileira” na edição online. Essa alteração teve como objetivo apenas chamar atenção do público alvo.
Loretta Chao assinou a matéria. Ela, formada na New York University (NYU), passou recentemente a ser a correspondente do jornal aqui no Brasil. A comparação usada é mais restrita entre a chamada “nova classe média brasileira” e o Sport Club Corinthians paulista. Bom gancho aproveitando a conquista do alvinegro no Mundial de Clubes em dezembro do ano passado. É mostrado o crescimento da marca Corinthians no Brasil e no mundo, que caminha paralelamente ao crescimento econômico do país, especificamente dos que agora têm um poder aquisitivo maior, suprindo as necessidades básicas e com condições de gastar um pouco do salário com entretenimento.
Capa da Time
Então é ressaltado o trabalho de excelência que o marketing do Corinthians faz, não deixando o sucesso do time em campo passar sem deixar lucro. Segundo a reportagem, o “timão” é o clube mais valioso do Brasil – US$ 500 milhões –, está na lista dos top 10 no planeta e tem 110 lojas franqueadas que comercializam produtos licenciados. Destaca a construção do novo estádio no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo, com custo estimado em US$ 403 milhões.
O ex-presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva (2003-10), ilustre torcedor do Corinthians, aparece como sendo um dos responsáveis pela transformação financeira da nação, sublinhando os programas sociais criados que redistribuem a renda aos menos favorecidos. Loretta salienta que mesmo com um crescimento econômico baixo em 2012 (sob o comando de Dilma Rousseff, sucessora de Lula), registrado em 1%, muitas pessoas tiveram maior acesso à educação e planos de saúde, possuindo um poder de compra mais expressivo.
A revista Time escolheu um caminho mais abrangente, tanto que ganhou capa para as edições do Oriente Médio, Europa e África: Neymar, atacante do Santos. No título a lembrança do nome mais famoso do mundo: “O próximo Pelé”. A chamada para a matéria diz “Como a carreira de Neymar, estrela do futebol brasileiro, explica a economia do seu país”. Uma foto estampada bem ao estilo da Time, apenas a oitava vez que um brasileiro estampa a famosa capa – outros seis ex-presidentes e um diplomata.
Atrativo amplo
Bobby Ghosh, indiano e editor mundial da revista, e Andrew Downie, escocês e correspondente da Time no Brasil, assinam a reportagem com o título “Por que a superestrela do futebol Neymar ainda joga no Brasil?” Partindo dessa pergunta, vêm as observações registradas na extensa matéria. Neymar é anunciado como um jogador de talento similar ao de Messi (Barcelona), ousado com a bola no pé e irreverente. Ele quebra, ao escolher ficar em Santos, o círculo vicioso (Brasil, clube grande da Europa, clube pequeno da Ásia/Oriente Médio e volta ao Brasil) que muitos futebolistas brasileiros percorrem e a matéria aponta isso como algo positivo; incluindo a recusa de uma oferta do Chelsea de US$ 65 milhões. Mesmo no Brasil, Neymar terminou 2012 como 13º jogador mais bem pago do futebol mundial de acordo com levantamento da revista France Football. Cerca de metade dos ganhos do santista vem de patrocínios locais, prova de que ele é rentável (muito rentável) no Brasil – basta ficar pouco tempo em frente uma TV e notar em quantos comerciais Neymar aparece.
Contudo a matéria não se restringe ao camisa 11 do Santos. Ela apresenta os fatores mais amplos do futebol brasileiro, que diminuiu o saldo entre os jogadores que saem do país e chegam – o déficit em 2008 era de 556, em 2012 foi de 315. Entre os que voltaram estão Ronaldinho Gaúcho, Fred, Deco, Jô e Pato. O crescimento do Santos é sobressaído com um salto de 548% entre 2003 e 2012: vale, segundo a reportagem, US$ 105,2 milhões. Neste momento é introduzido o Corinthians na história, devido ao papel que tem no cenário do futebol nacional; o crescimento do Corinthians no mesmo período foi de 148%. A emergente economia do Brasil chega de mãos dadas com o batido crescimento da Classe C, com mais de 30 milhões de pessoas “que saiu de linha de pobreza”. A Time especula que o crescimento do Brasil possa atingir 3% em 2013, refletindo os investimentos que o governo destina às obras da Copa do Mundo de 2014 (infraestrutura e estádios): US$ 16,5 bilhões.
As duas produções, respeitadíssimas não só nos EUA, mas no mundo, contemplam o instante diferenciado que o Brasil desfruta. O futebol nacional, coincidentemente ou não, passa por uma conjuntura especial. Com muita felicidade, ambas as publicações souberam registrar, uma usando como exemplo o clube de maior destaque atual no país e outra traz o melhor jogador do Brasil como atração principal. O lado econômico surge com atrativo mais amplo, visando a atingir um público mais diversificado, que passa a entender o Brasil através de um dos seus melhores e mais conhecidos produtos: o futebol.
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[João da Paz é jornalista, São Paulo, SP]