O ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 deu início a uma época de medo e paranoia do povo americano em relação ao inimigo, onde todos os esforços foram realizados na busca pelo líder da al-Qaida, Osama bin Laden. O ataque às torres do World Trade Center foi uma ação inédita. A superpotência nunca tinha sofrido um golpe dessa magnitude em seu ego. O mundo ficou atônito com a queda das “Torres Gêmeas”. Ao contrário do que aconteceu em Pearl Harbor, durante a II Grande Guerra, o atentado no coração de Manhattan foi acompanhando por todo planeta em tempo real e a paranoia antiterror que vinha sendo constantemente alimentada pelo então presidente George W. Bush cresceu de forma estratosférica. Os mulçumanos começaram a ser vistos no mundo como um perigo iminente à segurança nacional na Europa e nos EUA.
O filme A hora mais escura mostra uma agente da CIA que está por trás dos principais esforços em capturar Bin Laden. Por ter descoberto os principais interlocutores do líder da al-Qaida, participa da operação que levou militares americanos a invadirem o território paquistanês com o objetivo de capturar e matar o terrorista mais procurado do planeta. Trata-se de uma obra de extremamente qualificada e o maior mérito da diretora do filme, Kathryn Bigelow, é conseguir criar um ambiente muito natural. Não são apenas os cenários e as situações realistas que mais chamam a atenção durante o filme, e sim como os fatos se desenrolam de forma natural. Muitos disseram que a produção seria uma apologia à tortura. O fato de mostrar que não chegariam à captura sem a tortura e de contar com personagens que defendem a prática com todas as letras, não significa que o filme defenda a prática. A ideia foi trazer à tona a realidade e mostrar que a tortura foi uma das marcas do governo de George W. Bush. A própria produção mostra claramente que com a chegada de Barack Obama à presidência o panorama muda, para desgosto de algumas pessoas dentro da CIA.
Os “38 minutos mais intensos da vida”
Em dezembro, quando os senadores norte-americanos Dianne Feinstein, John McCain e Carl Levin enviaram uma carta ao estúdio de cinema Sony Pictures começou a derrocada da produção na corrida pelo prêmio de melhor filme oferecido anualmente pela academia. Os senadores chamaram o filme de “grosseiramente impreciso e enganoso” por sugerir que a tortura ajudou os Estados Unidos a rastrear o líder da al-Qaida e disseram que o filme “tem o potencial de influenciar a opinião pública norte-americana de uma forma perturbadora e enganosa”. Três semanas mais tarde, Bigelow foi omitida da lista de indicados ao Oscar de melhor diretor, escolhida por cerca de 5.800 profissionais da indústria do cinema que compõem a Academia.
O medo sempre foi um componente importante para o sucesso de ações terroristas, só que a tática antiterror, ao invés de debelá-lo, acaba alimentando esse sentimento, provocando uma sensação de que todos estão desprotegidos. Tais argumentos geralmente são baseados em fatos infundados e na maioria das vezes sem confirmação. O escritor britânico Adam Curtis sugere que a al-Quaida nem chegou a existir, exceto como uma ideia vaga e difusa a respeito de uma limpeza espiritual de um mundo corrompido a partir de atos radicais e religiosos. O governo norte americano, baseado em leis antimáfia, resolveu processar Bin Laden à revelia para assim enquadrar e criar o inimigo a ser batido aos olhos da opinião pública.
A morte de Osama bin Laden se tornou um espetáculo mundial desde o anúncio feito pelo presidente Barack Obama, até as declarações da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton dizendo que aqueles foram os “38 minutos mais intensos da vida”, como se estivesse saindo de uma sessão de cinema.
Quando as armas falam, as leis silenciam
Os EUA, com seu estilo truculento agindo como uma espécie de “exército do mundo” em nome da liberdade, da democracia e do american way of life, provocaram a guerra da Coréia, do Vietnã, a invasão do Panamá, a guerra do Golfo Pérsico e a guerra do Afeganistão. Invadiram o Iraque com a desculpa de que iriam libertar o mundo do terrorista Osama bin Laden, assim como Saddam Hussein, que já fora seu aliado em outras épocas e na guerra contra o Irã. Alegando que o país confeccionava armas químicas para realização de um ataque em massa – tais armamentos nunca tiveram a sua existência comprovada –, museus e relíquias consideradas patrimônio da humanidade foram destruídos durante a ocupação militar no Iraque, fora a chacina comandada pelas tropas de seu exército que deixaram 10 mil civis mortos e 20 mil feridos e as humilhações impostas pelos soldados norte-americanos à população iraquiana. Imagens que correram o mundo através da grande rede mundial de computadores, pessoas que não tinham relação alguma com a guerra em questão, assim como os mortos no atentado de 11 de setembro, mas a memória seletiva do nosso vizinho de cima impede a lembrança de tais fatos. Quem irá prestar homenagem a esses inocentes mortos de forma brutal? Será que essas pessoas não deveriam ser lembradas? Não existem vencedores nessa guerra contra o terrorismo. Os Estados Unidos e al-Qaida são irmãos unidos por uma mesma causa: o fundamentalismo.
A guerra sempre foi um artifício usado para movimentar a economia do país, além de aumentar a popularidade do presidente na corrida para reeleição e ajuda na manutenção do conhecido status quo. O combate ao terror colabora com a proliferação do comércio mundial de armas leves, essas sim, as verdadeiras armas de destruição em massa, que matam mais de meio milhão de pessoas por ano. Soldados e cidadãos comemoraram efusivamente a morte de Osama bin Laden nas ruas do país. Esse é o tipo de manifestação que só aumenta a tensão e a animosidade contra os imigrantes que buscam melhores condições de vida. Hoje o mundo teme que a forte economia norte-americana entre em colapso, possibilidade que tem provocado a instabilidade no mercado financeiro mundial. Constata-se que a cada dia que as cidades estão mais fortificadas, a população se esconde em condomínios fechados, o medo global afeta diretamente as populações locais. Esse é um dos resultados de uma globalização excludente. Atos terroristas ao redor do mundo, atentados como o 11 de setembro, a explosão da estação ferroviária em Madri e o atentado em Oslo, capital da Noruega, são alimentados por práticas que salientam as diferenças sociais, religiosas e étnicas. A sabedoria antiga já nos dizia quando as armas falam, as leis silenciam.
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[Thiago Corrêa Silva é estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ]