Em quantas redes sociais você já se inscreveu? Será que precisa de mais alguma? Para muitos empreendedores na área de tecnologia, a aposta é que sim: ainda há espaço para novos formatos de redes sociais e você provavelmente vai terminar 2013 viciado em alguma novidade. Mas qual?
Um dos que disputam o posto de novidade do ano é o aplicativo Vine, o primeiro destaque de 2013 na área das redes sociais. Lançado pelo Twitter em janeiro, o Vine surgiu para ser um tipo de Instagram em movimento. Disponível ainda apenas para aparelhos com o sistema da Apple (iOS), o aplicativo permite criar vídeos curtos, com pouco mais de seis segundos, exibidos em uma linha do tempo.
Em poucas semanas, as avaliações sobre o Vine passaram de “app entediante” a “aposta de inovação” na cobertura de desfiles de moda e outros temas. Mat Honan, jornalista da Wired, escreveu que só falta um evento como a Primavera Árabe para o app mostrar ao mundo a que veio.
Enquanto isso não acontece, exemplos de ideias criativas aparecem a toda hora no Vine: criar uma história em quadrinhos, pequenas animações e até esquetes de humor. O aplicativo já tem uma lista de celebridades entre os usuários, como o cantor Paul McCartney e o diretor Kevin Smith. Mas ele não ficou imune a problemas. Logo depois de ser lançado, teve de aumentar a restrição etária para maiores de 17 anos por conta de imagens pornográficas que, por uma falha, apareceram no conteúdo indicado pelos editores.
Ainda não há um número oficial de usuários, mas o Vine se destaca na App Store. Na quinta-feira passada, ele assumiu a liderança entre os aplicativos sociais gratuitos mais baixados.
Outras línguas
Outra novidade das redes sociais é o Pheed, que na última semana de fevereiro liderou a categoria de aplicativos sociais gratuitos nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. Diferentemente do Vine, ele pode ser acessado também no desktop e incorpora muitas das funções do Twitter e do Facebook.
No Pheed, por exemplo, é possível compartilhar fotos, vídeos, áudios, mensagens de voz e fazer transmissões ao vivo em diversas outras redes. Quer twittar ou mandar algo no Facebook? Ele faz isso sem sair da página principal. “Combinamos todos os nossos recursos favoritos de outras plataformas sociais dentro de um aplicativo fácil e simples”, diz Chrysta Olson, diretora de comunicação do Pheed.
Desde novembro, quando foi lançado, o Pheed alcançou mais de um milhão de usuários – o Twitter levou dois anos para atingir o mesmo número e o Facebook, dez meses. Qual o segredo? “Eles fazem acordos com artistas e celebridades influentes”, diz o colunista da revista Forbes, Ilya Pozin, que acompanha a empresa. A diretora do Pheed afirma que o app foi lançado com o apoio de 200 famosos, como Miley Cyrus, Paris Hilton e David Guetta.
Nem todas as novas redes querem bater de frente com Facebook e Twitter. O Thumb, por exemplo, busca seu próprio espaço. Trata-se de uma rede social para aparelhos móveis focada na troca de avaliações entre usuários. Você posta uma imagem e começa a receber “joinhas” positivos ou negativos.
“Você consegue um feedback (resposta) de 50 a 100 pessoas em minutos”, diz Hadley Harris, diretora de desenvolvimento de negócios do Thumb (que significa “dedão” em português). Da versão beta de 2010 até hoje, são mais de 1,2 milhão de usuários opinando uns para os outros. No ano passado, foram dadas 1 bilhão de respostas. Harris diz que o engajamento é comparável ao do Facebook. Usuários gastam em média quatro horas por mês no app. A executiva vê o Twitter e o Facebook como parceiros para aumentar sua popularidade.
A situação das redes sociais é tão diversa hoje que permite o surgimento de um serviço como o Medium, rede criada por Evan Williams, cofundador do Blogger e do Twitter. Nela, não é qualquer um que entra. Você precisa ser convidado por um dos curadores. Isso é feito, sem restrição, ao ler os artigos desses curadores sobre assuntos que vão de seriados ao Google Glass, os óculos digitais do Google. “Nossa filosofia é ‘qualidade gera qualidade’, do design do site até quem convidamos para escrever ali”, diz Luke Esterkyn, relações públicas do Medium.
