O controle acionário da emissora Globovisión, a única ferrenha crítica do governo da Venezuela em sinal aberto, será vendido a um empresário do ramo de seguros tido como próximo dos chavistas depois das eleições presidenciais de 14 de abril, anunciou ontem (11/3) o canal. A família Zuloaga, que detém a maioria das ações da TV, divulgou carta na qual disse que a emissora é “inviável jurídica e financeiramente” com o atual comando. Os donos do veículo se queixam das ameaças de fechamento e do acosso legal do governo – que impõe dificuldades burocráticas e multas – e da impossibilidade de receber dólares preferenciais estatais para comprar equipamentos.
No texto, Guillermo Zuloaga disse que o canal “fez tudo em seu poder” para ajudar a eleição de um opositor nas eleições presidenciais de 2012, sem sucesso, “o que nos pôs em uma situação muito precária como canal e como empresa”. Ante a perspectiva de não conseguir renovar a concessão do canal, que expira em dois anos, a decisão foi vender. Zuloaga está foragido da Venezuela desde 2010, acusado de “usura genérica” por supostamente especular na venda de carros.
Outros 20% da TV, pertencentes a Nelson Mezerhane, estão congelados, em litígio nas mãos do governo também desde 2010, quando o governo liquidou banco pertencente ao empresário. O autor da oferta de compra é Juan Domingo Cordero, um dos donos da empresa La Vitalícia e tido como próximo do governo e do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
Excluída do sistema de TV digital
Segundo fontes do mercado, é improvável que a seguradora tenha obtido licenças para o negócio a partir de 2008, quando iniciou sua expansão, sem ter boas relações com a cúpula chavista. Apesar de não haver ligação explícita entre o empresário e o chavismo, a futura venda do canal foi comemorada pelo ex-ministro de Comunicações e atual integrante da campanha de Nicolás Maduro, Andrés Izarra, que disse que a TV será roja-rojita (vermelha-vermelhinha), em referência à cor usada pelo governo.
A Globovisión é uma das quatro emissoras privadas que apoiaram o frustrado golpe contra Chávez, em 2002. A emissora, com cerca de 500 trabalhadores, funciona praticamente como porta-voz da oposição. No ano passado, a TV pagou multa de US$ 2 milhões determinada pelo órgão regulador Conatel por supostamente ter feito “apologia ao crime” e incitado “à agitação civil” na cobertura de um motim num presídio.
Em janeiro, o Conatel abriu novo processo porque o canal teria feito spots com os artigos da Constituição sobre a posse presidencial. No mês passado, a emissora protestou por ser excluída do novo sistema de TV digital aberta do país.
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Flávia Marreiro, da Folha de S.Paulo em Caracas