Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Quando o jornalista é notícia

A prisão do jornalista Roberto Cabrini, da TV Record, por tráfico de drogas, deve ser discutida com seriedade, distanciamento e responsabilidade. Em primeiro lugar, convém levar em consideração que a acusação de tráfico de drogas decorreu da negativa do jornalista em admitir que é usuário. Já que não é usuário, tem que ser obrigatoriamente traficante?


Se um policial à paisana é pego em flagrante com papelotes de cocaína não pode alegar que estaria tentando infiltrar-se no sistema de distribuição da droga? A informação prestada pela Rede Record de que seu funcionário trabalhava numa reportagem não é suficiente para garantir ao profissional o benefício da dúvida? E a informação da ex-namorada do jornalista garantindo que ele consumia drogas não invalida a tese de narcotráfico?


É evidente que a mídia não pode escamotear a informação de que o jornalista foi preso e as circunstâncias em que o fato ocorreu, mas é preciso escapar tanto do viés solidário como das disputas comerciais que envolvem as principais redes de TV.


O bem e o mal


A imprensa brasileira está passando por um dos seus momentos mais difíceis. Por um lado temos certas esferas governamentais incomodadas com a pressão da mídia no caso dos cartões corporativos, além disso certas parcelas da opinião pública estão indignadas com a cobertura do assassinato de Isabella Nardoni, que consideram preconceituosa e sensacionalista. Basta ver os resultados da urn@ eletrônica do site do Observatório da Imprensa com a cifra recorde de quase 16 mil votantes em pouco mais de 24 horas.


E, como se não bastasse, temos conhecidos jornalistas engalfinhados nos respectivos blogs e através da justiça em questões pessoais e morais que acabam inevitavelmente respingando na instituição.


Jornalistas não podem colocar-se acima do bem e do mal. Mas jornalistas não têm o direito de ignorar que podem estar sendo usados para desacreditar o jornalismo.