Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

TV atrai mais que estádio

O último desafio da mídia esportiva é encontrar motivos para a fraca bilheteria do futebol brasileiro (os campeonatos europeus estão “bombando”, em termos de público). E os eurocêntricos já acharam a resposta: o nível fraco das competições disputadas aqui. Como toda solução sem complexidade, o argumento sucumbe aos fatos: como o Flamengo, que vinha jogando bem, numa boa fase, não conseguiu levar uma multidão ao Engenhão na semifinal contra o Botafogo?

É que a resposta deve ser buscada em especificidades múltiplas nacionais e exige, além do abandono ao deslumbramento com o futebol europeu, talvez alguma leitura, no caso a coluna de Ugo Giorgetti, no Estadão de 3/3/13, onde ele conta como desistiu de ir ao estádio depois de refletir sobre os inconvenientes que enfrentaria para chegar até lá: trânsito, falta de segurança, de estacionamento, flanelinhas.

E Giorgetti é classe média. Para o peão há a distância do estádio, (coisa que se acentuou com a explosão das metrópoles) e o preço dos ingressos. Para os que não concebem futebol sem uma cervejinha, há a lei seca. E, algo que não se via no passado, qualquer boteco de esquina hoje tem TV a cabo com HD e pacote do campeonato. O sujeito vê de graça, com os amigos, com banheiro ali pertinho, já que os estádios brasileiros tratam muito mal o torcedor nesse quesito também.

O favorito está jogando mal

Se ainda assim o asceta decidir ir ao jogo, há a compra dos ingressos. Cancelei minha participação no sócio-torcedor porque não consigo acessos pela internet em jogos importantes do meu time. Mas, depois de enfrentar fila no guichê, a atendente me diz que para pagar meia-entrada para meu namorado com mais de 60 anos não basta sua identidade; preciso apresentar cópia autenticada da certidão de casamento. Os idosos têm de ir eles próprios enfrentar as filas.

Portanto, são muitas as razões que afastam o torcedor dos estádios brasileiros. Resumi-la à má qualidade do espetáculo assemelha-se a outro simplismo muito comum a comentaristas esportivos, que é o de, quando um time grande está perdendo de um pequeno, dizer que o favorito é que está jogando mal sem ver os méritos do adversário.

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Silvia Chiabai é jornalista