Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo investigativo é redundância?

Todo jornalismo é – ou deveria ser – investigativo em sua essência, pois a pesquisa e a checagem de dados e fatos são elementos básicos para a formulação de qualquer notícia. Portanto, jornalismo investigativo seria quase uma redundância. Mesmo assim, criou-se o hábito de que esse jornalismo seria mais específico, voltado para a divulgação de informações que envolvam atividades ilícitas e que, normalmente, necessitam de mais tempo para checagem de fatos e maior sigilo, podendo até gerar riscos para a vida do jornalista.

Exemplos de jornalismo investigativo há aos montes e costumam envolver figuras públicas ou o dinheiro público. Diversos jornalistas brasileiros publicaram livros e reportagens independentes denunciando atos criminosos ou omissão de governos, autoridades públicas e partidos. O jornalista Caco Barcellos é um exemplo. Em seu livro Rota 66 – A história da Polícia que mata, publicado em 1992, denunciou as atitudes arbitrárias de policiais militares que desrespeitavam os direitos humanos e o verdadeiro ofício de proteger a sociedade ao assassinarem civis que supostamente estavam envolvidos em crimes; suspeitas que nunca chegaram a ser comprovadas.

No jornalismo investigativo político, temos os exemplos de Reinaldo Azevedo, com os livros O País dos Petralhas e o País dos Petralhas II, em que critica, por meio de textos publicados em importantes veículos brasileiros, os anos de governo petista, dando significação para o termo “Petralhas”: “Neologismo criado da fusão das palavras ‘petista’ e ‘metralha’ – dos ‘Irmãos Metralha’, sempre de olho na caixa forte do Tio Patinhas. Um petralha defende o ‘roubo social’.”

Realidade e credibilidade

Em contrapartida, Amaury Ribeiro Junior publicou o livro A Privataria Tucana, em que denuncia, com a demonstração de documentos, os negócios ilegais feitos pelo governo do PSDB na época das privatizações. Há ainda o jornalismo investigativo informativo, como no caso da extensa reportagem – transformada em livro – do jornalista Carlos Amorim. Em Comando Vermelho – A história do crime organizado, o jornalista relata como e quando surgiram as principais facções criminosas do Brasil.

Considerando a relevância e o aprofundamento dessas informações é que esses temas se transformaram em reportagens e são considerados jornalismo investigativo, pois exigiu-se que os autores fossem muito além da pesquisa básica para compor um lide. Foi necessário que fizessem um trabalho de detetive para chegar até fontes confiáveis e que detinham informações e documentos imprescindíveis para comprovar a veracidade dos fatos relatados.

Enfim, todo jornalismo precisa ser investigativo, seja para uma notícia, um artigo, um documentário, um livro ou uma reportagem. Porque é a investigação que possibilita ao jornalista contar um fato o mais próximo possível da realidade, dando credibilidade ao seu trabalho. Ainda assim, pelo seu cunho mais perigoso, o jornalismo investigativo costuma fazer referência a assuntos mais polêmicos, públicos e que contestem a realidade incutida por determinada pessoa ou organização, mas que não correspondem a ações lícitas.

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Andreza Galiego é jornalista, Andradina, SP