Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A importância do vazamento de informações

Em um mundo sem vazamentos de informações confidenciais do governo à imprensa, não saberíamos sobre o abuso de prisioneiros em Abu Ghraib, o tratamento brutal dado pelo governo dos EUA a pessoas suspeitas de terrorismo ou ainda sobre o programa de ataques com aviões não tripulados (os chamados “drones”) que está se expandindo na administração do presidente Barack Obama.

Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, no entanto, pessoas que vazam informações secretas vêm se tornando “espécies em extinção”, afirma a ombudsman do New York Times, Margaret Sullivan. Alguns, como o ex-funcionário da CIA John Kiriakou, foram presos. O soldado Bradley Manning é julgado por “ajudar o inimigo” por conta da divulgação de documentos sigilosos ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e pode ser condenado à prisão perpétua.

Por diversas vezes, o governo Obama mencionou preocupações com a segurança nacional e expressou sua intenção de continuar condenando quem vaza informações. “O governo tem segredos legítimos que devem permanecer secretos”, afirmou o ex-diretor da CIA Michael V. Hayden.

Espionagem e apuração

Os que vazam informações sofrem, cada vez mais, punições severas. O ato federal de espionagem, aprovado em 1917, foi aplicado apenas três vezes em seus primeiros 92 anos para condenar funcionários do governo por vazamentos à imprensa. O governo Obama, em seu primeiro mandato, usou-o por seis vezes para ir atrás de quem divulgou dados secretos.

Jornalistas tendem a ver a situação de modo diferente – não apenas porque querem “vender jornais”. Eles enxergam os vazamentos como ferramenta essencial para a apuração de suas matérias. Declan Walsh, repórter que escreveu muitas reportagens com base em dados do WikiLeaks para o Guardian antes de ir para o NYTimes, classifica os vazamentos como uma “força vital sem filtros do jornalismo investigativo”.

Leitores do NYTimes têm pontos de vista opostos sobre o tema. Alguns acreditam que o jornal deve descobrir e divulgar tudo o que puder sobre atividades clandestinas do governo. Outros, por sua vez, acham que o diário não deve determinar o que é de melhor interesse da segurança nacional ou passar adiante informações confidenciais que são obtidas ilegalmente.

Autocensura e intimidação

Para Scott Shane, que cobre temas de segurança nacional para o NYTimes, a mensagem que o governo está passando com as perseguições vem sendo ouvida. “Há, definitivamente, um efeito de autocensura. Funcionários que poderiam discutir temas sensíveis negarão um pedido para fornecer mais informações”, opina. Michael Leiter, ex-diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA, confirma: “As condenações têm a intenção de ter um efeito de intimidação”.

Para o escritor, colunista e ex-repórter do NYTimes Chris Hedges, instituições poderosas como o jornalão nova-iorquino devem ser mais duras e dar mais detalhes da cobertura de condenações por vazamentos, defendendo-os em editoriais. Como lembra a ombudsman, o jornal já solicitou à corte material relacionado aos programas de drones e outros temas, além de ter escrito editoriais defendendo os direitos da imprensa.

“O jornal precisa continuar pressionando em todas essas frentes e com mais zelo no impresso do que tem feito. Se as organizações midiáticas não defendem os interesses da imprensa, quem o fará?”, questiona Margaret. “Nesse meio tempo, o efeito de autocensura continua. Isso é ruim para jornalistas, mas ainda pior para os cidadãos, que não devem ficar sem saber o que o governo está fazendo”.