Nenhuma das novas redes parece preocupada com dinheiro no momento. A diretora do Thumb afirma que o único objetivo é melhorar a experiência do usuário. Já o Pheed permite que as pessoas lucrem com seus canais, cobrando assinaturas para receber conteúdo exclusivo.
O Brasil ainda é um plano distante para todos. Hadley diz que há alguns usuários brasileiros no Thumb e ela espera traduzir o app para português no futuro.
O Medium deve abrir espaço para outras línguas, incluindo português, assim que tiver infraestrutura para mais usuários. Interessado em participar?
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Poucos amigos
Não há dúvida: são os usuários que fazem uma rede social funcionar. Por exemplo, um estudo do Instituto Federal Suíço de Tecnologia para detectar as razões do declínio de redes sociais concluiu que usuários com muitos amigos podem ajudar a salvar um serviço porque criam elos fortes e evitam evasão em série das pessoas.
No Vine, por enquanto, você pode até encontrar amigos, mas muitas contas estarão paradas. Sinais do começo. O consultor de comunicação em mídias digitais Alexandre Inagaki, por exemplo, entrou só para garantir seu nome. “Não fiz isso quando o Instagram foi lançado, e o resultado é que oinstagram.com/inagaki ficou nas mãos de algum parente desconhecido no Japão”, diz.
Inagaki considera que profissionais da área digital são impelidos a criar um perfil em uma rede nova com potencial logo que ela é lançada.Não por compulsão, mas por necessidade profissional. “Se você é um blogueiro ou webcelebridade, acaba precisando criar perfil a fim de garantir que o domínio seja seu”, diz. Sem postar nada ele já tem 188 seguidores no Vine.
Por enquanto, quem chama atenção no Vine são usuários estrangeiros. A jornalista Elizabeth Holmes, do Wall Street Journal, deu o maior exemplo do que pode ser uma cobertura jornalística com o Vine durante a semana de moda em Nova York. Ela publicou resumos dos desfiles e publicou vídeos dos bastidores.
“Para cobrir desfiles, o Vine é ótimo porque você pode saber o que está acontecendo nesse segundo em Paris da sua casa, com movimento e a cor real, ouvindo a trilha como se estivesse lá”, diz Jana Rosa, ex-VJ da MTV que já trabalhou na cobertura de eventos de moda e é entusiasta do Vine. “Obriguei todos os meus amigos a terem também.”
Outra jornalista, Dawn Siff fez seu currículo por meio do Vine. Utilizando recurso visuais ela faz um resumo do seu perfil: “Máquina de ideias Dawn Sift. Jornalista. Estrategista. Gerente. Jedi em Deadline”. “Vim do rádio e me orgulho do fato que sei explicar uma história complicada em 60 segundos. O limite imposto pelo app abre mais possibilidades criativas”, diz a jornalista, que admite ter conseguido bons contatos com a ideia.
A ideia mais absurda veio da produtora Oscilloscope Laboratories, que utilizou o Vine para reproduzir na íntegra o filme It’s A Disaster, de 88 minutos. Antes do lançamento, Bruce Farnsworth, representante da produtora, afirmou que ali estava o futuro da distribuição de filmes. Porém com imagens péssimas, áudio ruim e uma bronca pelo excesso de postagens, o plano fracassou. No dia seguinte, a Oscilloscope assumiu a falha. “Fizemos isso por diversão e publicidade, e funcionou nesse aspecto. Não acho que gostaria de assistir a um filme em trechos de 6 segundos”, afirma Todd Berger, diretor de It’s A Disaster.
No Pheed a situação é ainda mais solitária no momento. Mas o skatista e blogueiro Sidney Arakaki gostou disso. “Decidi que seria um lugar perfeito para começar a praticar meu inglês, porque apesar de ter seguidores de outros países no Instagram, Twitter, Facebook, não gosto de escrever sem ser em português, acho muito brega”, diz. Arakaki migrou para o Pheed acompanhando o êxodo de muitos usuários que abandonaram o Instagram depois de o app anunciar novos termos de uso polêmicos. (V.F.)
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Vinicius Felix, do Estado de S.Paulo