A grande imprensa está descobrindo as chamadas redes sociais, ou redes de relacionamento. As emissoras de rádio usam há mais tempo esse recurso para ampliar e ‘fidelizar’ – como se diz no jargão do setor – os ouvintes, alguns dos quais se tornam colaboradores constantes, relatando acidentes, engarrafamentos de trânsito e outras ocorrências, contribuindo para maior agilidade na cobertura jornalística. A figura do ‘leitor-repórter’, que vem se tornando comum, é a expressão mais acabada dessa novidade, com todas as vantagens e riscos de contar com pessoas não-treinadas para fazer relatos precisos e adequados sobre os acontecimentos.
A transposição desse recurso para o ambiente da internet, que começa a ser utilizado com mais freqüência a partir dos blogs dirigidos por jornalistas, poderia ser uma forma de ampliar o número de pessoas interessadas em determinado tema tratado num jornal ou revista, por exemplo, e acompanhar as opiniões que se formam a partir do material jornalístico.
No entanto, como tem acontecido desde o surgimento da internet, a mídia tradicional apenas usa o recurso da rede digital para operações pontuais de consulta, como no caso das ‘pesquisas de opinião’ (que raramente podem ser levadas em conta, pela falta de metodologia adequada), ou para promover uma interação que se esgota no próprio site e não oferece maiores contribuições para conhecer o pensamento do leitor.
Viés homogêneo
Agências de marketing e de publicidade, que não primam exatamente pelo espírito inovador, têm obtido melhores resultados para seus clientes (com intervenções nas redes de relacionamento) do que a imprensa. Mas essas ações também são pontuais e, quase sempre, vinculadas a produtos ou serviços dirigidos aos muito jovens. Essas ações se estendem também ao serviço de mensagens curtas das operadoras de telefonia móvel (o SMS), mas não se observa um bom aproveitamento das possibilidades de convergência entre a telefonia e a internet.
De certa forma, é até saudável que os agentes de comunicação dedicados à venda de produtos e serviços demorem a integrar essas ações, uma vez que a sociedade brasileira não tem discutido, paralelamente à inserção dessas tecnologias, questões importantes como a preservação da privacidade, especialmente quando se trata de crianças e adolescentes.
Jornais e revistas, que costumam navegar em águas mais claras – em termos éticos – do que a chamada mídia comercial, poderiam inaugurar um uso eficiente e discricionário desses instrumentos criados pela convergência da rede mundial de computadores com a telefonia móvel, ampliando o alcance de seu noticiário e estabelecendo um relacionamento mais próximo com a sociedade.
Acontece que, como toda inovação aplicada sobre um contexto conservador, esses recursos acabam sendo utilizados apenas para consolidar o viés imposto ao noticiário, e não como janela para perscrutar o opiniário público. A criação de blogs ligados a jornais e revistas obedece a um rigoroso critério de seleção de profissionais, cujas abordagens não oferecem risco aos pressupostos estabelecidos nas escolhas editoriais da redação.
O que se vê, quase sempre, é apenas a ampliação de manifestações de teor semelhante e viés homogêneo, ou a rotina do bate-boca entre figurinhas conhecidas em muitos desses fóruns. Não é raro perceber-se que muitos dos participantes nem mesmo chegaram a ler o material jornalístico que deu origem aos debates.
Intervenção qualificada
A impressão que fica, para o observador, é de que a imprensa tenta usar os novos meios digitais, mas toma cuidados para não expor demasiadamente seu flanco. Quer ampliar a participação dos leitores, torná-los freqüentadores habituais de seus sites e blogs, mas ao mesmo tempo tomando o cuidado de manter o controle sobre a opinião que se irá formar a partir dessa interação.
Os bate-bocas costumeiros provavelmente ajudam a expandir o conhecimento da marca do jornal ou revista ao qual o blogueiro está vinculado, dando-lhe uma tintura de modernidade, mas o nível das intervenções não parece estimular o público mais jovem – predominante na internet – a buscar no veículo impresso mais informações ou argumentos para qualificar suas intervenções. Em suma, o modelo não contribui para qualificar o leitor. Apenas dá a impressão de que a mídia tradicional está ‘por dentro’.
Seria apropriado afirmar: ‘bacana, mora?’. Mas ineficiente.
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Jornalista