A primeira entrevista do novo presidente da China, Xi Jinping, foi concedida a um jornal de cada país dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Meticulosamente planejada, ela precede a reunião dos Brics em Durban, África do Sul, no fim do mês. O novo líder, que assumiu no dia 14, é da primeira geração nascida pós 1949, ano da fundação da República Popular da China, e tem pela frente pelo menos dois grandes desafios – retomar as reformas econômicas que foram adiadas pelo período de vigoroso crescimento e combater a corrupção. Ele promete “rejuvenescer” a China, tornando-a um país mais moderno e mais aberto ao mundo.
Na entrevista estiveram presentes jornalistas da agência russa Itar-Tass, da South Africa Esat TV, da Press Trust of India, da Xinhua News Agency, da China, e do Valor Econômico. As diversas perguntas foram enviadas com antecedência e pelo menos uma – sobre a Copa do Mundo – foi sugerida previamente por diplomatas chineses. Do conjunto, dez foram selecionadas pelo Departamento de Informação do Ministério de Assuntos Exteriores.
Na segunda-feira (18/3) os jornalistas convidados almoçaram com o diretor-geral do departamento, Qin Gang, e receberam estritas instruções. Durante a entrevista, na terça-feira pela manhã, não deveria haver surpresas, não seriam permitidas perguntas fora do script nem interrupções durante a resposta.
Objetivo, pragmático e confiante
A entrevista foi concedida em um dos salões do Great Hall of the People, construção que fica em frente ao memorial de Mao Tsé-tung e da Cidade Proibida, na praça da Paz Celestial. No mesmo local foi realizado o 12º Congresso Nacional do Povo, que escolheu o novo gabinete na semana passada, concluindo longo processo de renovação das lideranças chinesas. Obedecendo à coreografia esquematizada pelos organizadores da entrevista, os jornalistas ensaiaram a entrada no salão, a fila dos cumprimentos ao presidente e a posição de cada um na foto que seria tirada do grupo com o líder chinês. Era preciso que tudo saísse rigorosamente como planejado.
Jinping é tido como um homem sem rodeios. Em 2009, no México, ao rebater as críticas contra a pujança chinesa, ele teria respondido: “Alguns estrangeiros com os estômagos cheios e nada melhor para fazer se dedicam a nos apontar o dedo.” E prosseguiu: “Primeiro, a China não exporta a revolução. Segundo, não exporta fome e pobreza. Terceiro, não incomoda vocês. O que mais se pode dizer?”
Em um discurso para autoridades do governo, ao combater a corrupção, disse: “Freiem suas esposas, filhos, familiares, amigos e empregados e prometam não usar o poder para benefício próprio.” Sua esposa, a cantora Peng Liyuan, o define como “austero, trabalhador e com os pés no chão”. Na entrevista, ele se mostrou objetivo, pragmático e confiante.
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Claudia Safatle, do Valor Econômico, em Pequim