O problema do descuido global com o planeta chegou a tal ponto que um programa semanal, exibido domingo (17/2) no Globo Ecologia com a sigla de TV Futura, acabou ganhando características planfletárias: “Se não tivermos cuidados especiais com o planeta, quando a gente quiser reagir será muito tarde”, lamentou o apresentador com outras palavras.
Na verdade, a essa altura já foram consumidas centenas de quilômetros de florestas para a produção de papel e tinta desde quando se constatou a mudança climática decorrente do efeito-estufa, há mais de 20 anos. O esgotamento dos recursos naturais do planeta já ultrapassa todos os seus limites, como é o caso da água, item não renovável, porém ainda tratado em várias partes do mundo como inesgotável, como infelizmente no Brasil. Ou como se justificaria em numerosas cidades se gastar água da torneira para se lavar calçada e carros em casa? Tomar banho por meia hora seguida com a torneira aberta ou deixar a água do vaso sanitário escorrendo indefinidamente?
De lá para cá, com um aumento de menos de 2 graus Celsius na temperatura global, o número de tragédias anunciadas foi tão grande e contínuo a ponto de suas fontes ganharem até outros nomes: os rios voadores, uma imensa quantidade de água oriunda do Oceano Atlântico e que viaja com as nuvens de uma região para outra do país sem que se possa exercer sobre elas qualquer controle. Até porque as marcas de tragédias como a do ano passado na região Serrana do Rio de Janeiro, onde morreram mais de mil pessoas e outras tantas ficaram desabrigadas, são indeléveis mas a cultura da poluição voluntária continua.
Agressão zero
Desde o conhecimento público do diagnóstico do aquecimento global causado pelo efeito estufa – a emissão de dióxido do carbono (com a queima de gasolina pelos veículos) na atmosfera, provocando o buraco de ozônio, e do esforço (infrutífero) de alguns países para que os EUA assinassem o Tratado de Kyoto para uma mudança na estrutura de fabricação de veículos, o que se tem visto é um propósito na mídia de reducionismo do problema como se tudo estivesse sob controle.
A tragédia ambiental ocorrida no Japão obrigou o país a fazer algo impensável há poucos anos: mudar sua matriz energética, cuja central de geração de energia nuclear era apontada como a maior e melhor equipada do mundo. A mudança fez o Japão abandonar sua posição privilegiada como número um do mundo para uma das últimas posições numa constelação entre os 18º e 25º lugares no ranking do capitalismo mundial.
Com os rios voadores, que hoje são localizados no atlântico pelo lado do Paraná margeando o mapa do Brasil, a situação climática do país se agrava. A quantidade de água evaporada é incalculável e onde ela vai escoar é uma incógnita que só os ventos e o grande controle ambiental poderão determinar. Claro: não bastará o aprofundamento dos estudos meteorológicos, mas é fundamental que as agressões ambientais sejam reduzidas a zero.
Ruralistas à espreita
A mídia brasileira se habituou a só levantar a bandeira ambiental quando as organizações promovem eventos ou quando a própria natureza reage e vira a mesa, como na tragédia da região Serrana fluminense.
As décadas de 60 a 80 do século passado foram caraterizadas por um ritmo de queimadas, desmatamentos e ocupações desordenadas tão frenético na Amazônia que se parece quase um milagre ainda haver floresta na região no começo de 2013.
Depois de se apoderarem do controle do texto final do novo código florestal brasileiro e de barganharem e absorverem quase 70% do volume de recursos de política financeira dos governos do PT sob o argumento de incentivo a exportação de produtos primários para manter sucessivos superávites, com o que se manteve a balança comercial durante anos artificialmente superavitária, os ruralistas hoje mais do que nunca têm consciência da sua fatia de poder no Congresso Nacional. E se preparam para novas investidas. E o seu alvo principal é a sucessão presidencial de 2014.
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[Reinaldo Cabral é jornalista e escritor]