Bastou Bento 16 renunciar para que o nome de Ilze Scamparini pipocasse nas redes sociais. Além de notícias sobre o pontífice, os telespectadores esperavam que a correspondente da TV Globo, há mais de uma década setorista dos assuntos do papa, aparecesse na tela diante do Vaticano com sua fala mansa para dizer o que acontecia por lá. Entretanto, em vez de estar se dedicando ao assunto da Igreja, a jornalista se divertia no profano carnaval do Rio quando a confusão começou. Ilze soube da novidade por telefone e embarcou de volta para a Itália.
Em conversa com o Estado por e-mail, a correspondente conta que suspeitava da desistência de Joseph Ratzinger e fala das dificuldades diárias dos repórteres no Vaticano. Sem saber se quer voltar para o Brasil, ela diz que cobre vários assuntos além da Praça de São Pedro.
“Fiz amizades para minha história pessoal e profissional”
Como soube da renúncia?
Ilze Scamparini – Fazia tempo que eu não passava o carnaval no Brasil. Passei a noite de domingo no sambódromo e dormi duas ou três horas até ser acordada, pelo telefone, com a novidade. O impacto da notícia foi enorme! Fiz as malas correndo, escrevi uma matéria sobre o papa para o Jornal Nacional e embarquei para Roma.
Já imaginava que Joseph Ratzinger poderia desistir do cargo?
I.S. – Ele já tinha se mostrado favorável à renúncia, assim como Paulo VI. Mas, tomar a decisão é outra questão. Houve muito desmentido na época e, provavelmente, Bento 16 foi pressionado a ficar. O fato é que pouquíssimos sabiam da decisão, o que tornou a notícia ainda mais espetacular.
Assim que a renúncia do papa foi divulgada, seu nome foi um dos mais citados nas redes sociais.
I.S. – Não vi nada. Fico feliz e acho natural que as pessoas se acostumem comigo na TV.
Por estar há tanto tempo na cobertura do Vaticano, já fez amizade com as pessoas de lá?
I.S. – Fiz amizades importantes para minha história pessoal e profissional. Quando cheguei a Roma, procurei os mais experientes, que já tinham acompanhado alguns papas, e aprendi muito.
“Possuo raízes muito fortes na Itália e no Brasil”
Qual a maior dificuldade de nesse tipo de cobertura?
I.S. – O segredo é a segurança extrema ao redor do pontífice, que foi introduzida após o atentado a João Paulo 2º, em 1981. Muita gente fala em off, mas poucos assumem uma opinião. Os vaticanistas, além de acompanhar os eventos, são alimentados por indiscrições de quem está lá dentro. Há muita especulação.
Há quanto tempo cobre os assuntos do Vaticano?
I.S. – Desde outubro de 1999.
De maneira geral, acham que você só fala sobre o Vaticano?
I.S. – Também cubro política italiana, economia europeia, dramas sociais, comportamento, arqueologia, arte, gastronomia.
Por que você virou correspondente na Itália?
I.S. – Viver na Itália era um desejo antigo. Depois de uma temporada nos Estados Unidos, apresentei à direção da TV Globo um projeto de correspondência para a Itália com um certo pioneirismo. Funcionou.
Tem vontade de ser correspondente em outro país ou voltar para Brasil?
I.S. – Gosto de viajar para outros países, mas possuo raízes muito fortes na Itália e no Brasil, dois países que adoro.
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[João Fernando, do Estado de S.Paulo]