No começo do mês, uma polêmica envolvendo a indústria jornalística americana sofreu uma reviravolta. Tudo começou quando Nate Thayer, jornalista americano de 52 anos que escreve para o site NK News (North Korea News), recebeu um email de uma editora da revista The Atlantic que havia lido um artigo dele e queria saber se poderia publicar uma versão menor. Thayer perguntou quanto ganharia pelo texto e, um pouco surpresa, a editora informou que não costumavam pagar por republicações, mas que seu artigo receberia uma boa exposição.
Ironicamente, há quase meia década, Thayer havia recebido uma proposta de US$ 125 mil ao ano (em torno de R$ 247 mil) para trabalhar na Atlantic. Diante da atual proposta, ele respondeu que não precisava de exposição, mas sim de dinheiro. Mesmo por uma matéria original, a revista só pagaria US$ 100 (menos de R$ 200). O jornalista então reproduziu a troca de emails na web, o que gerou um alvoroço na comunidade jornalística. Mas o rebuliço foi ainda maior quando se descobriu, após uma análise cuidadosa do escritor Jeremy Duns, que a tal matéria de Thayer teria sido plagiada de um artigo escrito por Mark Zeigler, em 2006, no San Diego Union-Tribune.
Segundo o editor-chefe do NK News, Tad Farrell, Thayer recebeu a tarefa de escrever sobre o papel do basquete na diplomacia na Coreia do Norte, às vésperas da visita do ex-jogador Dennis Rodman ao país. O jornalista escreveu um artigo de cinco mil palavras que foi editado e postado no site. De acordo com Farrell, Thayer não viu o artigo depois de editado e, no processo, foram cometidos vários erros de referências – que foram corrigidos posteriormente. Isso foi observado por Duns, que alegou que os links ao artigo doUnion-Tribune só foram acrescentados mais tarde. “Não foi um artigo plagiado”, defendeu Farrell. Thayer também afirmou não ter cometido plágio. “Estou revoltado. Vou defender até a morte minha reportagem e referências”, disse.
Impacto da internet
A internet transformou o jornalismo – e poucos na indústria jornalística estão satisfeitos. Antes, consumidores de notícias tinham um número limitado de fontes jornalísticas que, por sua vez, tinham um público fiel. No tempo das vacas gordas, os editores podiam enviar jornalistas em viagens pelo mundo em busca de boas reportagens, com despesas pagas e um salário decente.
Hoje, os consumidores têm muitas opções. Eles ainda contam com as fontes jornalísticas com que estavam acostumados, mas têm inúmeras outras. Jovens jornalistas desesperados por um lugar no mercado aceitam escrever de graça. Mesmo em áreas de conflito, é possível ver jovens ricos com uma câmera, viajando por conta própria, esperando construir uma reputação.
Piora de condições
A condição é ruim não apenas para os jornalistas, mas também para advogados, diretores publicitários, entre outros, que trabalham mais e ganham menos do que antes. A média salarial para trabalhadores homens nos EUA, com ajuste da inflação, é menor hoje do que em 1973. Antes, os sindicatos eram mais fortes e garantiam direitos como pagamento de hora extra ou horário obrigatório para almoço.
A polêmica na blogosfera em torno do caso envolvendo Thayer mostra que jornalistas freelancers estão assustados com o futuro. Eles têm motivo para tal, pois é difícil ver como os profissionais de imprensa poderão voltar a ganhar um salário desejável.