A imprensa brasileira se enganou totalmente com a economia nacional nos últimos anos. Unanimemente, jornalistas e analistas econômicos destacaram – e continuam destacando – que os juros e os impostos altos, frutos dos ajustes heterodoxos impostos à economia pelo FMI e credores – com aval da Casa Branca, na monitoração neoliberal do Consenso de Washington – foram, afinal, os responsáveis principais pelo baixo crescimento das atividades produtivas.
Nada disso. A revisão metodológica de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), no período 2000-2005, e o acréscimo de novas informações econômicas, na composição da contabilidade nacional mensurada pelo IBGE, mostraram o inverso do que se afirmou à exaustão.
Justamente nesse período de cinco anos, quando os juros e os impostos se mantiveram em ascensão – ou relativamente estabilizados em patamares elevadíssimos pelos padrões internacionais – ocorreu o oposto. A economia, em vez de recuar diante do dinheiro caro ofertado à produção e ao consumo, e igualmente diante da carga tributária, que toma 40% das atividades produtivas em geral, ao contrário, avançou espetacularmente. Entre 2000 e 2005 o PIB acelerou 11% a mais, de acordo com os novos cálculos do IBGE, apesar de, simultaneamente, registrar redução de 19% para 16% nos investimentos, o que também é surpreendente.
Se assim foi, se assim é, se houve crescimento enquanto juro e o imposto estavam em elevação, combatê-los tenazmente, como fez a mídia, representa contra-senso total. Foi justamente durante a vigência de juros e impostos mais altos do mundo que, especialmente na primeira etapa da Era Lula, as atividades produtivas avançaram, mediante o consumo mais acelerado impulsionado pelos gastos do governo.
Mudar de argumento
A economia brasileira desmente os teóricos. Ela cresce quando os custos de produção sobem – teoricamente, deixando-a com baixo poder de competitividade global, especialmente em relação aos bens duráveis – e os investimentos diminuem.
Isso, por sua vez, ocorre em meio ao fenômeno inverso registrado na economia mundial: no período considerado pelo IBGE, o mercado internacional viveu a era do juro baixo e da carga tributária flexível adotada em diversos países, como na China, por exemplo, para atrair investidores e puxar a demanda global, algo que está efetivamente acontecendo.
Não resta outra coisa senão mudar o argumento: juros e impostos elevados são, sim, promotores do crescimento econômico, pelo menos no Brasil entre 2000 e 2005. Para que reduzi-los, como bradam todos – especialmente, empresários e trabalhadores, temerosos em relação aos lucros e aos empregos – se se mantiverem elevados poderão representar, como demonstrou a revisão metodológica do IBGE, mais crescimento, e não redução do nível geral de atividades?
Em se tratando de Brasil…
Viva o juro alto! Viva o imposto escorchante! São, afinal, a salvação da lavoura, para apresentar, não o avanço efetivo da produção, mas dos números da produção. Dessa forma, como num passe de mágica, a carga tributária global, que estava alta, diminui; o ajuste fiscal que se esperava para os próximos três anos, milagrosamente é antecipado e a dívida governamental, maior temor do mercado financeiro internacional, recua em relação ao PIB. Nada mais animador para o governo de coalizão, embalado pela nova metodologia ibegeana.
Sensacional. Resta alertar-se com Hegel que destaca ser a matemática uma ciência que se constrói no exterior da realidade, não podendo, portanto, determiná-la. Mas, em se tratando de Brasil… É a jabuticaba brasileira mais uma vez dando o ar de sua graça brejeira.
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Repórter do Jornal da Comunidade, Brasília, DF